Medalha e recompensa ღ Capítulo 20

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O final de abril havia chegado, e a vida seguia rapidamente. Sol já não pensava mais naquela carta, e muitas coisas haviam acontecido—algumas boas e outras um pouco mais difíceis.

Após seu aniversário e a leitura da carta, Sol conversava ainda mais com Vicente, como se isso fizesse realmente parte da sua rotina. Eles conversavam tanto que Nicole foi a primeira a perceber que sua sobrinha frequentemente soltava risadas enquanto falava ao telefone. A conexão entre eles se intensificou após momentos difíceis compartilhados, além de momentos felizes, como quando Vicente e Joaquim conseguiram suas tão sonhadas vagas na universidade pública. Passaram a noite inteira conversando sobre o que o rapaz poderia fazer após se formar. Foi nesse momento que Sol começou a perceber que a felicidade pela conquista de Vicente era, de alguma forma, uma conquista sua também.

No mês de março, Sol intensificou os treinos para sua primeira seleção, que ocorreria em abril. Suas notas em física melhoraram, e ela notava que Cecília estava amolecendo o coração, mesmo com quase cinco meses de gestação. A ruiva, aos poucos, começou a prestar atenção nas consultas, apesar de ainda ser muito fechada. Com o apoio dos pais, de Júnior e de sua psicóloga, Cecília estava abrindo espaço em sua vida para o bebê. Os sintomas da gravidez, como o enjoo, haviam melhorado, e ela precisou mudar a numeração da sua farda, fazendo com que as pessoas começassem a comentar discretamente sobre a adolescente grávida. Ela sabia que logo sentiria os chutes do bebê, que ainda não estava muito ativo.

Algo importante aconteceu no mês de março com Charles. Seus sintomas pioraram drasticamente, a ponto de ele desmaiar devido a uma crise hepática e ficar cinco dias internado. O médico deixou claro que o fígado de Charles não suportava mais o álcool e, caso ele não parasse de beber, poderia desenvolver uma hepatite alcoólica, o que o assustou profundamente.

A decisão de internar Charles foi algo que pegou Sol de surpresa. Sofia chorou por não querer ficar longe do pai, e Cristian não entendia muito bem, mas acreditava que o pai ficaria melhor se passasse um tempo em uma fazenda mostrada em panfletos. A família apoiou a decisão para evitar que a situação piorasse. Após sua alta, decidiu-se que ele seria internado em uma clínica, uma espécie de hotel fazenda, somente após a seleção da filha para a competição estadual. Foram dias preocupantes, mas as duas famílias se uniram e foram até a clínica. Aquele ambiente tranquilo trouxe um pouco de paz para a família.

O mês de abril foi muito intenso para Sol. Ela havia treinado todos os dias até o escurecer, a ponto de sentir suas panturrilhas arderem. Muitas vezes, Yuri a esperava sem pretensão, apenas para acompanhá-la até o ponto de ônibus, mas ela permanecia firme em sua decisão quanto a ele. Sua amizade com Vicente se tornava cada vez mais intensa. Ela já havia conversado com Bruno e conhecido Joaquim; eles compartilhavam gostos semelhantes por música e comida, e já sabiam tudo um do outro por suas conversas longas. Mesmo com as ligações discretas, não demorou para que ela contasse a Sofia sobre essa amizade, que jurou manter segredo.

O dia da seleção da patinação artística para a competição estadual havia chegado, o ginásio do colégio estava aberto apenas para alunos e pais de alunos, naquele dia, os três alunos patinadores que haviam permanecido dos três anos do ensino médio de Sol, estavam lutando por uma vaga para representar o colégio na competição estadual.

A banca de jurados eram de fora, Nadja estava acalmando seus três alunos e tudo estava ponto para começar. Sol sabia que todas as pessoas da sua casa estavam na plateia, mais o seu tio tirando fotos e Cecilia bem ansiosa. Ela estava incrivelmente bonita, sua roupa brilhava, seus cabelos bem presos estavam com algumas pedras brilhantes colocados por Sofia e seu patins branco estava brilhando.

—Respirem fundo, vocês são ótimos e todos tem a mesma chance de ir até estadual e em seguida para a nacional em dezembro. —Nadja falou, olhando nos olhos dos seus atletas.

Quase suficiente, amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora