As coisas que mais ocupavam Sol no dia a dia eram estudar, treinar e ajudar sua vó em casa; essas coisas não poderiam ser facilmente substituídas por outras, a não ser que fosse algo de urgência. Entretanto, naquele fim de tarde, após as aulas que haviam se estendido por todo o dia, ela havia dado alguma desculpa à sua treinadora e faltado ao treino da noite para resolver algo que estava tirando sua paz.
O relógio marcava seis e vinte quando ela entrou em uma cafeteria no Bom Retiro, bairro conhecido por seus muitos comércios asiáticos e onde Yuri trabalhava no comércio dos pais. Ainda de farda, ela o esperaria chegar após ele avisar que se atrasaria um pouco, mesmo sem gostar de tal atitude.
Sua perna balançava, mostrando a ansiedade, e quando o garçom colocou um café na mesa, Sol pôde sair de seus pensamentos distantes. Sua vida estava um tumulto sem tamanho e, mesmo que algumas coisas estivessem se resolvendo, como Cecilia aceitando a gravidez e seu pai em tratamento, ainda havia coisas que a preocupavam, como o fato de ter sido rude e insensível com seu ex-namorado no passado. Sol se perguntava se não tinha sido a pessoa que errou com Yuri e feriu seus sentimentos, ao contrário do que pensava antes.
O Yuri havia marcado a vida dela de muitas formas e estava longe de ser qualquer crápula ou vilão daquele romance fracassado. Na verdade, ele tinha sido o primeiro contato que Sol teve com um menino, foi seu primeiro beijo, namorado, a pessoa que apresentou a sua família e com quem teve sua primeira relação íntima. Ele estava presente em muitas partes da sua vida. Quando ela parava para pensar, recordava-se de como se apaixonou e de como estava confusa se havia realmente o amado. Afinal, o que era o amor?
Quando a porta do local abriu e Yuri, com suas roupas largas, entrou, ela finalmente parou de pensar em mil coisas ao mesmo tempo e se concentrou no presente.
— Nossa, desculpa a demora. — Ele se sentou à mesa, já sorridente. — Odeio atrasos, vejo que chegou da escola agora!
Sol sorriu de canto e consentiu. Ela o encarou e percebeu seu cabelo maior, como se tivesse uma fórmula mágica de crescimento. Yuri não havia permanecido para a aula da tarde, como costumava fazer algumas vezes por semana, ele se recusava a estudar o dia todo.
— Sem problemas, vim direto da escola por que matei o treino da noite. Você está bem? E a Yuna está bem? — Ela perguntou, e ele a encarou.
— Hm... Estou bem e a Yuna está bem, sim. E todos na sua casa? Seu pai está bem?
Yuri e Sol iniciaram uma conversa normal, como duas pessoas que se conheciam bem.
— Fico feliz e estamos todos bem. Meu pai está há alguns meses em uma casa de reabilitação no interior e ficará saudável em breve. — Sol falou, mais calma, e ele sorriu.
Yuri realmente estava feliz pela família dela. Ele sorria sem jeito ao perceber que, não importava quanto tempo passasse, seu coração ainda estava cheio de esperanças. Sentia esperanças, afinal, após o término, Sol nunca tinha conversado com ele além do básico para uma boa convivência.
— Você está mais cordial ou aberta a conversas após nosso termino, não sei... — Ele recebeu seu café gelado, o garçom já o conhecia bem. — Por que me chamou para uma conversa? Não quero ter esperanças à toa, meu coração doerá! — Ele sorriu ao brincar.
Sol encarou as mãos sem jeito, enquanto Yuri seguia sugando seu café gelado sem pressa.
— Te chamei porque preciso conversar com você. Poderia ser sincero comigo, em consideração ao nosso tempo juntos? — Yuri consentiu. — Você se atrasou porque estava mesmo com seus pais ou hoje é seu dia com a psicóloga?
O coreano sorriu como quem tinha sido pego, mexeu no anel em seu dedo mindinho e travou o maxilar ao ser encarado.
— Me pegou. — Ele sussurrou. — Psicóloga, dia santo.
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Quase suficiente, amor.
Roman d'amourDestino, no século 21 mais precisamente no estado de São Paulo, Sol acredita firmemente que o destino pode moldar sua vida, apesar dos desafios que enfrenta. Com um sorriso que ilumina qualquer ambiente e uma paixão pela patinação artística, ela enc...