Capítulo XIX

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As enormes asas brilhavam com o sol, cada pena com o toque avermelhada do final da tarde as banhando com fartura. Harumi suspirou, dando um grande sorriso enquanto admirava a figura em sua frente, sempre tão lindo e radiante.

— Aconteceu alguma coisa? Essa cara tristonha não combina com você — A voz masculina disse em um tom de brincadeira, um pequeno sorriso se formou na face avermelhada da imortal — Você anda muito distraída, Kieko.

— Haruki... Você me ama? — A mulher parecia como uma criança, enrolando o dedo em uma pequena mecha preta de seu cabelo.

— E a resposta não é óbvia? — Ele zombou dando um tapa no topo da cabeça feminina — Vamos, precisamos ir.

A grama alta era difícil de se locomover com aquele longo vestido, Harumi que naquela época possuía o nome de Kieko seguia seu amante em um caminho demorada em busca da cachoeira próxima da região. E o que pareciam horas de busca, finalmente acabou.

O barulho de queda d'água e da correnteza perigosa rondou seus ouvidos a alegrando. Apressou o passo, indo em direção de onde o som vinha, com tanto entusiasmo que seus pés descalços saltitavam até que as mãos puxaram o ultimo arbusto que a separava de um pequeno campo aberto onde estava a queda da caixeira.

— HARUKI! A gente chegou! — A imortal gritou, dando pequenos pulos de felicidade — Olha como está lindo hoje, a água está tão cristalina.

— Haha Keiko, você é uma criança? — A voz masculina disse, pondo uma pequena cesta onde a comida estava em uma pedra — Está bonito mesmo.

A mais velha correu até o rio deixando as vestes compridas serem aos poucos enxarcadas e arrastadas enquanto seus pés se afundavam ainda mais em direção ao centro do rio. Estava gelado, o começo do outono sempre era assim, mas a mulher não se abalou com a baixa temperatura.

— Só cuidado para não ser levada pela correnteza? — Harumi questionou jogando um pouco de água para cima.

— Não, vou deixar essa diversão para você — E foi isso que ele fez durante as poucas horas que ficaram lá.

Os longos fios pretos como a noite deslizava por seu corpo toda a vez que ela rodopiava, pulava ou jogava água como uma criança faria. Não era a primeira vez vendo uma cachoeira, mas ela amava fazer como se fosse, queria o brilho em seus olhos a cada ano que completava, a cada década que passava.

Naquela tarde especial, Harumi, ou melhor, Keiko, imaginou que seria pedida em noivado, era um sonho poder finalmente amar alguém tão intensamente sem o medo. Afinal, aquele novo mundo, cheio de pessoas com individualidades poderia ser o começo de uma vida feliz e sem o medo de ser capturada.

Keiko foi convidada naquela noite para voar com seu amado Haruki. Usou um grande vestido em um azul tão intenso e escuro que chegava ao carvão, os pontos de brilho no tecido tão vibrantes como as estrelas daquela bela noite e se o mito que as estrelas cadentes realizavam desejos, ela teria seu amado ao seu lado para sempre.

O homem pousou em sua sacada, estendendo a mão com um tranquilo sorriso a vendo se aproximar como de costume. Envolveu seus braços em volta do pescoço masculino e depositou um longo e caloroso beijo em seus lábios enquanto sentia ser envolvida e levada as alturas em longas batidas de asas.

Keiko o olhou fixamente, tomando suas iris prateadas como a coisa mais amada em toda aquela imensidão e, com paixão, deu o seu sorriso mais radiante e caloroso o vendo corresponder com um de canto sútil e sarcástico.

— Eu te amo muito, Haruki — Keiko disse sentindo dentro de seu corpo mil borboletas batendo as asas no ritmo de seu coração — Eu te amo tanto...

Doce como Café { Hawks }Onde histórias criam vida. Descubra agora