Capítulo VI

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— Harumi? — A voz masculina chamou a atenção da mulher que lavava a louça — Deixa que eu faço isso.

— Hawks, estava brincando quando disse que você não trabalhava — Sem olhar para o homem ao seu lado, disse com uma voz calma — Eu sei o quanto heróis trabalham duro.

— Seus pais são? — Perguntou calmamente, um pouco receoso com o que poderia ser a resposta.

— Não, eles também não têm poderes — Harumi sorriu calmamente, agora encarando o herói alado — A mãe da Aiko era um herói quando mais jovem.

— Entendo... E você? Você tem uma individualidade.

— Você chama aquilo de individualidade? — Ela riu um pouco — Oh droga, aquilo não chega nem perto de ser útil.

— Ao menos você não morreu graças a ela — Se lembraram da vez da facada, arrancando suspiros com motivos diferentes — O que a fez querer virar uma barista?

— Era a única coisa que eu não tentei — Gargalhou como se fosse uma brincadeira e o homem, apenas fez o mesmo — Mas falando sério, eu gosto de cozinhar.

— Harumi? — Aiko chamou apontando para o céu — Logo vai começar a chover, melhor se apressar.

— Que raiva, devia ter comprado um carro quando teve a chance — A platinada falou para a ruiva que revirou os olhos.

— Está falando isso para mim? Foi você quem comprou uma moto e quase nem usa ela.

— Anda de moto? — Hawks questionou curioso, prestando muita atenção na conversa.

— Faz um tempo, mas eu a bati e agora estou vindo trabalhar a pé.

— Qualquer dia desses poderíamos apostar uma corrida — E antes que a platinada notasse, o loiro a tirou de perto da pia tomando seu lugar. Arregaçou bem as mangas e ligou a torneira terminando de ensaboar e lavar os poucos utensílios que faltavam.

— Anda de moto? — Harumi apenas desistiu de tentar tomar das mãos masculinas as pequenas xícaras, ele era insistente demais.

— Não muito, mas as vezes... — E colocando o último item sobre a bancada, secou as mãos molhadas em sua blusa — Eu estava me referindo mesmo a essas belezuras aqui.

— Não seria muito justo, suas asas são mais velozes que uma moto — Harumi constatou recebendo um sorriso divertido de Hawks.

— Eu falei pra se apressar — Aiko chamou a atenção dos dois e olhando para as janelas, viu os pingos de chuva mancharem a visão, deslizando por todo o vidro conforme a chuva engrossava — Muito bem, agora vai ter de pedir uma carona.

— Eu posso pedir, podem ficar tranquilas.

— Você viu o noticiário ou coisa parecida? — As sobrancelhas de Harumi se arquearam vendo o loiro sorrir de canto — Sério? Você fez isso tudo de propósito?

— Queria saber onde você mora, Harumizinha — E de forma brincalhona, levantou as mãos e usou as asas para tomar altura suficiente para que a platinada não conseguisse o bater — Você deveria ser mais delicada com seus clientes fiéis.

— Fieis? É a segunda vez que vem aqui — Reclamou.

— No momento é a terceira, mas logo, logo poderá dizer que eu sou sua clientela mais fiel.

— Não quero te ver nem pintado de ouro, Hawks!

O trio estava próximo ao prédio, o taxi havia tentado se aproximar ao máximo, no entanto, com a quantidade de água que passava pelo canteiro, decidiu que seria melhor parar alguns passos antes da entrada. Os três se olharam, as mulheres não haviam trago consigo um guarda-chuva e ele nem mesmo tinha o plano de ter uma Aiko presente.

— Ficou 1200 ienes — Cobrou o homem sem tanta paciência para tudo aquilo — Quem vai pagar?

— Aqui está — Hawks falou dando o dinheiro para o homem antes que descesse do carro primeiro, ajudando Aiko a sair.

Suas asas se abriram, esticando ao máximo enquanto envolvia o topo da cabeça avermelhada com as penas, em seguida, fez o mesmo com a platinada que até tentou recusar, mas foi impedida de seguir em frente sem a proteção sobre sua cabeça. As mãos masculinas se envolveram na gola da camisa feminina obrigando Harumi seguir os passos cuidadosos dos outros dois.

— Ela esquece que pode ficar gripada mesmo tendo regeneração — Aiko disse com uma leve risada quando entraram dentro do prédio.

— Eu estou notando essa falta de atenção e cuidado que ela tem — O homem pássaro disse chacoalhando um pouco suas asas para tirar o excesso de água. Mesmo dizendo aquilo, ele foi o único que se molhou.

— Uma gripe não é nada demais — Disse de maneira rabugenta.

— Certo, certo Haru — Aiko começou — Já entendemos que sua individualidade é incrível e que não precisa se preocupar com sua vida, mas deveria aproveitar um pouco da bondade de um cavalheiro tão gentil.

— Cavalheiro — Balbuciou — Cavalheiro. Não sei aonde.

Apertou o botão do elevador, esperando que ele chegasse no térreo antes que entrassem nele apertando o botão de número 7. O som do motor funcionando era a única coisa audível, fora o tremer leve de Aiko que estava tão fria com aquelas roupas finas e curtas.

Harumi tirou a blusa de frio no mesmo instante que Hawks fez o mesmo, mas se parou quando o viu se aproximar da ruiva deixando o tecido grosso e quente sobre os delicados ombros. Ela o encarou, seus olhos brilhavam em admiração e isso deixou a platinada feliz, não iria estragar aquele momento fofo.

— Chegamos — A platinada anunciou sendo a primeira a sair, pegou as chaves de seu apartamento o abrindo para que os dois pudessem entrar primeiro.

Ela ficou quieta, apenas ligou as luzes indo em direção ao seu quarto procurando algumas coisas, seu silencio chamou a atenção da dupla que colocou suas cabeças próximas a porta bisbilhotando o que fazia. Hawks aproveitou para prestar atenção em tudo que podia no apartamento, não era cheio de mobílias e nem decoração, possuía mesmo coisas antigas, ele julgou ser relíquias de família.

Animal? Pelo silencio e falta de qualquer odor natural de um companheiro não humano, indicava que a resposta era não. Parentes? Não conseguiu ver o quarto fechado, mas parecia que também não era esse o caso. Ela vivia sozinha e recebia a visita de sua melhor amiga? Pelo visto, esse era o caso da platinada.

Depois de uma longa procura, Harumi entregou uma toalha e uma calça mais larga, no entanto, ela deixou apenas uma peça de roupa longe das mãos masculinas. Apontou para a porta que dava ao seu banheiro enquanto passava reto por ele indo em direção da cozinha.

— Vá tomar um banho, desse jeito quem vai pegar gripe é você.

— Então eu vou entrar no banheiro da Harumi, não vai ter nenhuma surpresinha, certo? — E com uma voz que beirava entre a luxuria e brincadeira, foi em direção da porta — Sua última chance, Harumi-chan.

— Entra logo, porra! — Gritou o vendo gargalhar e fechar a porta deixando as duas mulheres sozinhas — E você vai tomar um banho também, vou fazer o jantar.

— Certo, certo — Aiko falou com um leve sorriso — Mas antes de ir pro meu apartamento, me avisa caso rolar alguma coisa, não quero flagrar outra vez você transando.

— Já pedi desculpas por aquilo — Disse se lembrando de quando a ruiva a pegou em um momento intimo com um cara de trinta e poucos anos. Ela lembrava bem o quanto o homem dizia que gostava de uma garota mais nova, uma pena que os vinte anos eram com uns bons números escondidos na conta — Você entrou sem bater.

— E por isso mesmo que eu nunca mais entro usando as chaves reservas — E Aiko nem precisava se preocupar caso a platinada não respondesse suas batidas, ela não iria morrer mesmo. 

Doce como Café { Hawks }Onde histórias criam vida. Descubra agora