Dezesseis

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Ela

Isabela ergue a cabeça quando Sebastian abre a porta do automóvel, deslumbrada para dizer o mínimo. Não fazia ideia de que era para cá que ele iria trazê-la. Imaginava algo mais intimista, tranquilo. Bem mais a cara dele, não totalmente a dela.

A fachada da casa de dança é envidraçada, assim como parte do telhado, e já de fora ela nota uma multidão na primeira pista de dança, movimentando-se em sincronia com algum country animado, que ecoa pela rua vazia através da porta larga. Homens com chapéu de cowboy sapateiam com suas botas brilhantes e giram suas companheiras risonhas, com camisas xadrez e calças jeans apertadinhas.

Assim que se vê dentro do lugar, ela gira o corpo, captando com os olhos todo o ambiente colorido e resplandecente graças a luzes fluorescentes e piscantes. Sebastian a guia com a mão na direção oposta, passando com ela por uma porta de correr tingida de diversas cores e que combina totalmente com a decoração. Próximo dali, em outra pista, casais coladinhos dançam sensualmente uma salsa romântica. Até o clima no lugar é mais denso, erótico até.

Subindo uma escadaria larga e em espiral quase ao lado do extenso bar, Isabela consegue observar mais duas pistas de dança separadas por paredes metade transparentes metade em alvenaria: uma cheia de mulheres belíssimas e de todas as cores e raças sambando com saltos gigantes e vestidos curtos, e outra lotada de jovens com cabelos estilosos, bonés, regatas básicas e calças largas ao som de um hip-hop eletrizante, que ribomba no ar e sacode até o chão.

Isabela e Sebastian finalmente chegam ao topo, onde uma mulher sorridente os recepciona atrás de uma escrivaninha.

–– Sebastian? –– questiona ela, se levantando da cadeira giratória.

Enquanto o perito conversa com a recepcionista sobre a reserva feita mais cedo, Isabela, fascinada, se apoia no muro de madeira, vendo as quatro pistas de dança de modo simultâneo através do telhado de vidro.

Um pouco mais afastado tem um restaurante muito bem adornado com desenhos e plantas nas paredes, cheio de gente de cada um dos grupos que dançam nas pistas. Todo mundo misturado e festejando. Ela sorri sem se dar conta. Não imaginava que o local era realmente tudo aquilo: onde todos poderiam ser como são de verdade, sem medo e sem rótulos.

Todos se tratando como iguais.

Os olhos umedecem instantaneamente, a mente recordando de coisas esquecidas há tempos. Ela já sentiu na pele o que é o preconceito. Chegar em um lugar e ter todos os olhares de zombaria fixados em seu corpo e em seu cabelo, por causa de sua raça. Aquilo doía tanto. Toda vez que alguém a insultava, toda vez que alguém a depreciava. Por isso que jamais se entregara a alguém antes. Por receio de se apaixonar e ser magoada por alguém que não a aceitasse.

Isabela abre um pequeno sorriso. Sabe, em seu coração, que também esperou por Sebastian. Aquele tempo todo.

Seu sorriso agora se alarga.

Sebastian, o homem que a trouxe aqui. Ela esperara por ele. E teve sorte em reencontrá-lo.

Ela suspira de felicidade e pisca os olhos repetidamente para espantar as lágrimas e não borrar a maquiagem que demorara de fazer. Nada de tristeza hoje. Já chorou demais ontem.

–– Bela –– Ele a chama, se aproximando para passar o braço em sua cintura. –– Você gostou daqui?

–– Eu amei! –– exclama, tão contente que mal consegue se conter. –– Eu queria muito vir aqui. Como você descobriu?

–– Tive uma ajudinha do Dante... e da Vivian –– Sebastian confidencia, sorrindo de lado. Porque se está aqui agora com Isabela é por causa de Vivian que disse na lata que ele poderia perdê-la se enrolasse demais.

#2 - Logo Após Você PartirOnde histórias criam vida. Descubra agora