Capítulo VII

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A blusa de frio era em um tom amarelado, não tinha qualquer desenho, tinha uma gola alta e parecia um pouco menor que o corpo do homem que tomava banho em seu banheiro. Pegou uma tesoura na gaveta de sua cozinha e colocando a blusa sobre a mesa, analisou bem antes de começar a cortar a blusa no formato das asas.

Chegou até mesmo a aumentar os dois buracos com medo que não passasse na hora que ele fosse vestir, e quando finalmente teve certeza que estava correto o corte, foi preparar um chá para a dupla que conseguia facilmente a tirar do sério.

Não era tão boa assim com o uso de ervas, se lembrava pouco do que havia estudado uma época de sua vida, era antes ou depois de ter dormido por 100 anos? Nem se lembrava mais, no entanto, procurou na internet rapidamente alguma coisa que pudesse ajudar a relaxar o corpo e encontrou a camomila como uma das respostas.

Aqueceu a água e deixou algumas colheres de camomila dentro da água borbulhante vendo com o passar do tempo, uma cor se soltar e misturar ao liquido transparente. Procurou em seu armário o pote de açúcar, deixou na mesa e puxou a cadeira para até o armário mais alto, subindo nela para alcançar as canecas.

Estava tão absorvida no próprio cantarolar que nem viu a presença de mais alguém, somente notou quando pequenas penas carmesins tocaram seus pálidos dedos puxando os copos para longe da platinada e em direção do seu dono. Os olhos castanhos foram até o corpo masculino do herói, algumas gotas de água deslizavam por seu tronco malhado, a pele húmida depois do longo banho e a toalha jogada em seus ombros.

— Harumi-chan, você não tem uma blusa para me emprestar também? — E com um grande sorriso, observou a face pálida da platinada aos poucos se aquecer — Gostou do que está vendo? Você fez de propósito, tarada.

— Mesa — Falou apontando para a blusa amarela, enquanto descia da cadeira tomando controle de seus sentimentos novamente.

Os olhos dourados foram até a mesa de madeira vendo ali a blusa, os retalhos tirados e a tesoura, novamente encarou a platinada que agora estava em frente do fogão e não conseguiu conter um sorriso calmo a observando. Chegou bem perto da platinada e a viu o encarar pelo canto dos olhos aproximar o rosto do dela.

— Obrigado, Harumi — E quando imaginou que ela iria lhe dar um tapa, levantou as mãos indo um pouco para trás em um pequeno pulo, mas a platinada apenas reagiu a tudo aquilo com um tranquilo sorriso — Eu vou vestir a blusa.

— Espero que fique bem em você — Disse vendo as penas aos poucos desgrudarem de sua grande asa reduzindo de tamanho, o chão em volta do homem ficou no tom carmesim, esticou os braços colocando em cada manga cuidadosamente e as arrumando antes de puxar para seu tronco.

Harumi tranquilamente se abaixou, pegando uma das penas maiores para a observar. Ainda próxima do chão, girou a cálamo em seus dedos algumas vezes vagarosamente vendo a luz da lâmpada da cozinha se refletir na plumagem e sorrindo, ainda fascinada, deslisou um de seus dedos pela raque e depois as barbas macias.

— Ah — O som saiu, repentino e sensual fazendo os olhos castanhos irem tão rápido quanto de seu costume em direção da silhueta masculina. Viu o quanto o homem estava vermelho encarando a platinada sem saber o que falar depois de ter gemido na sua frente.

— É... Desculpa se te machuquei... Hawks...

— GENTE! — Aiko apareceu quase arrombando a porta da sala e indo até a cozinha — Nossa, uau! Você está muito lindo nessa camiseta.

Hawks olhou a ruiva e sorriu fazendo suas penas rapidamente voltarem a seu corpo compondo a longa e chamativa asa, aquela garota havia acabado de salvar a vida dos dois sendo tão escandalosa como sempre foi. Sem qualquer pudor, deslizou seus olhos pela blusa marcada, ela havia ficado apertada no tronco malhado, mas a visão foi o próprio paraíso.

— De onde tirou essa blusa, Harumizinha? — Aiko questionou ainda olhando o tronco masculino.

— É a blusa de algum cara que deixou aqui em casa quando foi embora — Falou sem se importar muito, recebendo um olhar estranhamente suspeito do loiro — Não estou encobrindo minha amiga, pode ficar tranquilo.

— Encobrindo... — O herói sussurrou para si mesmo — Quando o chá vai ficar pronto, Harumi-chan?

— Já está pronto, só estou esperando esfriar um pouco — Respondeu pegando as canecas postas na mesa e as enchendo com um pouco do liquido — Com ou sem açúcar?

— Já sabe a resposta — A ruiva falou puxando a cadeira para se sentar — Oh, que raro estar sujo.

— Desculpa, eu esqueci de tirar essa sujeira toda — A platinada falou puxando os tufos que eram o resto da blusa amarela a jogando no lixinho de cozinha — Certo, bastante açúcar. E você, Hawks?

— Pouco açúcar — Pediu se sentando próximo de Aiko sorrindo um pouco.

A mais velha colocou a quantidade que cada um pediu e os entregou, por fim, tomando uma das cadeiras para si e observando a conversa que havia perdido a deixa de se juntar com um tranquilo sorriso. Durante toda a noite, não tocaram no assunto da cozinha, estavam ocupados demais escutando o que Aiko dizia animada.

Hawks era muito gentil, sempre animado respondendo às perguntas e participando da conversa, chegando até mesmo a perguntar para Harumi o que eram aqueles quadros antigos que enfeitavam sua parede.

— São de família — Ela respondeu de forma simples, chamando atenção de Aiko para ver qual seria a mentira que ela falaria — Aquela ali é minha avó.

O quadro dito era de cerca de 100 anos ou mais e pertencia a Harumi. A mulher, que naquela época era loira, tinha trajes simples e neutros, cabelos bem mais compridos que agora e uma cicatriz de queimadura no ombro e rosto.

— Ela perdeu sua casa quando tinha vinte anos e por pouco não perdeu a vida, minha mãe dizia que ela não gostava de seu rosto depois daquele dia e por esse motivo não tenho fotos dela — Suspirou de forma triste, mas era a pura mentira contada e Aiko se divertia com aquilo — Ela estava namorando meu avô naquela época, se casaram meses depois como prova de que o amor ainda estava vivo.

Casaram? Mais um pouco e Aiko gargalharia ali mesmo, a única vez que Harumi se casou foi a décadas atrás. Onde ela tirava essas histórias tão incríveis?

— Ela era muito bonita e vocês se parecem muito — Hawks falou ainda encarando o quadro, mas logo desviou para uma pequena foto colorida sobre a mesa de televisão — E aquela é sua mãe?

— Isso mesmo, durante sua formatura de medicina — Disse vendo Aiko se levantar falando que iria para o banheiro, os dedos sobre a boca para não rir.

— Harumi...

— Sim?

— Sobre a Aiko, é sério que se conhecem a anos? — Ela apenas assentiu — Entendi... Bem, eu vou indo.

— Tem certeza? Sua blusa ainda está molhada.

— Tudo bem, eu volto para buscar depois — Hawks falou sorrindo enquanto andava até a janela a abrindo. Subiu, colocando as mãos na parede virando seu rosto para encarar Harumi bem uma última vez — O chá e café estavam ótimos, muito obrigada, Haru.

E vendo a platinada sorrir docemente, se jogou da janela abrindo as asas e tomando voo. A platinada se aproximou da janela, colocando seu peito sobre ela vendo o homem se afastando cada vez mais, virando apenas um ponto vermelho brilhante pela luz da lua cheia e suspirou fechando a janela.

— Está frio... — Reclamou sentindo um pouco de pena do herói número dois, mas logo veio o ódio ao se lembrar que ele havia criado o álibi perfeito para uma nova visita.

— Harumi, definitivamente você é uma ótima mentirosa — Aiko disse sorrindo, encostando seu corpo na batente da porta que ligava a sala ao corredor. 

Doce como Café { Hawks }Onde histórias criam vida. Descubra agora