Capítulo XXX

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Aquela tarde ele passou deitado no sofá, mesmo em protesto de Harumi que se preocupava com as feridas em cicatrização. Ela o observava cochilar algumas vezes quando o que passava na televisão se tornava tedioso demais para que o entristece.

Preocupada, não tirava os olhos do celular no carregador afastado dela, era propriedade do homem e a jovem sequer tinha direito de intervir na decisão de "sumir" que ele tomou. Mas se preocupava com o pequeno garoto que mesmo se fingindo de frio, tinha feição pelo mentor.

— A senha é — Hawks começou a dizer, tirando a atenção do celular para o homem ainda se recuperando do susto. Era uma sequência de 4 dígitos, parecia até mesmo uma data. Era o aniversário dele? Harumi ponderou sobre — Mas avise apenas o Tokoyami. Se mais alguém souber do meu paradeiro pode ser perigoso.

— Para quem? Perigoso para quem?

— Você — Ele respondeu antes de fechar os olhos — Eu me importo apenas com a sua saúde.

— Idiota — Ela sussurrou notando que ele havia pego no sono novamente. A platinada seguiu o caminho até o objeto eletrônico colocando a senha e entrando no bate-papo — Tantos números....

Isso seria ciúmes? No meio de vários números possuíam alguns femininos. Ela não iria entrar, mas se tivesse o feito teria notado conversas apenas de trabalho e nada mais, a única além de Harumi que possuía uma conversa muito casual com o herói era Aiko que, em sua maioria, dizia sobre a mulher. Mas ela não entrou, respeitou e isso acabou dando um certo veneno em sua mente, era de fato insegurança.

— Tokoyami, é a Harumi —A mensagem de voz foi gravada — Eu vim avisar que Hawks está bem, mas suas asas estão só o pó... Ele vai ficar um tempo aqui e... Qualquer coisa esse é meu contato e você sabe onde me achar.

Ela mandou e ele logo visualizou colocando apenas um ok. O celular feminino vibrou, era ele a adicionando e mandando curtas mensagens que mesmo parecendo distantes e desinteressadas, ela pegou bem a preocupação do mais novo e, para o relaxar, mandou uma foto um tanto borrada dele jogado em seu sofá dormindo.

Ele está bem, parece cansado, mas logo vai estar novinho em folha.

Mas... Tokoyami, você sabe o motivo dele ter sido atacado?

Ele não me disse nada, apenas que era importante.

Espero que ele fique bem logo.

Me avise se ele der muita dor de cabeça.

Oh, ele não vai!

E se acontecer, eu guardo sonífero no armário :P

Quando a noite chegou, seus dedos folheavam um livro de forma desatenta quando Harumi escutou um leve gemido. Ela não prestaria atenção se ele significasse algo indecente, mas carregava dor em uma sequência preocupante.

A imortal se levantou as pressas indo em direção de seu quarto vendo uma cena preocupante: Hawks gemia enquanto suas mãos agarravam sua camisa com força descontando nela a sensação angustiante, ele parecia ainda adormecido, a face avermelhada que ao ter os dedos de Harumi a tocando, passou o calor de febre para eles.

— DROGA! —Harumi se desesperou. Ela raramente lidou com coisas desse tipo, sendo imortal, apenas resetava seu corpo quando esteve adoecia, os demais, eram tratados por humanos ao seu redor — Keigo, keigo acorda.

Ele gemeu em protesto, Harumi correu até a cozinha buscando um pano para o encharcar humedecendo a testa do rapaz. Quando voltou, os olhos dourados estavam abertos, seus lábios ofegantes em busca de algo que pudesse diminuir sua dor.

— Eu estou bem — Ele disse tentando tirar a preocupação da face feminina, sorrindo mesmo que tudo doesse — Pode ficar tranquila.

— Eu estou vendo o bem, deixa de ser cabeça dura um pouco, Hawks —E colocando o pano sobre o rosto, foi em busca de uma caixa de remédio — Achei, tome isso, vai ajudar.

Era um remédio convencional para febre, talvez desse uma aliviada nas sensações que a febre causava ao corpo. E buscando um copo de água, viu quando a pena em seu colar levitou e abriu espaço nas camadas de roupas femininas para se enfiar ali, tocando a pele pálida.

— KEIGO! Deixa de ser tarado! — Gritando enquanto voltava para o quarto, viu sua face um tanto mais relaxado.

— Sua temperatura é tão agradável, Harumi — Ele sussurrou verdadeiramente sem malícia enquanto os dedos de suas grandes mãos buscaram a jovem — Deita aqui comigo, por favor.

Ela acatou o pedido, o copo de água na cômoda enquanto abria espaço nas cobertas para deitar ao seu lado tendo os grandes braços masculinos tomando seu corpo para si, a serpenteando e a aproximando ainda mais, aninhando a imortal com cuidado enquanto aproveitava o alívio que a pele gelada dela causava.

— Desculpa dar trabalho —Revelou, os lábios tocando a pele pálida do pescoço feminino. Harumi apenas deu um leve sorriso, seus dedos penteando os fios loiros do herói com calma.

— Relaxa, não me importo com algo desse tipo — E com um doce cantarolar, a platinada viu a face ainda em fervor de Hawks se acalmar enquanto ele pegava no sono, seus braços ao redor dela lhe distribuindo delicados carinhos até que finalmente parou, adormecendo — Eu queria saber quem fez algo assim com você... Se eu apenas pudesse fazer ela pagar...

Quando ela sentiu que Hawks havia acalmado e aos poucos o remedio fazia efeito, se afastou com cuidado, sem pressa. Arrumou as cobertas evitando o frio da madrugada afetarem o corpo aquecido do rapaz, depositou um doce beijo em sua testa e fechou a porta o deixando em um ambiente agradável e silencioso.

Abriu a porta de seu quarto secreto, seus dedos tatearam a parede até acender a luz vendo seu cômodo se iluminar. Era lotado de prateleiras, possuía um cavalete antigo onde uma tela com algumas tintas depositadas dava a visão de um ser alado, tão doce como um anjo, olhando para frente com as íris douradas em tom ouro — Keigo Takami.

Quando ela começou a desenhar pessoas que amava? Desde quando aprendeu e recebeu sua primeira paleta de pintura, os desenhos naquela época, mais pobre de sua vida, possuíam tamanho pequeno, mas cheio de sentimentos, agora, financeiramente estável e bem escondida, as telas eram grandes e carinhosamente feitas durante horas de seu dia.

Ela olhou a tela da Aiko, da mãe dela, de sua avó, todas em sua vida a marcando com pontos de alegria em uma escuridão tão rígida. Algumas imagens, pequenos rascunhos jogados em cantos de seu cômodo favorito, tinham o horizonte de Tokyo rabiscado ao longo dos anos, uma lembrança da evolução humana.

— O mundo nunca parou por causa do passado — Harumi falou, a voz fraca, um nó formando em seu peito — Então... Qual o motivo... Deu nunca o esquecer?

Doce como Café { Hawks }Onde histórias criam vida. Descubra agora