Capítulo LIV

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— Não precisava ter feito isso — Harumi disse quando seus pés tocaram o caminho de pedras em volta da U.A. Os olhos radiantes depois de ter visto a visão mais bela do nascer do sol de anos — Mas agradeço, Keigo.

— Tudo pela minha princesa — Brincou, arrumando as longas asas as deixando rente ao corpo — Eu queria ter certeza de que chegaria bem.

— Não só estou bem como tive as melhores visões — Zombou com um sorriso travesso — Obrigada.

Ela se aproximou dando um selar rápido nos lábios do herói, que não se contentando, a puxou para um beijo mais profundo, apaixonado e necessitado, de quem jamais soltaria a pessoa em seus braços se não tivesse algo tão importante o chamando. Se afastando, seu corpo implorou pelo calor de seu parceiro, o frio daquela manhã tocando a pele.

— Te vejo mais tarde? —Sugeriu enquanto arrumava os fios platinadas da imortal.

— Claro — Harumi sorriu com doçura — Vamos nos ver mais tarde.







Ao abrir sua porta, sentiu certa nostalgia, foram poucos dias longe de casa, mas aquele era seu lar e nele continha suas lembranças, vida, passado, tudo. Entrou no apartamento indo diretamente para seu quarto onde vasculhou suas coisas em busca de um papel e envelope.

Com a caneta em mãos e o coração borbulhando em magoas e medo, escreveu uma breve despedida, não sabendo ao certo o que iria acontecer, no entanto, sabia que de alguma forma voltaria para os braços de sua família e de seu amado. A carta era para Keigo, informando onde encontraria a chave para o segundo quarto e sua permissão de adentrar o cômodo.

No entanto, enquanto deixava a chave feita de um metal que desapareceria no instante que um calor acima do convencional tocasse o ambiente, escutou um bater em sua porta atraindo não apenas sua atenção, mas disparando o seu coração imortal.

— Harumi — Era uma voz conhecida, feminina e que jamais ousaria perder de suas lembranças — Sou eu, Aiko.

Ela andou até a porta a destrancando recebendo um rápido e forte abraço da mais nova. Os fios bagunçados, a face pálida, os olhos vermelhos de tanto chorar enquanto soluços eram audíveis para ambas as mulheres ali.

— Minha pequena, o que aconteceu? — A platinada resolveu perguntar, mesmo que soubesse a cruel resposta.

— Não vai — Disse entre soluços, seus dedos apertando as vestes da mais velha com força, amarrotando o tecido e quase arranhando a pele no processo — Não vai... Fica conosco... Eu sei que você vai desaparecer se sair daqui...

— Eu não vou — Harumi sorriu distribuindo carícias no topo da cabeça feminina — Sabe muito bem que eu vou voltar, sempre.

— Não... Eles vão machucar você... Eles... —A visão que teve a atormentou — Vão te usar.

— Aiko, preciso te fazer um pedido — Disse entregando o envelope em mãos — Sabe que vou voltar para vocês.

Quando Aiko pegou a pequena carta, tremula, seus olhos vibrando com o acúmulo de lágrimas, fungou sentindo que nada iria convencer aquela mulher. Então, levando a mão até o bolso de sua calça, puxou a chave da moto de Harumi.

— Aqui — Ela entregou em mãos, como se fosse uma eterna separação — Eu sei que você estava procurando-a.

— Obrigada, pequena — Harumi aproximou seus lábios da testa feminina dando um beijinho ali — Não esqueça de entregar para ele, certo?

— Tome cuidado...

— Eu vou — Harumi disse sorrindo, a última coisa que a ruiva pode ver antes dela sumir de seu campo de visão.





O vento era o que a mulher ansiava, aquele chicotear que o vento lhe oferecia a cada acelerar irresponsável que a imortal dava em sua moto fazendo fechadas curvas como se não fossem nada. Ela não se importava, aquilo parecia aliviar a dor em seu coração, as lágrimas sendo varridas no segundo que deslizavam por sua bochecha.

O motor roncou uma última vez antes de ser desligado, respirando profundamente, sentiu o ar preencher seus pulmões, no entanto, sentia falta deste, a ansiedade a corroendo e lhe roubando o ultimo fio de sanidade enquanto seus olhos encaravam a construção caída pelas chamas de fogo, placas de perigo e alertando sua destruição em um prazo que logo chegaria atingindo seu estômago com um soco.

Harumi se encostou em sua moto, as mãos no banco apoiando seu peso enquanto observava o que um dia pertenceu a seu passado, a juntou com aquele homem pássaro, destruído sem que pudesse fazer nada. Diferente de seu corpo, os outros, os objetos, tudo se quebrava e nunca mais voltava, essa era a tristeza que o mundo carregava, essa era a infeliz maldição ou benção que Harumi não compartilhava.

— Você parece bem triste —Uma voz disse, mas a platinada não moveu seu rosto para o observar. De alguma forma, parecia até mesmo que o dono simpatizava com sua dor — Era sua loja?

— É... Era sim — Ela sorriu levemente, suspirando enquanto criava coragem para virar seu rosto, tendo o pressentimento cruel amargando sua garganta — Posso ajudar?

— Pode sim — Um sorriso demoníaco foi a última coisa antes da completa escuridão.

Doce como Café { Hawks }Onde histórias criam vida. Descubra agora