Quatro

221 34 5
                                    

Ela

Eu odeio esse idiota!, Isabela pensou enquanto assistia o garoto que era a fim dar um beijo de língua em uma menina que ela até considerava amiga. Isso só mostrava que ela precisava repensar suas amizades...

Mas isso nem era o pior de tudo.

O pior de tudo era que os dois, tanto o garoto quanto a garota, sabiam do crush de Isabela por ele.

Sentindo os olhos pinicando e prometendo a si mesma que não ia chorar ali, ela virou e se preparou para subir as escadas, na intenção de partir da quadra da escola para casa, a apenas dois quarteirões dali.

Poderia chorar lá sem espectadores.

Todo sábado era liberado os alunos e ex-alunos, como ela, se reunirem lá para praticar algum esporte que gostassem. Era tudo monitorado por câmeras e um guarda, então era seguro. A única condição da diretoria era que limpassem o que sujassem, e como todos faziam sua parte, a coisa funcionava bem.

–– Ei! Ficou sabendo? –– E uma antiga colega de classe enfiou o celular de abre e fecha no seu rosto. Isabela leu o que estava escrito na imagem colorida, baixada do Facebook.

Festival de Verão – 28 a 31 de janeiro de 2011

E abaixo o endereço e a programação de artistas que se apresentariam nos quatro dias de festa na praia.

–– Estou pensando em ir –– prosseguiu a garota. Tinha sua idade e trabalhava na empresa da família. De vez em quando enrolava os pais e passava uma boa parte das madrugadas na balada. Com Isabela, que adorava dançar. –– Quer ir comigo?

Ela rodopiou mais uma vez, mirando o casal, que estava adorando toda aquela atenção dos outros colegas. Isabela estreitou os olhos. Mas nem fodendo vou me trancar no quarto para chorar por esse cretino e essa falsa!

Pousou os olhos novamente no rosto retorcido de ansiedade da colega. Os olhos dela até pareciam brilhar. E Isabela pensou de novo. Tinha certeza de que se pedisse com jeitinho, o pai deixaria. Ela nunca lhe deu trabalho em nada e havia passado no vestibular com uma das melhores notas. E ela já era maior de idade! Ele não tinha motivos para recusar... Então...

–– Por que não?

Com pulinhos alegres, as duas deram as costas para todos e saíram saltitando do lugar. Deveriam pegar dinheiro e arrumar uma mochila com algumas peças de biquíni e roupas leves, além de algum lanchinho para comerem na descida.

No caminho para casa ela ligou para o pai de seu celular, explicando seus planos para aquele dia. De início ele parecia inclinado a não deixar, mas acabou aceitando com a condição de que fosse buscá-la no final daquela mesma tarde, quando saísse do trabalho. Ele era gerente num posto de gasolina e seu horário era até às 18h.

Isabela viu que não teria sorte em tentar convencê-lo a não ir e ficou calada. Pelo menos ganharia uma carona de volta para casa...

As duas garotas foram rápidas. Prepararam alguns sanduíches naturais e compraram num mercadinho algumas garrafinhas de suco e de água. Como o dia estava muito quente, colocaram biquíni por baixo das vestes e pegaram o metrô, descendo na estação da rodoviária. Compraram duas passagens de ida e se sentaram em um dos bancos. Ainda não era nem dez da manhã.

O ônibus encostou na plataforma às dez e quinze e partiria dali mais quinze minutos. Conversando animadas, elas comeram um pouco, foram ao banheiro e se prepararam para subir no veículo. Seus assentos, graças a Deus, ficavam bem no meio, abaixo do ar-condicionado. E já na descida da serra, Isabela, se sentindo infinitamente melhor, se inclinou na janela para fotografar a paisagem e postar no Facebook com alguma legenda divertida. Bem pequenininho lá embaixo estava o litoral. De longe dava para ver o mar que luzia por causa do sol, próximo de milhares de prédios contornando-o.

#2 - Logo Após Você PartirOnde histórias criam vida. Descubra agora