Entre os sentimentos que poderiam aflorar diariamente nos seres humanos, a saudade talvez fosse um dos mais angustiantes, dependendo da situação em que o indivíduo se encontrasse, claro. Fala-se muito de saudade todos os dias e em todos os lugares do mundo, não importa o idioma, porém nenhuma explicação seria tão clara quanto o próprio sentimento. Este muitas vezes chegava na calada da noite e não ia embora tão cedo.
Charles Seifer, marido de uma mulher incrível e pai de três filhos, sabia bem o que a saudade era capaz de fazer — ou melhor, o que ela mostrava sobre o que ele não poderia fazer. Há pouco mais de um mês, ele se viu deitado em uma cama de hospital após uma crise hepática que nem sabia que poderia ter. Recebeu a notícia de que seu fígado estava à beira de um colapso devido ao uso excessivo de álcool. Naquele momento, viu mais uma vez todos que mais amava sofrer por medo de perdê-lo, e isso acabou sendo o estopim para a decisão de se internar em uma clínica de reabilitação.
Após um laudo de um psiquiatra que alegava a necessidade de uma internação, tudo foi feito da maneira mais calma possível, considerando a extrema fragilidade do momento para todos. Com a ajuda de Lais, as duas famílias, Moreira e Seifer, visitaram algumas clínicas e Charles escolheu onde se sentiria melhor. Então, acompanhado das pessoas que mais amava e com uma mala na mão, há um mês ele embarcou em uma jornada de cura, com a esperança de voltar para sua família.
Em uma cidade pequena no interior de São Paulo, a Free Clinic era uma mistura de clínica de alto padrão com um imenso rancho no meio do nada, totalmente em contato com a natureza e o mais longe possível de uma prisão — ou pelo menos era isso que o panfleto prometia. Os pais de Charles decidiram arcar com todas as despesas do filho naquele local, mesmo sabendo que não era nada barato. Vendo o quanto seus filhos gostavam de vê-lo em um ambiente bonito e a Isis mais calma, Charles aceitou de bom grado a ajuda dos pais e agradeceu por ter esse privilégio que a grande maioria dos dependentes químicos não tinha.
A Free Clinic era de fato um dos locais mais bonitos entre as grandes clínicas. O rancho era vasto, com um lago, estábulos, uma grande horta, salas para leitura, redes espalhadas entre árvores, uma equipe médica disponível vinte e quatro horas, comidas saudáveis, e muitos animais, como patos, cavalos, galinhas, algumas ovelhas e cachorros. Lá recebiam somente pacientes que buscavam tratamento por vontade própria. Era um lugar pacato que acolhia dependentes de álcool e drogas.
O tratamento de Charles na clínica foi programado para cerca de cento e oitenta dias, ou seja, seis meses. O programa de reabilitação consistia em três fases: a primeira era o acolhimento e aceitação da doença; a segunda, a abstinência; e a terceira, a conclusão da reabilitação. Dentro dessas fases, o paciente passava gradativamente por muitas etapas, como desintoxicação, psicoterapias, grupos de apoio, atividades diárias e uso de medicamentos. Era um longo processo que exigia muita paciência.
Em apenas um mês, Charles havia enfrentado muitos desafios devido à completa abstinência e aos sintomas severos, além da saudade de casa. A clínica, apesar de confortável, ainda era um local isolado da sociedade. As visitas eram moderadas, ocorrendo duas vezes por mês — uma vez dos pais e outra dos filhos. Somente aos finais de semana o uso do celular era liberado para ligações por alguns minutos. Charles participava obrigatoriamente de grupos de apoio, dos quais não gostava. Por algum motivo, as janelas tinham grades, as portas não tinham chaves, e ele não usava mais facas.
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Quase suficiente, amor.
RomansaDestino, no século 21 mais precisamente no estado de São Paulo, Sol acredita firmemente que o destino pode moldar sua vida, apesar dos desafios que enfrenta. Com um sorriso que ilumina qualquer ambiente e uma paixão pela patinação artística, ela enc...