Capítulo XXIX

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Keigo sentia seu corpo pesado, sem suas penas, era difícil se localizar exatamente antes de sequer abrir os olhos. Quando conseguiu abrir suas pesadas pálpebras, a primeira visão que teve foi de um quarto em completo breu, algo pesado se esticava por todo seu corpo e o resto de suas asas estavam sendo amarradas. Naquele exato momento, ele se debateu imaginando que havia sido capturado.

Quando em um movimento conseguiu se levantar, constatou que o pesado sobre seu corpo eram diversas camadas de cobertores jogados sobre a cama para o manter aquecido. O que envolvia suas asas caiu aos poucos chamando sua atenção.

— Toalha? Onde estou? — O tecido encharcado havia absorvido parte da humidade presente no resto de suas asas. O cheiro do ambiente lhe era familiar e com os batimentos se acalmando, pode finalmente criar a necessidade de explorar o quarto.

Levantou da cama sentindo uma brisa fria passar por seu corpo, era anormal aquela situação então averiguando suas vestes notou que não tinha nenhuma, nem mesmo a cueca. Franziu suas sobrancelhas, ele deveria gritar? O que diabos estava acontecendo? Enquanto puxava uma coberta para si, escutou sons vindos do outro lado da porta, um doce cantarolar.

Abriu a porta, colocando primeiro sua face para fora enquanto ajeitava a coberta em seu corpo e, naquele momento, com os quadros que ele conhecia muito bem, suspirou com um leve sorriso. Era o apartamento de Harumi, isso respondia muita coisa, mas ao mesmo tempo algumas questões peculiares abriam espaço em sua mente.

Keigo seguiu o som vendo que vinha da fresta da porta que Harumi sempre mantinha trancada. Ele podia entrar? Será que era isso o que a imortal queria silenciosamente dizer? Que ele havia ganhado permissão para ver algo secreto?

Batendo na porta escutou os passos femininos antes dela abrir a porta. Keigo conseguiu ter um leve vislumbre do que possuía dentro do quarto antes dela fechar atrás de si, Harumi deu um pequeno sorriso.

— Desculpe, estava arrumando algumas coisas.

— O que tem de tão importante ai dentro? — Hawks foi mais ousado, a curiosidade batendo com totalidade.

— São... Coisas importantes para mim... — Ela parecia claramente nervosa com o assunto.

— Importantes?

—Você é muito curioso — Deu a bronca se virando para trancar a porta —Anda, vou preparar um chá para você. No meu quarto eu deixei algumas roupas separadas, desculpa, mas você é um pouco pesado.

— Hum... Harumi, você tirou minha cueca por qual motivo exatamente?

— Eu não a tirei, eu cortei... Não se preocupe, não vi aquilo, usei uma técnica para não ver como você veio ao mundo — Ela sorriu de forma zombeteira — Mas o motivo era que um herói doente não faz seu papel adequadamente. Suas asas já estão um farrapo, se pegar uma pneumonia, vai ser ainda pior.

— Agradeço a delicadeza e preocupação — Respondeu com as sobrancelhas arqueadas.

— Imagina, é meu papel como amiga.

— Não por muito tempo — A voz sussurrou, mas foi alto o suficiente para que Harumi pudesse entender.

— Oi?

— Amigos, planejo não ser seu amigo, não por muito tempo — Ele chegou mais perto — Por que sermos apenas amigos se podemos namorar?




Não demorou para que o homem aparecesse na cozinha, agora vestindo trajes quentes após um bom banho. O chá já havia terminado todo seu processo, a fumaça de seu calor vazando pelas xícaras de porcelana, delicadamente adoçados com pequenas colheres de açúcar.

— Eu fiquei preocupada que você piorasse, eu devia ter respeitado seu tempo e... Não ter tirado sua roupa — Harumi começou, agora que ele havia acordado, sua consciência pesava — Eu peço desculpas...

O ambiente ficou em silêncio, Hawks puxou uma cadeira para si se sentando e tomando a xícara, levou aos lábios ressecados bebendo o conteúdo em grandes goles. Os olhos dourados fechados, uma tranquilidade em seu redor enquanto se permitia abaixar a guarda perto da mulher que amava, se suas asas estivessem intactas, elas teriam buscado o toque feminino involuntariamente.

— Eu vi que tratou meus machucados... Você fez o certo, Harumi-chan — Ele sorriu a observando corar — Fique tranquila, não me sinto mal pelo o que fez.

— Oh... Certo... Sobre... Quero dizer, o que aconteceu? Por que estava daquele jeito?

— Eu me machuquei durante minha missão e confesso que a primeira coisa que passou na minha mente foi te procurar — Respondeu tranquilamente que fez as bochechas pálidas da imortal tomar um tom vermelho vivo — Não pense besteira, sem asas eu sou um inútil e somente isso.

— Quando estamos vulneráveis procuramos quem nos traz mais segurança — Ela respondeu de forma calma, bebericando o chá — Experiência própria.

— Quem você procura nesses momentos? — Um sorriso felino nos lábios do herói.

—A família da Aiko... Mas confesso que minha mente agora só me faz pensar em você — Ainda envergonhada, sorriu. Calma, doce, tinha um toque em sua voz que hipnotizava Keigo.

O homem se levantou, deu poucos passos parando em frente a imortal que não desviava os olhos dos seus, tão profundos como o oceano. Seus dedos quentes tocaram a face pálida com carinho, explorando as linhas de seu rosto com tranquilidade, não tinha o motivo de apressar aquilo, era somente eles dois e nada mais.

No entanto, Keigo queria mais e buscou o que desejava. Aproximando seu rosto de Harumi, tomou os delicados lábios para si em um beijo calmo que começou com doces selinhos se afundando em um doce e apaixonado beijo, seus dedos se enrolando nos longos fios platinados, a língua roçando na dela, tomando tudo para si com desejo.

Abriu seus olhos, o dourado consumido pelo preto dilatado por desejo que a encarava descaradamente, sem pudor algum, se mantendo controlado apenas por respeito ao tempo que Harumi precisava para se entregar de fato, sem receio, sem medo. Ele a queria, tomaria ela ali mesmo se pudesse, faria seus lábios gemerem com intensidade e paixão, mas não o faria, não até que ela pedisse.

— Keigo... O Tokoyami estava preocupado com você — Ela mudou o assunto, ainda um tanto nervosa com o que ele estava silenciosamente pensando. Harumi se perdia naqueles olhos dourados, temia o passado e o futuro, mas eles a agarravam com tamanha crueldade que ela sequer conseguia desviar, nunca, desde que o conheceu conseguiu desviar de fato sua atenção dele — Ele... Você deveria mandar uma mensagem para ele e...

— Se quiser, pode avisar ele — Hawks sorriu docemente puxando o celular do bolso — Mas eu não estou nem um pouco afim de atrapalhar esse momento.

— Esse momento? — Ela repetiu, confusa.

— É... Ainda estou com o gosto de seus lábios nos meus e desejo o ter novamente — Ele sussurrou, tocando a face feminina novamente com zelo — É adorável ver você assim, Harumi.


Doce como Café { Hawks }Onde histórias criam vida. Descubra agora