Capítulo LIII

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Aquelas chamas que uma vez queimaram sua cafeteria, a perseguia durante sua corrida em busca de socorro, o desespero que suas lágrimas deixavam marcadas em sua pele, se evaporavam em meio ao azul mortal. Tudo estava escuro, um corredor sem fim que, marcando suas agonias, rodeavam suas costas consumindo qualquer esperança de fugir.

Suas pernas vacilavam, mas Harumi jamais parava, por sua vida ela continuava a correr, por sua liberdade e acima de tudo por amor. O amor que cultivava por cada pessoa que estava ao seu lado, por Aiko, Tokoyami, Yori... Hawks... O nome de Keigo vinha em sua mente como um martelar, algo que a chamava e encorajava continuar.

No entanto, quando uma luz ao longe lhe trouxe o que parecia ser a salvação, a face ensanguentada daquela presença a fez gritar em pavor. Suas mãos, antes limpas, agora tinhas a cor do sangue, de seus erros e pecados, estava imunda e sempre foi.

— Você sempre foi uma garotinha tão obediente — A voz disse se aproximando — Uma cobaia perfeita, quase uma cachorrinha de estimação.

— Se afaste! — Harumi exigiu dando um passo para trás sentindo suas costas serem atingidas pelo fogo azul, novamente um berro de agonia escapou de seus lábios.

— Mas foi eu dar um pouco de liberdade e você foi uma menina malvada — Novamente as labaredas a atingiram enquanto tentava recuar — O que vai fazer com aquele menino? Matar como fez comigo? Aposto que está o usando para matar o tédio.

— Não ouse falar sobre ele! — A imortal deu um passo à frente, sua mente se recordando da luz que a presença de Keigo trazia a seu mundo — Não ouse falar sobre nenhum deles!

— Ou? — Cara a cara, o senhor sorriu. 

— Eu vou te matar — Harumi se cansou e golpeando a imagem, finalmente liberou seu caminho em direção da luz — Não importa quem ficar no meu caminho, eu vou matar qualquer um.





Seus olhos se abriram, ofegante, uma camada de suor escorrendo pelo pescoço enquanto a cama se tornava quente demais. Com cuidado para não acordar Keigo, começou a se mover finalmente se sentando na cama.

Sentiu uma dor, um liquido escorrendo entre seus seios enquanto aquele pesadelo ainda a deixava desorientada. Levando os dedos até a região onde ardia, sentiu ser melado por um liquido de cheiro ferroso: sangue. Com a pequena claridade que adentrava seu quarto, encarou os cantos e por fim o teto notando a vasta quantidade de penas que voavam de maneira descontrolada pelo ambiente se tornando uma armadilha mortal.

Novamente outra a perfurou, sangue derramado dessa vez de sua bochecha esquerda em um ferimento fundo o suficiente para deixar uma cicatriz. Harumi olhou para o seu lado, a figura que deveria parecer um anjo sonolento se agonizando em um eterno pesadelo, as mãos apertavam as cobertas e vestes enquanto arfava, mas sequer deu sinal de que iria acordar.

Aproximando sua mão de Keigo, sentiu outras duas penas a ferindo, mas sem medo tocou seus dedos calmamente na pele quente e molhada por lágrimas de sua bochecha o fazendo abrir os olhos em susto.

Seus olhos dourados foram até a figura amada, os fios platinados em uma bagunça, a pele manchada com o sangue que ainda deslizava dos novos ferimentos. Os sons das penas carmesins cortando o vento se cessaram, caindo no exato momento em que uma ordem do herói foi dada a elas.

— Está tudo bem — Harumi falou diante da visão de preocupação que o homem esboçava. Keigo se sentia culpado, por sequer sonhar em causar algum ferimento na imortal, por ser culpado de sua vestimenta estar agora com manchas avermelhadas.

As mãos do herói se ergueram em busca do toque gélido, mas amoroso que a imortal oferecia e quando finalmente seus dedos envolveram o frágil e delicado rosto, algumas lágrimas inundaram o dourado de seus olhos.

— Está tudo bem, Keigo — Harumi sorriu, suas mãos envolveram as dele, delicadas caricias sendo passadas por cada pedacinho de pele quente enquanto não desviava o olhar — Estou bem.

— Harumi... Perdão — E antes que ele pudesse continuar, a platinada se moveu alcançando os lábios entreabertos dele com os seus depositando um selinho calmo na região.

— Foi um acidente e acidentes acontecem — Ela sorriu, agora deslizando os dedos até os fios loiros do rapaz os acariciando e com cuidado desfazendo alguns pequenos nós — Venha, ainda está muito cedo.

Hawks estava relutante, a mente o condenando de forma impiedosa, porém, aos poucos seus músculos cederam se permitindo deitar novamente na cama onde foi aninhado pela figura feminina que sussurrava alguma cantiga para ele relaxar.

— Lembra quando fez a mesma coisa por mim? — Harumi falou com uma leve risada, calma e nostálgica — Você sempre esteve ao meu lado, Keigo... Se eu soubesse que aquele pequenino iria crescer e se tornar alguém que eu amo tanto... Imagina, jamais imaginaria isso...

Keigo somente escutava, os olhos vagos, a mente sem se focar direito no que era dito pela mais velha, apenas a sensação de seu toque, os batimentos de seu coração, isso eram o suficiente para o acalmar, para o tranquilizar e lembrar que a platinada estava segura e continuaria enquanto estivesse ao seu lado.

Doce como Café { Hawks }Onde histórias criam vida. Descubra agora