Capítulo XXXVIII

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Quando Harumi abriu as gavetas onde estavam suas joias, ponderou qual seria tão bela que pudesse estar junto de Keigo. Ela pensou muito no rosto masculino, a feição serena, divertida e até mesmo apaixonada que ele vezes deixava escapar quando a encarava trabalhar na cafeteria, mas em algum momento sua mente foi além, se lembrando do que não deveria: sua face de excitação.

Harumi se recordou da vermelhidão em suas bochechas, dos olhos se contraindo, a pupila dilatada e o dourado de sua íris tão sedenta por desejo, como aqueles lábios trilharam um caminho por seu corpo de forma luxuriosa, tudo fez sua espinha gelar e um rubor se instalar em sua pálida face. Ele iria visitar ela novamente naquela noite, após alguns dias em uma missão importante que infelizmente não pode dar mais detalhes.

A verdade era que a imortal estava ansiosa, havia sido convidada para a casa do herói a qual nunca tinha ido visitar antes. Seria uma bagunça? Um lugar luxuoso? Uma decoração minimalista? Keigo parecia ser do tipo de homem que não se importava com coisas banais, pelo estilo de vida sempre tão ocupada e dedicando tanto tempo livre na presença da platinada, era mais fácil imaginar um lugar que não tivesse nenhuma cara de "lar".

Quando seus olhos escuros encontraram em uma vistoria um brinco, parou, analisando sua aparência: feita por uma corrente de prata que ligava o primeiro furo até o Helix com um pequeno pingente circular e por fim um acabamento onde do primeiro furo caia a extensão da corrente com espaço para um pingente o qual era a única coisa que faltava e o mais importante do presente.

Após a sua captura, Harumi somente fugiu quando explodiu toda a base onde estava presa. Seu corpo destruído no processo se regenerou em outro país, ela nunca esteve lá e sofreu meses para que pudesse entrar em contato com a família de Aiko. Quando conseguiu, fez mais alguns testes com seu corpo e obteve um surpreendente resultado.

Ela não pode morrer, mesmo que todo seu corpo seja evaporado, sendo condenada a renascer em qualquer lugar, sem a certeza de onde seria, no entanto, caso uma pequena mecha de seu cabelo tenha escapado da destruição, Harumi vai retornar naquele ponto. E poderia ser simplificado com um pequeno amuleto dado a pessoas amadas onde uma pequena mecha de seu cabelo estaria escondida.

— Certo, e o que seria interessante como pingente para ele? — Pensou, os dedos enrolando a correntinha com cuidado, de maneira distraída — Uma pena? Seria muito... Será que ele vai gostar?

Ela se recordou do colar, do outro lado da porta, como um espião que tentava escutar o que ela estava fazendo sem sucesso. Pegou o celular, digitou alguns números e conversou com sua antiga amiga para pedir ajuda.

— Peço perdão por não poder dar detalhes, eu prometi que sairia de casa apenas com meu colar — E antes de terminar sua fala, mostrou o papel escrito "Gostaria de falar sobre o pingente do presente, a pena em meu colar pode sentir vibrações, eu explico melhor depois" — Poderia fazer para mim até de noite?

— O que você me pediu é bem rápido, consigo terminar antes das quatorze — Ela pegou a mecha do cabelo a olhando, o platinado bem cuidado preso em uma fita — Vai ser como pediu?

— Isso, sem tirar nem por.

— E como vai ser o pagamento, Riko? — A mãe de Aiko disse, um sorriso ganancioso em seus lábios — Eu gosto de receber adiantado, você sabe.

— Quando eu morrer você vai herdar tudo — Brincou levando um tapa da mais nova.

— Não é justo prometer algo assim, você não morre!

— É por isso mesmo — E suspirando, com um pequeno sorriso, continuou — Trago aquilo assim que vir buscar.

Quando o elevador parou no andar informado, Harumi se sentiu nervosa, os dedos trêmulos enquanto ponderava se deveria abrir aquela porta. Hawks passou a senha de sua fechadura eletrônica, disse que poderia ficar à vontade pois ele iria se atrasar um pouco devido a uma emergência de última hora.

