Vinte e Um

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Atenção: Há gatilho leve de racismo e abuso sexual no capítulo.

Ela

Traficada. Meu. Deus.

A garota foi traficada. E ao que parece, na adolescência.

Meu. Deus. Não é à toa que ela sente tanto ódio!

Esther está há anos matando abusadores. Ela é mesmo a vilã?

–– Só consigo imaginar pelo que ela passou... –– Isabela sussurra, olhando para as próprias mãos, pousadas acima das coxas. –– O trauma gigantesco que deve carregar nesses anos todos... Se essa teoria de vocês se mostrar correta, essa garota está tirando a vida de pessoas más... Não que sirva de justificativa, claro, mas ela está ajudando e vingando mulheres que foram vítimas assim como ela e ajudando indiretamente mulheres que poderiam ser vítimas desses caras no futuro, então...

Os olhos de Sebastian relampejam.

–– É isso, Bela!

–– Hum? –– questiona, distraída com os próprios pensamentos. Isabela não consegue sentir raiva de Esther, apenas tristeza por ela ter supostamente passado por este inferno, de ser traficada e abusada inúmeras vezes, de ter tido a vida sequestrada, como ela disse no texto. Não consegue sentir pena dos homens assassinados, tampouco. Porque se realmente for isso, bom...

Eles meio que... mereceram.

Assim como eles merecem. Aqueles que... Ela sacode a cabeça, lutando para não relembrar do rosto daqueles... daqueles...

Aqueles.

–– É como vamos encontrá-la! –– exclama o perito, desta vez encarando a auxiliar.

Aurora balança a cabeça, parecendo pensar o mesmo que Sebastian.

–– Podemos fazer uma busca silenciosa por ONG's que ajudem mulheres vítimas de qualquer tipo de violência. Se ela segue de região em região a cada três ou quatro meses, deve atuar de algum jeito, sendo conselheira convidada, talvez...

–– Na administração, Aurora. Para não levantar suspeitas! –– fala ele, apressado. –– Talvez seja assim que encontre o nome deles. Ela pode ter acesso às...

–– Fichas e relatórios das mulheres! Se elas são aconselhadas por alguma psicóloga, podem ter dito o nome deles nas sessões, assim...

–– Ela fez uma lista negra –– finaliza Sebastian, sombrio.

Isabela se desliga totalmente do que o namorado e sua auxiliar conversam. Não que não se interesse pelo que planejam para encontrar Esther – que, aliás, não merece ser encontrada antes de finalizar seu "trabalho", na opinião de Isabela –, porém algo surge das profundezas de sua mente, uma lembrança que até então se mantinha trancafiada há bastante tempo e de repente se torna nítida em cada canto de sua cabeça, mesmo que ela não queira.

–– Ei, neguinha. –– Uma mão tentara se enroscar na nuca de Isabela, que se retraiu, tentando se afastar. Contudo, como a carteira da sala de aula era apertada, não teve como ela ir muito para frente. –– Cabelo ruim.

Isabela piscou várias vezes, sentindo os olhos pinicarem, e manteve a cabeça virada para a lousa, ignorando o garoto atrás dela, que já vinha há semanas atormentando-a pela escola, depreciando-a sempre que tinha a oportunidade. Ela não entendia o porquê ele se divertia tanto fazendo isso se ela nunca havia feito absolutamente nada contra ele. Por que justo ela?

–– Não adianta tentar fugir, macaquinha –– murmurara, com um tom de voz divertido. Outros dois garotos, amigos dele, riram baixinho nas outras fileiras, o que serviu de incentivo para ele continuar. –– Ainda vou te pegar, sua preta desgraçada.

#2 - Logo Após Você PartirOnde histórias criam vida. Descubra agora