Capítulo IV

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— Eu não acredito que devolveu minha pena pra ele — Aiko choramingava jogada no sofá.

— Correção: a pena que você roubou — Harumi falou se sentando ao lado da amiga.

— Não! Eu não roubei e outra, ele nem iria notar.

— Claro, Aiko — Disse a platinada revirando os olhos — Vou fingir que acredito.

E então, tirando a preguiça de seu corpo, ambas as mulheres foram até a cozinha, mas quando pararam para pensar no que deveriam cozinhar, se renderam a praticidade do miojo. Enquanto o macarrão ficava pronto, conversaram mais um pouco sobre o incidente e, mesmo que Harumi tivesse certeza que Aiko iria perguntar, ainda ficou envergonhada.

Como diria a sua amiga que Hawks havia a levado para sua cafeteria e somente os dois ficaram conversando por várias horas sem nem mesmo se preocupar e ver o tempo passar. Ela até tentou inventar uma desculpa, mas da mesma forma que Harumi viu Aiko nascer e crescer, a mais nova se desenvolveu sempre na presença da platinada.

— Deveria ter pego aquele vinho que você deixa guardado — Aiko soltou com um sorriso malandro.

— Vinho... — Harumi falou quase gaguejando com sua face avermelhada.

— Aquele que você bebe quando vai pra cama com algum cara.

— AIKO!

— O que foi? Pra que ficar envergonhada? Temos idade para tocar nesse assunto muito bem — Ela disse com seu travesso sorriso — Se bem que você é MUITO mais velha que eu.

— Poucos anos, poucos anos.

— De aparência, isso sim — Ambas deram uma leve risada — Não é errado querer convidar ele para algo mais...

— Não tenho interesse no tipo dele — Harumi falou.

— Claro, claro! Homens sérios e de preferência com 30 anos — A mais nova revirou os olhos — Sabia que com os caras que você fica, parece até mesmo que eles são uns pedófilos... Verdade, eles nem mesmo sabem sua verdadeira idade! Harumi, como você é cruel.

Durante a noite passada, Harumi não conseguiu pregar os olhos enquanto se perdia nos pensamentos daquele horizonte iluminado pela lua que ela pode ver quando Hawks lhe deu um pequeno passeio no céu noturno de Tokyo, no entanto, o que realmente lhe custava a abandonar de pensar eram nos olhos ferozes e dourados daquele homem enquanto aumentava a velocidade de sua descida para alcançar a platinada.

E essa noite acordada lhe custou muito, não foi difícil sair da cama, ela sequer conseguiu deitar por muito tempo, mas agora, estava nervosa enquanto abria sua pequena cafeteria. Será que seus clientes iriam notar o seu cansaço? Pensava que deveria ter pedido ajuda para Aiko, e se ela acabasse dormindo em pé? Céus! Ela estava uma pilha de nervos.

E antes que qualquer cliente entrasse, preparou o copo de café mais forte que conseguia e bebeu em poucos goles, sem açúcar nem nada, precisava de energia para aquele dia. Quando terminou, lavou seu copo e esperou mais um pouco antes de abrir as portas e abaixar as cadeiras as limpando para receber a clientela mais fiel que aparecia aquele horário.

Primeiro, chegou uma senhorinha que sempre vinha nesse horário, pedia a mesma coisa e passava algum tempo conversando com Harumi dizendo o quanto a platinada a lembrava de sua pequena e doce neta que fazia faculdade no exterior, a mais velha sempre sorria com as falas da pequena senhora, mas em sua mente sempre passava o quanto era engraçado suas diferenças de idade, mesmo o corpo da platinada nunca ter envelhecido.

— Eu entendo, deve ser triste não conseguir falar com frequência com sua neta — Harumi disse com seu doce sorriso, oferecendo alguns biscoitos caseiros e amanteigados como um agrado — Ela está nos Estados Unidos, não é mesmo? Logo ela vai voltar para te visitar, confie em mim.