A platinada até recusou, falando que esperaria antes de ir, mas ele insistiu muito durante a ligação e quando ela tomou a decisão de desobedecer, a pena em seu colar apenas começou a levitar e dar pequenas puxadas como se estivesse a obrigando fazer o caminho para a casa do herói. Agora, para ali, indecisa se deveria esperar do lado de fora ou apenas colocar a senha, a pena novamente criou vida.

— Droga, deveria parar de me dar susto com isso, Keigo! — A mulher falou levando a mão até seu peito, o coração disparado — Entendi o recado, estou abrindo, calma aí.

Aperou os números e escutou um leve bipe acompanhando o som do destrancar da porta. Girando a maçaneta, entrou, fechou a porta e tirou seus sapatos antes de dar mais alguns passos para dentro da enorme sala.

O exterior do prédio já era luxuoso demais, grandes janelas, uma estrutura moderna, tudo tão exuberante e chamativo, mas o interior e até mesmo o elevador deixaram Harumi ansiosa para que, agora, pudesse se dar conta de que a teoria de Keigo ser minimalista estar mais correta do que nunca. O apartamento era no último andar, a vista maravilhosa, as janelas imensas e sacadas amplas para facilitar seu voo, porém, mesmo que os móveis fossem de alto valor, eram poucos, separados por passos e mais passos de distância.

— É a sua cara — Ela riu — É bonito, não estou falando que você não é bom decorando e nem nada, mas cadê a personalidade forte do Hawks? Essa casa não parece ser sua.

E dando mais alguns passos se prendeu em alguns raros porta-retratos, todos não passavam da casa dos vinte anos, nenhum com um Keigo pequeno ou sequer indícios de sua família. Harumi não sabia se poderia perguntar isso ao loiro, certa vez a verdade iria aparecer, o assunto seria tocado pelo casal, mas esse seria o momento? Da mesma forma que não era o momento de contar sobre sua imensa vida de imortal, não era o de exigir explicações ao rapaz. Suspirou voltando a andar.

Tomando o sofá para si, se sentou perto do braço, encostando a cabeça na almofada fechando os olhos enquanto sentia o fraco perfume masculino que o ambiente possuía. Será que sua casa tinha o seu cheiro? Será que Hawks havia feito a mesma coisa, parar seu tempo para sentir a fragrância no ar? O que foi a primeira coisa que chamou a atenção do herói? Tantas perguntas sem resposta e poderia continuar assim, não parecia ser de fato importante.

— Desculpa a demora, aproveitei para comprar alguma coisa para comer — A voz chamou sua atenção, os olhos dourados brilhando com a visão da imortal em seu sofá — Eu fico feliz que tenha achado um lugar bonito, mas não sou muito bom com decoração.

— Eu sabia que você podia entender o que eu falava com essa pena, quase como um perseguidor — Zombou — É dessa forma que planeja me proteger?

— Para que saiba eu não escuto a todo momento o que está acontecendo ao seu redor, são em alguns poucos casos que faço questão de tentar decifrar o que está falando — Ele sorriu colocando sobre uma mesa de vidro a embalagem de papel — Mas quando vibrações suspeitas acontecerem, vou ficar sabendo e voar o mais rápido que puder para te proteger.

Harumi sorriu, um pouco envergonhada com a declaração, o coração palpitando como de uma pequena garota apaixonada enquanto segurava a caixinha de seu presente em sua mão, dentro do bolso de seu macacão.

— É alguma forma sua de dizer que se importa comigo?

— É minha forma de dizer que te amo — Keigo relevou, o sorriso tranquilo e verdadeiro em seu rosto.

— Eu também tenho uma forma de mostrar que te amo... — A platinada puxou o pequeno presente de seu bolso o abrindo para que ele pudesse ver — Eu quero te dar isso... É um brinco que... Caso meu corpo desapareça, sempre voltarei para você...

Suas mãos tremiam em nervosismo, o olhar evitava o rosto masculino tentando não surtar com sua própria fala, no entanto, quando sentiu o calor da mão masculina sobre seu queixo, o encarou segundos antes de ter seus lábios tomados por um intenso beijo. 

Doce como Café { Hawks }Onde histórias criam vida. Descubra agora