Capítulo XV

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Depois daquela tarde turbulenta, Harumi voltou para sua cafeteria afim de resetar seu corpo, não queria correr o risco de chegar ensopada de sangue em um lugar que naquela hora do dia estaria lotado de pessoas. Quando abriu a porta dos fundos do estabelecimento, se arrastou até os degraus da escada subindo vagarosamente até o segundo andar.

Abriu a porta do banheiro a trancando, tirou suas roupas antes de entrar na banheira contendo um grito de dor e fechando o ralo, abriu a torneira deixando que a água entre aos poucos se acumulando na gelada banheira. Sua perna doía muito, o líquido quente tomando a cor do sangue manchando cada parte do corpo pálido, esperou que a água chegasse até o fim limite que a banheira suportava antes de fechar a torneira e começar a respirar profundamente.

Pensou se deixaria ao destino, ela logo iria desmaiar ou pela dor ou por falta de sangue, talvez até mesmo pelo cansaço, mas quanto tempo isso iria demorar? Minutos? Horas? A única coisa que ela conseguia pensar era que aquilo era uma irritação infernal.

— Hum... — Olhei para o celular verificando o horário, ainda era cedo, Aiko não chegaria tão cedo. Ela poderia passar o tempo assistindo algo? Não seria estranho isso? Chegou a dar uma leve risada com a ideia, mas apenas entrou em um aplicativo de músicas deixando uma playlist qualquer tocar no aleatório — Não adianta eu mergulhar, meu corpo vai lutar pela sobrevivência...

Suspirou, tentando entrar no ritmo da música com seus batuques, a dor era forte, mas não o suficiente, por que nunca era o suficiente? Suspirou pensativa encarando o teto enquanto jogava os cabelos para trás, afundando aos poucos naquela água suja.




Quando Harumi acordou, seu corpo estava leve, a água gelada e o banheiro aos poucos escuro pela falta da luz do sol. Haviam se passado horas até que ela finalmente resetasse, não sabia o que a matou, havia sido vencida pelo cansaço e dormiu tranquilamente e somente acordou com os formigamentos de sua regeneração.

Tirou o tampão do ralo deixando a banheira esvaziar e ligando o chuveiro, começou tomar um banho calmo e sem pressa, tirando qualquer crosta de sangue seco de seu corpo e cabelo. Se sacando, colocou as roupas reservas do trabalho que estavam limpas e guardadas dentro do armário e desceu a passos lentos para o primeiro andar notando uma silhueta estranha parada na frente da porta.

Imaginou que poderia ser algo ruim e se aproximou cautelosamente para averiguar de quem se tratava, seus olhos se focaram nas grandes orelhas de coelho, depois na pele negra em um corpo extremamente musculoso. Era Mirko, a heroína de número 5.

— Desculpe o incômodo — A mulher falou quando Harumi abriu a porta abrindo passagem para que ela pudesse passar — Mas eu tenho de fazer um pedido.

— Tudo bem. O que seria?

— Eu não sei muito bem — A jovem heroína possuía um longo sorriso enquanto passava os dedos nos fios de seu cabelo — Eu tenho um colega de trabalho que se machucou durante a luta mais cedo e ele se negou a todo custo de receber os primeiros socorros.

— Nossa, que pena — Harumi disse de forma gentil, mesmo sabendo muito bem de quem Mirko estava se referindo — Tem algo que eu possa ajudar?

— Café. Ele disse que adorava o café daqui e que não iria ficar internado por esse motivo — Suspirou — Eu falei que ia pegar um café na máquina do hospital e ele insistiu que somente poderia ser o daqui.

— Certo, qual seria o pedido? Ele te contou o que desejava? Precisa do cardápio?

— Hum... Ele até chegou a dizer, mas não me lembro ao certo — Mirko ficou pensativa — Pode ser qualquer coisa.

Harumi soltou uma leve risada indo até o balcão, pensava quando aquele lugar começou virar ponto de herói. E com esses pensamentos, pegou tudo que usava normalmente para fazer o cappuccino que entregava a Hawks coando o café aos poucos, escolhendo um copo de café para entregar ao rapaz e quando notou a distração da mulher coelha, puxou delicadamente o adesivo de papel que rodeava o copo de viagem colocando um pequeno papel que carregava um rápido recado ali, antes de selar a embalagem e depositar o conteúdo dentro.

Pegou um pouco de chocolate, retirando uma bela quantidade de raspas depositando em cima do liquido antes de fechar o copo e entregar a mulher que o analisou com cuidado antes de levar a mão ao bolso para retirar o dinheiro.

— Vou colocar na conta dele, pode ficar tranquila — Harumi disse sorridente vendo as sobrancelhas da jovem se arquear de maneira questionadora — Ele já é um cliente fiel meu.

— Sério? Ele vem com frequência?

— Sim, já que o seu ponto de ronda é aqui perto — A platinada respondeu como se não fosse nada, o que deixou a heróina Mirko surpresa.

— Não é — Ela respondeu de maneira simples, até um pouco surpresa — Moça, aqui não é perto de onde ele faz as rondas.

— Oh, não?

— Não, não chega nem perto...

— Ele disse que era próximo — Riu constrangida.

— Então era você que ele estava se encontrando esse tempo todo? — A fala da mais nova foi tão repentina que fez Harumi engasgar com o ar — Faz sentido de ele estar querendo te ver haha.

— Espera? Não, é um completo engano — Balançando as mãos em frente ao rosto, começou a falar sem pensar muito — Ele gosta da minha melhor amiga, ela sempre vem aqui na cafeteria no final da tarde. Eles se falam muito, é bem fofo inclusive...

— E onde a azarada está?

— Na faculdade — Sorriu observando a mulher pegar uma foto dobrada em seu bolso.

— Desculpa a pergunta, mas você reconhece essa moto? — A foto era de Harumi e sua moto, havia sido tirada durante o acidente — Estamos procurando essa moça, ela está ferida, mas não deu entrada em nenhum hospital da região.

— Não conheço — A platinada respondeu séria.

— Tem certeza? — Ela confirmou balançando a cabeça — Certo, não vou roubar mais o seu tempo. Muito obrigada...

— Harumi — A imortal respondeu sorridente.

— Certo, Harumi — A mulher coelha foi até a porta esperando que fosse aberta para poder sair do estabelecimento.

Quando não pode mais ver a silhueta feminina no escuro da noite, levou as mãos até o rosto controlando a ansiedade enquanto seus lábios murmuravam a mesma palavra ainda incrédula.

— DROGA! 

Doce como Café { Hawks }Onde histórias criam vida. Descubra agora