— Você é uma criança adorável, Harumi — A senhora falou levando uma das bolachas de chocolate para a boca dando um pequeno suspiro de satisfação assim que começou a mastigar o doce — Maravilhosas como sempre, quando vai me passar a receita?

— É segredo, senhora Watanabe — Com uma leve piscadinha, deu uma risada com a face da doce senhora.

Harumi havia se virado para pegar mais algumas xícaras quando o pequeno sino tocou, com seu melhor sorriso, se virou para observar quem passava pela porta de vidro adentrando o caloroso estabelecimento. Com sua rotineira blusa de aviador em um tom bege e pelos brancos e asas vermelhas carmesim, o elegante herói sorriu vendo a platinada o encarando com as sobrancelhas erguidas.

— Bom dia, Harumi-chan — Ele falou dando uma puxada no final do nome da mulher se divertindo com o bufar feminino que não foi contido — Como você está?

— Muito bem, senhor Hawks — A platinada zombou vendo se o atingia quando enfatizou em sua fala a palavra senhor — Como passou a noite?

— Um pouco fria sem você ao meu lado — Não se permitiu abalar, dando alguns passos em direção ao balcão com o maior sorriso sacana que tinha.

— Deveria se acostumar com a realidade — A platinada zombou, o olhando de cima a baixo com um falso desprezo, mas logo sorriu — Como posso ajudar?

— Um cappuccino para viagem — Respondeu puxando o banco de madeira se sentando próxima a Harumi.

— Mais alguma coisa? — A mulher questionou antes de entrar em seu mundo da lua.

— Os pães são feitos por você?

— Sim, eu preparo a massa todos os dias — Ela disse com um pequeno sorriso de orgulho.

— Qual me recomenda? — Hawks falou sem tirar os olhos dela por sequer um segundo.

— Eu adoro os biscoitos feitos pela senhorita Harumi — A pequena senhora que observava o casal conversando disse, bebericando seu café. Em seus pensamentos, se lembrava de sua juventude e somente queria dar uma mãozinha ao casal de pombinhos.

— Então vou querer provar esses biscoitos — Hawks disse com um leve sorriso antes de voltar seu olhar para Harumi.

— Entendido — E anotando mentalmente o único pedido naquele momento, começou preparar o café com todo seu ritual cotidiano.

O cheiro de café recém coado foi tomando conta do cheiro ambiente, não demorou muito para que mais um cliente entrasse antes que ela sequer terminasse o pedido do herói número dois, então, com todo seu costume de ritmos agitados, o atendeu com o melhor sorriso e a maior simpatia ainda manuseando, sem sequer encarar por um segundo, a leiteira com água fervente.

— Haru, eu vou querer um pão de melão e moccha — O jovem de cabelos dourados disse sorrindo para a mulher que respondeu com a mesma intensidade, os olhos levemente fechados com a covinha marcada.

Hawks ficou em silêncio, suas asas se contraíram para mais perto de si enquanto, com a mão apoiando o queixo, encarou de canto de olho o homem em suas costas também encarar Harumi trabalhar. O loiro sequer notou quando foi posto sobre a sua frente o copo americano com uma tampa escura e mais um pequeno, no entanto farto, pacote de biscoitos de chocolate.

— Sua conta deu... — E antes que ela pudesse falar, o homem alado deixou sobre seu balcão uma quantia exata de dinheiro tomando o copo e o saquinho de biscoitos com agilidade.

Ele deu alguns passos calmos escutando a voz feminina agradecer e lhe desejando um ótimo dia quando parou, com a mão segurando o metal da maçaneta da porta, se virando para a encarar uma última vez.

— Muito obrigada, Harumi-chan — Disse com um sorrisinho de canto — Tenha um ótimo dia e te vejo mais tarde. 

Doce como Café { Hawks }Onde histórias criam vida. Descubra agora