Capítulo LVIII

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Quando o que separava seu corpo de todas aquelas vozes ansiosas era apenas uma porta, Harumi podia sentir que estava prestes a surtar, suas mãos suavam muito e seus dedos tremiam. Seu cabelo agora estava diferente, depois de ter sido devorada por chamas durante tantos dias, os fios carbonizados haviam sido reconstruídos pela cor original de seu cabelo.


Agora, em um mar negro, poucos fios platinados podiam recordar de sua antiga vida como uma barista que aproveitava sua imortalidade com calma. Mas infelizmente isso mudou, era o ciclo da vida e a morte caia até para um imortal, de certa forma, era natural.


As portas foram abertas e tudo se silenciou, as câmeras que invadiam a imagem dos heróis agora eram miradas para sua silhueta. Com passos curtos, mas decididos, ela migrou até onde os jornalistas haviam focado as perguntas, aquilo era culpa sua, parte de tudo era sua responsabilidade e mesmo que não fosse, tomaria o fardo para si.


Seus olhos não queriam, ou sua alma que não tinha coragem, mas quando finalmente encarou seu amor, sua alma foi rasgada uma nova vez. Ele estava ferido, se recuperava e agora a liberdade que suas asas lhe davam havia desaparecido.


Harumi tentou não se focar nele e, parando em frente a todos, encarou a imagem destruída de sua pequena Aiko. Ela mirou seu foco para o microfone, voz fraca demais para que pudesse falar alto como os heróis fizeram.


— Eu... É um prazer conhecer a todos. Quero dizer, gostaria de não ter necessidade para isso, mas creio que estou envolvida demais para simplesmente ignorar toda essa confusão a qual fui obrigatoriamente envolvida— Sua voz começou, sua mão tremia tanto que sentiu necessidade de esconder do público. Engolindo ar, continuou— Meu nome atualmente é Harumi e sou um ser imortal.


As vozes de surpresa inundaram aquele lugar fazendo Harumi se encolher, alguns olhos mais gananciosos e outros a vendo como um demônio.


— Eu fui capturada e algumas células minhas foram... Fui usada para aprimorar os Nomu... E por isso, estou atualmente sendo mantida pela fundação do governo em prol de estudos para reverter todas as criaturas que utilizaram minhas células como melhoria.


Seu vestido preto se manchou com os flashs de câmeras, as fotos e gritos a fazendo dar dois passos para trás sentindo uma mão tocar suas costas. O toque era quente, as pontas de seus dedos tremiam transmitindo a ansiedade de seu dono para Harumi.


Ela sabia quem era, queria poder abraçar Hawks, mas sua voz se manteve contida no peito junto da vontade de chorar. O medo e desespero a inundava todas as vezes que lembrava como havia sido sufocante se manter longe daquele homem.


— Eu senti sua falta— A voz de Keigo fez seu coração bater forte. Harumi fechou os olhos e tentou engolir aquele nó em sua garganta— Eu senti falta de você. Estava tão assustado e...


— Eu sinto que é isso— Ela continuou como se aquele homem não tivesse dilacerado seu coração com poucas palavras. O tom de sua voz tinha uma tristeza que ela conhecia bem, ela sabia que ele se culpava e isso somente a deixou mais triste— Espero que possa ser útil para todos os humanos.


Harumi deu um passo em direção da escada, mas sentiu seu braço ser puxado por uma mão masculina. Olhando em direção de seu herói tão amado, sorriu calmamente enquanto seus dedos mantinham seu pulso preso, ele não queria a deixar ir e isso fazia Harumi vacilar.


— Eu te amo e pensei em você todos os minutos— Revelou, os fios bicolores caindo em seu rosto sendo arrumados por Keigo— Eu quero que seja feliz, Keigo. Não se sinta culpado por eu ter sido ferida... Eu te amo.




— Vocês vão cumprir o que prometeram, né?


— Claro, pedimos para que Hawks usassem o uniforme novo e colocamos uma câmera como pedido— A figura importante do governo disse, mas tentando abalar a imortal, continuou— Não nos culpe se ele seguir em frente na vida.


— Ele não vai— Harumi falou sentindo sua pele ser perfurada por uma agulha, seu sangue deslizando para dentro de um tubo de coleta— Eu conheço Keigo Takami o suficiente para saber sua teimosia.


— Você é apenas uma diversão momentânea daquele garoto— Harumi riu encarando a televisão que era ligada exibindo o que o herói alado fazia.


— AH... Eu queria que você estivesse certa.




A televisão ficava ligada vinte e quatro horas ligada, vezes apenas uma tela preta e sons ambiente, outros momentos a correria de um herói que perdeu suas asas procurando uma solução para mudar o mundo. Harumi encarava a tela como se fosse o único item precioso em sua vida, sangue era coletado em doses altas, não havia cuidado com alguém que não iria morrer.


Quando Aiko apareceu em sua tela, lágrimas deslizaram por seu rosto e, a passos fracos, seu dedo tocou a tela fria daquela televisão. Harumi chamava a menina que criou como sua filha, saudades imensas inundava seu coração a fazendo soluçar enquanto a voz de uma conversa perdida tocava seus tímpanos.


— Você tem alguma notícia? — Aiko questionou e Hawks fez que não— Você não sabe nada? Onde ela tá? HAWKS! Você deveria ser quem a salvaria! Você deveria a resgatar!


O loiro não disse nada, sequer reclamou quando a ruiva começou a bater em seu tronco com a maior força que tinha. O ruido bagunçando o áudio daquela câmera escondida, os gritos e a raiva vibrando pelo quarto.


— Eu falhei como herói e namorado.


— Não...— Harumi falava, sua mão pressionando sua boca enquanto mais lágrimas deslizavam por seu rosto— Não fale coisas tão cruéis... Por favor, Keigo.


— Se eu fosse mais forte— Ele continuou— Se eu fosse o suficiente... Melhor... Ela não teria que sofrer. Isso é totalmente culpa minha.


— Por favor... Não se machuque assim... 


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⏰ Última atualização: Jun 09 ⏰

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Doce como Café { Hawks }Onde histórias criam vida. Descubra agora