Capítulo XXX

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Quase não cheguei ao portão. Parecia que o veneno estava mais e mais forte conforme eu andava até a saída, sem parar de corroer o metal no meu braço esquerdo. Corri até o outro lado e pulei, com o portão fechando logo em seguida e ficando sem cor. E tive duas surpresas: primeiro, o metal parou de corroer. O veneno foi perdendo a cor até desaparecer (eu realmente não tinha entendido isso quando aconteceu) e senti as escamas de dragão preenchendo de novo o meu braço. A segunda... Bem, minha mãe estava lá, segurando Katron pela orelha pontuda dele.

De início pensei que era outra deusa interessada por mim. Ela tinha uma túnica estilo grego, na qual era preso nos pulsos, entrelaça no cotovelo e seguia junto até os ombros, depois cobria o resto de seu corpo como um vestido longo, em sua cintura uma corrente com o símbolo do infinito bem no meio. Ela tinha um cabelo liso e longo, negro com pontos brilhantes que pareciam estrelas e seus olhos eram verde-mar, possuía uma face de mulher entre 20 a 30 anos. Em seu ombro direito, estava uma ombreira que se parecia com  uma cabeça de dragão, com o rabo indo até o outro ombro pelas costas e voltando pela frente, a ponta na boca dele. Logo, me lembrei de um dos símbolos do Ragnarök: a Serpente Do Mundo, Jörmungandr. Seus pés estavam dentro de botas de metal com asas, como se fossem sapatos alados mas com asas de morcego na esquerda e asas de ossos na direita.

Ela puxou um pouco mais o Katron pela orelha.

- E eu disse: "não vai lá que EU quero conversar com ele" mas não. Tinha que o intrometido se meter no meio da situação.

Quase tive pena do Katron, se não tivesse me lembrado do nariz empinado que ele me deu antes de nos conhecermos.

- Acalme-se, senhorita Mugen. Eu não queria desafiar sua autoridade e... AÍ! PARA DE PUXAR AS MINHA ORELHAS! O SEU FILHO TÁ ALÍ!

Então ela fixou os olhos em mim. Sem largar o outro, ela me inspecionou de cima abaixo, fez uma cara a lá Sherlock Holmes e abriu um sorriso materno.

- Ora ora. Parece que meu menino cresceu... Ou será que eu deveria dizer ascendeu?

Ela finalmente largou a orelha dele e me deu um abraço forte. Antes de tudo, eu a afastei.

- Como que você tem a audácia de aparecer somente agora?

- Não fique assim comigo. Foi por conta do que eu sou que não pude cuidar de você. Você entende, não?

- Não, porque eu tive que viver sem saber que era a minha mãe durante 17 anos da vida. Eu simplesmente fiquei sem saber quando não encontrei nem fotos ou sua lápide no cemitério.

Ela se soltou de mim e se afastou.

- Não. Eu nunca estive longe de você. Seu gosto pessoal por mitologias, pelo infinito... Isso era algo que herdas-te de mim. Afinal o infinito é desconhecido e você pode conseguir através desses...

- E EU LÁ QUERO SABER DE PODER, MULHER? EU QUERO SABER SE REALMENTE EU TINHA UMA MÃE QUE LIGAVA PRA MIM!

Eu não deveria ter me levantado a voz. Ela fica com a boca aberta e depois me deu um bofetão, me jogando até o outro lado do salão. Me levantei e esfreguei meu rosto sem entender oque aconteceu. Escutei ela respirando fundo e vi ela abrindo os olhos.

- Não fale assim com sua mãe. Eu finalmente tive tempo para ver oque você está aprontando e é assim que me recebe?

Me pus de pé e fixei meu olhar nela.

- Você sabe do que eu estou dizendo. Será que não percebe o quanto eu sofri até agora?

- Você andou matando muitas das criações da Ningena simplesmente porque sim. Ou estou errada?

- Não. Não está errada.

- Não está errada quem?

- Não está errada, mãe.

Ela se virou para mim, aliviando sua expressão e tocando meu rosto.

- Eu sei oque tens passado mas tenho que te advertir: tome cuidado com os outros que vem do seu mundo, porque eles vão tentar mudar sua mente. Oque estou tentando dizer é que sua decisão eu não mudarei. Se irá matar humanos e extingui-los, vá em frente, cumpra com que acha certo e arque com as consequências. Porém, ao menos agora escute oque sua mãe tem a dizer para o filho que não o vê desde o nascimento.

Ela me deu um abraço e sussurrou no meu ouvido.

- Continue em frente e fique mais forte. Há um presente depois para eu te dar.

Ela se afastou e foi na direção de Katron, pegando em sua orelha.

- Agora tenho que por alguém na jaula de novo. Depois Gaido virá aqui para te ajudar. Minha benção para você, meu filho.

Ela ficou me olhando na expectativa. Abaixei a cabeça e levantei de novo, com raiva na voz.

- Obrigado pela benção, mãe infinito.

Ela desapareceu sorrindo para dentro do buraco negro, me deixando para trás perto do portão da terra.

Me torno o rei rôbo em outro mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora