Doce como Café { Hawks }

Capítulo XXI

O motor rugia a cada acelerada que a imortal dava, o vento noturno sendo cortado por seu pequeno e delicado corpo enquanto as luzes vermelhas deixavam um rastro de seu trajeto veloz. Sentia os dedos se apertando enquanto o corpo se tornava um com a moto, as curvas perigosas só lhe davam mais emoção.

Quando reviu seus amigos, entendeu bem o suficiente o que sentia pelo loiro, mesmo que ainda sentisse medo de que a realidade batesse na porta de uma forma rude. Harumi tinha medo, medo de ser abandonada, medo de ser traida, medo de não ser correspondida e com esse medo, tomou as atitudes mais cruéis, as piores decisões e jamais se perdoaria por tais atos.

Mas como seria recomeçar? O que era recomeçar? Ela fez isso milhões de vezes, mas nunca envolvia recomeçar uma relação com alguém do zero, nunca envolvia corrigir os erros, aprender com eles, os aceitar. Ela só desaparecia, sumia e fugia, sua vida não foi sempre assim, afinal?

Então, quando o herói deu essa oportunidade, ela estranhou. Ele não havia pedido nada por aquilo, somente disse que tentariam ser amigos novamente e Harumi sentiu ser abalada novamente em sua vida. Ambos eram tão orgulhosos e cabeças duras em seu próprio modo.

A noite sem sono não lhe prometia nada, apenas dirigia pelas ruas pouco movimentadas devido ao horário até que pudesse sentir o sono aos poucos vir e lhe afetar, mas não imaginava que a primeira coisa que aconteceria seria a sensação de ser seguida. Harumi ainda em alta velocidade virou a moto, uma cortina de fumaça se levantou enquanto a roda deslizava pelo asfalto.

De dentro daquela cortina, pares de asas carmesim abertas saíram lentamente, o andar era sem pressa, os olhos sempre tão atrevidos em direção da platinada enquanto o sorriso zombeteiro estampava sua face. O herói jogou a cabeleira loira para trás quando puxou os óculos amarelo para cima, as asas aos poucos se encolhendo em direção do corpo.

— Sabia que era você — Hawks falou vendo os fios platinados voarem quando a imortal tirou o capacete — É a única pessoa que eu conheço que age como se fosse imortal.

— Quem sabe — Harumi disse séria, mas logo deu uma risada rápida e um sorriso caloroso — E você é o único que consegue atrapalhar as minhas corridas.

— É a primeira vez que eu faço isso — Chegando mais perto da moto, colocou a mão sobre o metal negro vendo o olhar castanho sobre si.

— Quando lutou contra o vilão — Ela o relembrou, ainda sorrindo — É um pouco estranho conversar com você depois do que aconteceu aquele dia.

— Já tivemos essa conversa, Harumi — Os olhos dourados repousaram sobre as delicadas íris castanhas — Sabe o que eu penso sobre. Deixei bem claro.

— Hawks — Ela o chamou recebendo apenas um leve som como resposta — Gosta de motos?

— Se eu for visto montado em uma moto infligindo milhares de leis, serei morto pela imprensa —Ambos riram.

— Mas e se eu me comportar direitinho? — Harumi piscou os olhos brilhantes e angelicais contendo o sorriso — Não vai ter desculpas para isso.

— Me pergunto o motivo de você ainda estar acordada — Ele mudou de assunto bruscamente, arrancando um suspiro demorado da platinada.

— Sem sono — O sorriso aos poucos morria, ele sabia que tinha mais coisa escondida e Harumi não iria revelar.

Mesmo afastados após a briga, o herói continuou verificando o paradeiro da imortal, ele não conseguia entender o motivo de sempre, mesmo sendo tão orgulhoso, fazer aquilo, mas todas as vezes em que seus olhos dourados podiam apreciar a face delicada e o sorriso tão caloroso, ele se lembrava na mesma hora. Ela se parecia com aquela mulher, o sorriso que um dia o acolheu e o salvou.