Quase suficiente, amor.

Você ღ Capítulo 32

Vicente sempre foi muito bom em ouvir conselhos, especialmente quando eram úteis em determinadas situações da sua vida. Foi isso que aconteceu quando Marli deixou claro ao filho que ele precisaria ao menos tentar para tirar o peso dos ombros, mesmo que isso fosse óbvio.

Joaquim questionou se não seria arriscado chegar de surpresa, Bruno arregalou os olhos quando o irmão cogitou ir a um lugar que detestava, e Dani sorriu como se Vicente fosse um dos últimos românticos. Quando Vicente decidiu pegar um avião, Marli aproveitou o ensejo e chamou Bruno para passear por alguns dias, enquanto ela resolveria questões da fábrica pessoalmente. Aquela foi a viagem mais repentina que já fizeram.

Ele escolheu chegar de surpresa para que nada tirasse sua concentração durante o campeonato. Vicente não queria que sua mente estivesse focada em mais nada além dela mesma.

Um dia antes do campeonato de patinação, após três horas e vinte minutos em um voo direto de Fortaleza para São Paulo, desembarcaram no aeroporto lotado e Vicente já sentiu a multidão irritante ao seu redor. Ele descansou da viagem e matou um pouco da saudade da família materna. No dia seguinte, após pesquisas, se preparou para assistir Sol se apresentar. Ele estava mais nervoso do que em qualquer outro dia da sua vida, mas seguia o coração sem olhar para outro canto.

Na plateia, com os olhos cheios de lágrimas, Vicente assistiu à brilhante apresentação de Sol com a música "Yellow". Como fazia parte da aposta deles, foi ali pessoalmente que ele pode ver como ela fazia aquilo com o coração, quão bonita era, e seu coração estava em uma taquicardia constante.

Vicente não gostava de multidões, por isso mudou de lugar na plateia após a apresentação, quando um grupo de estudantes se deslocou para outro local. Dessa forma, ele ficou mais perto da pista e um pouco mais distante da torcida dela. Algum tempo depois de um intervalo para a decisão, um locutor chamou os atletas, e Vicente voltou a ficar nervoso como se fosse ele ali embaixo. Aquela sensação de felicidade pelas conquistas de Sol, que ele sentia ao falar com ela, era ainda mais real. Suas mãos suavam, e com a respiração ofegante, o rapaz fechou os olhos enquanto o locutor fazia suspense sobre o primeiro lugar.

Por favor, por favor, que seja ela.

—O ouro vai para uma pessoa que colocou na pista muitos sentimentos e temos certeza de que deu o melhor de si. Essa pessoa tem uma responsabilidade e uma oportunidade gigantesca em carregar o nome do seu estado até as nacionais. — O homem sorriu, e Vicente encarou Sol de longe. — Mais uma vez, leve o seu estado às finais, Sol.

—Isso, é isso aí, porra! — Vicente gritou quando a plateia foi à loucura. — Meu coração vai parar! Meu Deus... — Ele sorriu, batendo palmas.

O menino pulou de alegria junto com a multidão ao seu redor, uma sensação de puro êxtase fazendo-o esquecer o que iria falar para ela em breve. Ele via, de longe, sua família se abraçar e de cara reconheceu Cecília, que parecia extremamente emocionada. Seu olhar acompanhou Sol subir ao pódio, receber a medalha no peito, e as luzes do ambiente se acenderam. Vicente não imaginava que Sol pudesse vê-lo daquela distância, mas quando seus olhares se encontraram, ele ainda sorrindo, encarou seus olhos escuros. Sol, extremamente chocada, parecia ter prendido a respiração.

Mesmo à distância, Vicente viu a expressão de choque no rosto de Sol. Era como se o mundo ao redor deles tivesse desaparecido, deixando apenas os dois no centro de um turbilhão de sentimentos. A boca de Sol estava entreaberta, seus olhos brilhavam com uma combinação de surpresa e alegria que fez o coração de Vicente bater descompassado.

Sol parecia tão alheia ao que estava acontecendo ao redor, tão focada no momento em que estava vivendo, que Vicente sentiu um profundo sentimento de proximidade com ela, como se os dois compartilhassem um segredo, uma conexão que transcendeu a distância e a plateia. Logo Sol foi chamada por fotógrafos e saiu de transe.