Nove

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Ele

Não pensei que seria tão fácil.

Venho pedindo ao meu chefe superior por um ajudante há meses, sempre ouvindo dele um sonoro "desculpe, Sebastian, mas ainda não consegui encontrar ninguém competente para o cargo" seguido de um ligeiro franzir em sua testa.

No entanto, assim que adentrei sua ampla sala, fui recebido por ele com um sorriso largo de genuína alegria por mim. Coisa rara de acontecer, que fique registrado.

–– Eu já ia mesmo te ligar, Sebastian. –– Foi dizendo André Barros, o Superintendente da Polícia Civil, um homem de estatura baixa, com entradas e meio gorducho, na casa dos sessenta. Quando mais novo, participou das investigações de diversos casos famosos de corrupção no país.

–– Ia? –– perguntei, apertando sua mão estendida na minha direção.

–– Consegui encontrar uma pessoa competente para o cargo –– Ele disse simplesmente as palavras que eu tanto quis ouvir saírem de sua boca ao longo dos meses, o orgulho reluzindo nos olhos castanhos.

Ele conseguiu encontrar alguém para me ajudar. Fácil assim. Eu apenas pisquei, deslumbrado pelo presente divino. Nem precisei argumentar ou implorar, como fiz várias vezes antes. Toda a situação regada a novos discursos emocionantes que montei na cabeça sumiu no exato instante que ele fechara a boca. Quem liga para aqueles argumentos, afinal?

–– Ela deve se apresentar até sexta-feira –– continuou. –– Você vai precisar treiná-la e auxiliá-la. Deve também colocá-la a par dos casos abertos, principalmente o caso da garota que está se vingando, Esther. –– Ainda perplexo com o golpe de sorte, apenas concordei com a cabeça, esperando-o prosseguir. –– Estou pensando em chamá-la de Viúva-Negra. O que você acha?

Mordi o interior de minhas bochechas para não gargalhar alto. Isabela ia adorar saber disso.

–– Ótimo nome. –– Fingi dar umas tossidas para não entregar o quanto estava me divertindo. –– Falando em Viúva-Negra... –– Voltei a manter o rosto impassível, passando a André tudo o que descobrimos nos últimos dias, assim como as suposições de que a assassina não trabalha sozinha e que pode talvez ter a ajuda de uma equipe.

–– Faz todo sentido –– falou, se recostando na cadeira giratória. –– Se eu souber de qualquer coisa relacionada a este caso, aviso o Carlos. É ele quem está à frente dele, certo?

–– Sim, está. –– Continuamos a conversar mais um pouco sobre minha ajudante, Aurora Pereira.

Viera transferida de outro estado, e, de acordo com seu chefe anterior, ela é atenta, paciente e muito inteligente. Ótimo. Caí fora de lá pouco tempo depois disso, antes que ele mudasse de ideia ou sei lá, minha auxiliar fosse abduzida. Ainda precisava falar com o advogado sobre a guarda das meninas e usei essa desculpa para me mandar. Fora um milagre ele ter aceitado me receber após as seis da tarde e eu não queria perder essa oportunidade.

Cantarolando animado junto com Bruno Mars, dirigi de volta até o centro, estacionando o carro na vaga do outro lado da calçada do prédio onde está o escritório do advogado. Igor Santana é jovem, mas bastante eficiente. Ganhara inúmeros casos nos poucos anos de serviço. Por isso decidi confiar nele.

–– Aconteceu alguma coisa? –– questionou Igor assim que eu me sentei à sua frente.

–– Sim, aconteceu. –– comecei, e lhe contei tudo o que ocorrera naquele dia, desde o desmaio de Rebeca até a conversa que tive com a vizinha de Milena. Entreguei-lhe a folha com a anotação dos exames feitos em Rebeca que Isabela me dera. Após ler tudo, Igor ergueu o rosto para me fitar.

#2 - Logo Após Você PartirOnde histórias criam vida. Descubra agora