Capítulo LVII

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O pensamento sobre o que ocorre depois da morte para muitos é quase um tabu, revestida de lendas e achismos, muitos colocavam nela um ponto de recomeço em outro corpo, ou um fim eterno sobre o paraíso... Mas o que é a morte de fato? Algo belo que indica o fim de uma longa jornada? Algo triste como a partida de um amante para nunca mais voltar. A morte é uma definição rígida? O que ocorre após a morte?

Harumi não saberia responder, não por nunca ter morrido, mas por sempre voltar do mundo dos mortos para o seu corpo. Para a mulher a morte era algo como um mar profundo, um borbulhar passageiro ou apenas um piscar demorado de seus olhos.

A mulher entrou em um ciclo, sua mente não possuía muito tempo para pensar antes que o nervosismo primitivo e a ansiedade em busca de ar a fizessem lutar novamente. Seus dedos vezes ficava em carne viva, mas se recuperava no ciclo de regeneração, o medo era o pior sentimento junto da dor que morrer por afogamento causava.

Seu peito ardia novamente quando seus olhos se abriram, os fios antes platinados agora possuíam algumas boas mechas separadas com sua cor original: um preto tão profundo. A mulher foi até o vidro o tocando antes de desferir alguns socos, seu corpo perdia a energia enquanto novamente o ciclo começava.

Ela perdeu completamente a noção do tempo — algo que já não estava muito claro para a mulher que ficou trancafiada no galpão por uma quantidade de dias que não podia dizer ter passado. 

Em algum momento os sons abafados de máquinas se tornaram lutas e em um novo ciclo, luz. Harumi novamente morreu, no entanto, quando dessa vez seu corpo reiniciou, ar adentrou seus pulmões lhe fazendo tossir e arfar. Desesperada, as mãos foram até a garganta enquanto os ruídos não tinham mais aquela camada de água os cobrindo.

Alguém havia tirado ela de seu inferno, mas quem havia feito isso? A luz entrava no lugar revelando que a antiga construção tecnológica não passava de escombros e poeira. Não apenas a luz do sol adentrava aquele espaço deixado, mas sirenes se anunciava ao longe indicando a chegada de socorristas no lugar.

Seus olhos estavam pesados de exaustão, seu peito aos poucos se acostumava com o simples ato de respirar que lhe foi tirado as forças. Olhando ainda desorientada, Harumi pode ver fios brancos que pertenciam a um cabelo e longas orelhas.

— Mirko? — A imortal chamou de maneira baixa, o corpo caído e parcialmente soterrado não parecia dar sinal de vida —Mirko? Mirko...

Sua voz chamava, mas era abafada pela exaustão. O seu corpo parecia se render sem tentar lutar para o sono. Olhos pesados piscaram não mais que duas vezes para finalmente se fechar.











Harumi acordou horas depois, o sol se punha no horizonte aos poucos enquanto toda sua mente vagarosamente absorvia os acontecimentos. Os beps mecânicos indicavam que ela estava no hospital, um lugar seguro depois de tantos dias sendo torturada, mas o horizonte que aquelas janelas refletiam eram mais do que caóticas.

Alguns lugares tinham uma extensa cortina de fumaça indicando incêndios, os sons de passos rápidos e rodinhas de carrinhos vindo do outro lado da porta mostravam o fluxo anormal de pacientes.

Mas ela estava bem e poderia agora se preocupar com o estado de saúde de sua querida Aiko, ou de sua tão preciosa amiga. Hawks deveria estar ocupado naquele momento, a cidade parecia inundada pelo caos e não seria ela a atrapalhar o herói.

Mas seu peito doía, ele sentia sua falta e parecia que seu corpo tremulo clamava por seu calor e toque. Harumi tentou se sentar na cama, o corpo quase sem forças parecia de mais doses de ar para fazer esses simples movimentos, porém, a imortal finalmente conseguiu encostar suas costas contra o encosto metalico suspirando de maneira vitoriosa.

Doce como Café { Hawks }Onde histórias criam vida. Descubra agora