Onze

130 17 1
                                    

Ele

Tive a impressão de que os dias foram embora num estalar de dedos.

A linda manhã de sexta-feira desponta no horizonte com novas promessas de sucesso e alegria, trazendo raios dourados para todo o ambiente, e expulsando todas as sombras e sentimentos negativos.

Deitado, penso brevemente que não tem como ficar mal-humorado após ver o esplêndido nascer do sol. Me espreguiço na cama, encarando o céu azul através da janela. Tirei a cortina semana passada para lavar e ainda não tive vontade de colocá-la de volta. É bom trazer um pouco de ar e luz para dentro de casa.

Jogo as pernas para fora do colchão, procurando pelo par de chinelos. Enquanto caminho pelo quarto, catando algumas peças sujas de roupa que joguei pra todo lado nos últimos dias – preciso tirar uma hora no final de semana para fazer uma faxina –, começo a me animar de expectativa. Hoje minha auxiliar irá se apresentar. Como viera de outro estado, precisou de algum tempo para se preparar para a mudança. Pelo o que o delegado Paulo me falara, ela e a irmã já chegaram e alugaram um apartamento pela cidade, próximo do hotel, no final da tarde de ontem.

Tomo uma ducha relaxante, os pensamentos tomando outra direção enquanto a água morna desliza pelo corpo... Isabela e seu sorriso deslumbrante aparecem na mente. Infelizmente não a vejo desde a manhã de terça-feira. Estive tão preocupado com Milena e ocupado em entreter as meninas que mal tive tempo para pensar ou fazer outra coisa.

Minha ex-esposa me manda mensagens todos os dias, conforme pedi, contando sobre sua busca por um emprego. Entusiasmada, dissera que até se candidatara para uma vaga na capital, a uma boa distância daqui. Ao que me parece, não fizemos exatamente as pazes, mas estamos pelo menos em trégua.

Giro a torneira, desligando o chuveiro, e me seco com a toalha verde. Visto uma calça jeans e uma blusa básica, escovo os dentes e arrumo meu cabelo – anotando mentalmente que preciso cortá-lo –, pronto para iniciar minha rotina. Preciso acordar as meninas, arrumá-las, levar Rebeca para a escola e deixar Gabriela na fazenda da mãe de Dante, que concordou em cuidar dela de segunda à sexta, de manhã até o final da tarde. Devo acrescentar que dona Helena será recompensada generosamente. No entanto, duvido que ela tenha algum trabalho, já que a Gabi é bem tranquila. A verdadeira traquina é a Rebeca.

Abro a porta do quarto delas com cuidado para não fazer barulho. Caminho na ponta dos pés até a cama de Rebeca, descobrindo-a. Enfio o nariz no seu pescocinho, afasto algumas mechas de cabelo e inspiro fundo, movendo a ponta até seu queixo. Ela se mexe um pouco, fingindo que ainda dorme e tentando conter a risadinha, mas falha de forma vergonhosa.

–– Hora de se levantar, Bela Adormecida –– sussurro, sentando-me ao seu lado. Rebeca ergue as pálpebras, fixando os olhos claros no meu rosto, e distende os lábios rosados.

–– Jura que amanhã eu posso dormir até tarde? –– questiona.

–– Juro.

–– Jura juradinho? –– E estende o dedo mindinho na minha direção. Cruzo meu mindinho no seu. –– Juro juradinho.

Ela se senta e me abraça, enrolando os bracinhos finos na minha cintura. Sentindo a ternura me abater, a aperto contra meu corpo. E é por isso, meus amigos, que eu enfrento qualquer obstáculo que surja dia após dia. Para poder ter mais momentos preciosos como esse.

–– Eu te amo, papai –– fala, encostando a bochecha no meu peito.

–– Eu também amo você. –– E beijo o topo da sua cabeça.

–– Você também ama a Gabi? –– inquire.

–– Amo. Muito.

–– E a mamãe? –– quer saber, erguendo o queixo. Olho-a seriamente de cima.

#2 - Logo Após Você PartirOnde histórias criam vida. Descubra agora