Capítulo Bônus

54 5 5
                                    

O dia estava quente, o sol escaldante no topo de sua cabeça a fazendo doer. Havia tido a péssima decisão de caminhar com a pequena Aiko, que agora, cansada de tanto andar e com sede, se encolhia em seu tronco, as mãos envolvendo seu pescoço pálido enquanto fazia todo o trajeto em busca de uma pequena loja para comprar algum sorvete para as duas.

Naquele mês a onda de calor não teve piedade de nenhum mortal, todos evitando sair de suas casas, as crianças ostentando sorvetes em suas caminhadas de grupo indo para casa, alguns heróis reduzindo as patrulhas para não sofrer de insolação. Seus pés soavam, mesmo com a sandalha e vestimenta fresca, o vestido florido voando com as brisas fervorosas.

— Merda! Nunca mais eu saio para nada nesse calor — A platinada falou sentindo a pequena Aiko mover a cabeça fazendo o tecido escondendo sua face do sol se mexer caindo aos poucos para o chão — Oh! Cuidado Aiko.

E enquanto tentava se abaixar sem incomodar a pequena em seus braços, escutou passos rápidos em sua direção, em um deslize uma força foi feita em seu pescoço, o colar sendo puxado com intenção de arrebentar a correntinha. Riko olhou para a figura, pronta para gritar com o ladrão até ver uma figura masculina pequena, não muitos anos mais velho que Aiko, tentando fugir antes de ser agarrado pela maior pelo colarinho.

— Fica quietinho ai — Riko disse, os fios vermelhos atraindo os olhos dourados da pequena criança para si — O moleque, cadê seus pais?

O menino tentou lutar, Riko deixou sua mão livre bem presa no tecido enquanto as asas carmesins se batiam com pouca força, suor deixava suas vestes sujas em uma condição precária. A imortal o encarou bem, movendo sua mão para que o rosto pudesse estar ao alcance de seus olhos castanhos.

— Você é muito pequeno para um ladrão, garotinho — Ela disse, um leve sorriso em seus lábios — Onde estão seus responsáveis? Você tem algum?

Aiko mexeu sua roupa, as mãos pequenas e infantis amarrotando o vestido em seu aperto, os olhos da imortal a observou, suspirando, voltou a observar o loiro, as asas levantando poeira em cada batida.

— Anda, vou comprar sorvete para nós — Ela disse começando a andar, arrastando o corpo que protestava junto — Já vai pensando num sabor, moleque.

Quando chegaram no local, a porta de vidro sendo aberta, Harumi sorriu colocando a doce Aiko no chão para que ela pudesse explorar a pequena loja de conveniência antes de escolher o sabor de picolé para poder saborear. O ar condicionado deixava aquele local fresco, agradável, mas mesmo assim Riko se preocupava no que faria com a silhueta presa em sua mão.

— Bem, o que farei com você? — Com a fala o corpo de Keigo arqueou, nervoso, se fosse denunciado seus pais matariam — Eu deveria te denunciar, certo? Afinal, qual o motivo de ter tentado me roubar? Oh, falando nisso, poderia me devolver o colar?

As pequenas mãos se cerraram, o cordão de ouro preso com suas forças ali dentro, o coração do menino pulsando descontroladamente enquanto segurava a vontade de chorar. Riko somente o encarava, estava frustrada, mas de todos os anos que viveu, sabia que aquele garoto fazia isso por um motivo.

— Certo, fique com ele e venda para conseguir dinheiro para sua família — Ela sorriu, teria mil colares para usar, milênios para comprar novos, mas ele não — Vamos, precisamos acabar com esse calor de uma vem. SORVETE!

E levando o garoto consigo, foi até o fundo do estabelecimento vendo uma enorme geladeira ostentando diversas marcas e sabores para ser escolhido. Aiko já estava lá, encarando a porta de vidro esperando para poder pegar o que queria, um sorvete de frutas vermelhas com calda de chocolate, seu sabor preferido.

— Escolha qualquer um, eu pago — E sorrindo, soltou a blusa dando espaço para que ele se aproximasse da geladeira, mas ele apenas travou, sem saber qual era a armadilha — Algum problema, pequeno?

Ela deu um toque em suas costas o vendo tremer, então, sem saber como agir, deu dois passos à frente, abrindo a porta sentindo o frio lhe beijar, as mãos foram até o sabor escolhido para si, tirando de perto das demais embalagens antes de fechar a geladeira.

— É assim, viu? Escolhe, abre e pega — Ela disse sorridente, uma luz irradiando como atração para olhos dourados que encarava a figura ainda de maneira receosa — No seu tempo, pequeno.

Ele observou tudo, os olhos afiados, até que suas asas tremeram em resposta pelo animo e vontade, indo até a porta, a abriu e levantou um pequeno voo apenas para ficar na altura do sorvete escolhido o pegando.

— Oh, que incrível conseguir voar, deve ser tão divertido — Harumi disse sorrindo o vendo se envergonhar — Vamos, vamos! Hora de pagar e comer!

E andando a frente, viu que Aiko a acompanhava, mas o pequeno garoto pássaro não e, dando alguns passos de volta, viu que ele mexia a cabeça como se procurasse alguém o vigiar antes de enfiar outro sorvete no bolso de sua calça. Riko apertou o passo, colocando a mão no ombro masculino o fazendo se virar assustado.

— Ei, posso não saber o que passou, mas roubar não é uma solução — E dando a bronca, tirou o sorvete do bolso dele — Se queria outro era só ter falado, vamos, vou pagar para você.

E o vendo seguir em frente, indo até o caixa, a imortal colocou uma nota de valor alto para pagar a compra antes de guardar os trocados em seu bolso. Saindo, viu as duas crianças abrindo seus pacotes coloridos. Aiko começou aos poucos a consumir o sorvete, enquanto o mais velho começou a devorar apressadamente, a dor da sensação gelada atiçando seu corpo.

— Ei, ei! Vai fazer mal, maneira um pouco pequeno! O sorvete não vai correr —Riko disse antes de abrir a sua embalagem, os lábios avermelhados se abrindo para o consumi — Toma o seu outro sorvete, não se apresse tanto assim com esse aqui.

— É pra minha mãe — A voz baixa falou, era fofa e infantil, tão amorosa que fazia a mulher querer apertar suas bochechas o judiando — Obrigado, tia.

— Haha tia, deixa disso garoto — Riko riu, os fios vermelhos caindo sobre seu rosto quando o pequeno finalmente a encarou nos olhos — Se cuida e tome cuidado, sua mãe não vai gostar nadinha de saber que seu filho foi pego roubando.

E antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, ele desapareceu de sua frente. O colar em uma mão, o sorvete na outra e as bochechas avermelhadas enquanto tentava manter o foco de suas asas que batiam lentamente. Ele queria ser uma pessoa incrível que nem aquela mulher, ele iria ser alguém que ajudaria os outros.

Riko suspirou, se abaixou pegando a pequena Aiko em seu colo enquanto aos poucos voltava a andar, não antes de conferir a placa no estabelecimento dizendo que o lugar estava à venda. Ele era bonito, tantas janelas e a porta de vidro dando acesso a rua movimentada perto do centro da cidade, seria um lugar apropriado para uma cafeteria.

Doce como Café { Hawks }Onde histórias criam vida. Descubra agora