Vinte e Sete

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Ela

Isabela não consegue pregar os olhos pelo resto da manhã, num misto de ansiedade com receio, esperando avidamente Sebastian dar alguma notícia. Qualquer uma.

Sabe que é errado, entretanto, no fundo ela torce por Esther. Torce para ela terminar sua lista negra antes de ser achada pela polícia. Torce para ela deixar o mundo cada vez melhor para várias mulheres que foram e que poderiam ser vítimas daqueles homens que ela assassina. Porque se tem uma coisa que eles não têm é inocência. E todos os envolvidos no caso sabem disso, que esses homens eram traficantes e abusadores de mulheres e de crianças.

Pode parecer que não, mas ela presta extrema atenção em todos os detalhes e explicações que o namorado dá sobre o caso de vez em quando, quando eles conversam, e nessa semana mesmo ele a atualizara sobre algumas pistas que os investigadores encontraram e algumas suposições que ele fizera com o irmão, Gregory, via ligações e mensagens, e com a auxiliar, Aurora, na delegacia. Eles desconfiam que a rede de tráfico é tão forte assim porque os traficantes que estão no topo são médicos renomados e que sabem como fazer mulheres e crianças modestas sumirem de repente, com certeza forjando a morte delas, para assim, traficá-las sem suspeitas. Ele contara também que uma operação para derrubar essa "teia" está sendo planejada, além da busca incessante que a polícia faz para encontrar Esther, que é procurada em todo o território nacional.

Contudo, Esther é uma mulher inteligente, bem treinada e bem preparada, e os dribla sempre, o que causa uma certa frustração em todos.

Por mais que não tenha nada a ver com essa história e com a homicida, Isabela não consegue não se sentir próxima dela, já que Esther provavelmente também fora violentada. E é por isso que tem empatia por ela, por isso que entende sua dor. E entende até sua insanidade. Suspirando, ela anota mentalmente que precisa desabafar com dona Ísis na próxima sessão sobre se sentir mexida desse jeito.

Inquieta desde cedo, apenas se ocupa em realizar algumas poucas tarefas domésticas, e quando as meninas acordam, lá pelas nove, ela já finalizara tudo, como ter varrido a casa e colocado roupas úmidas no varal. Ela sorriu assim que viu os vestidos das meninas esticadinhos no fio. Bom, parece que virei mãe de repente, pensou consigo mesma, se deleitando com a sensação.

–– Bom dia, Bela. Cadê o papai? –– Rebeca questiona, aparecendo no corredor que liga os quartos à sala e à cozinha, enquanto coça os olhinhos azuis tão intensos quanto os do pai. Ela é seguida por Gabi, que boceja.

–– Bom dia, Beca. Ele precisou ir trabalhar hoje –– Isabela responde, se aproximando das meninas e se agachando para ficar na altura delas. –– Vou ficar com vocês até ele voltar, tudo bem? –– As duas concordam com a cabeça. Ainda estão bastante lentas. Culpa daquele suplemento vitamínico, ela cogita por um momento. Ainda bem que só vão precisar tomar por mais duas semanas. Mesmo que esteja sendo utilizado de forma correta com a orientação da pediatra, o suplemento, além de ter alguns efeitos colaterais, como sonolência e dor de cabeça, não substitui a alimentação. Elas só estão tomando por enquanto para suprir algumas das vitaminas que se encontravam em deficiência em seus organismos e para se acostumarem de novo a comer adequadamente. –– Vamos tomar o café da manhã?

Já habituada ao gosto e apetite das irmãs, Isabela pega o delicioso e espesso iogurte da marca Alvorada na geladeira e despeja em dois copos iguais no balcão da cozinha americana, além de cortar metade de um pão de coco para Gabi e cortar um pão salgado para Rebeca no meio, adicionando em seguida manteiga, também da Alvorada. Tanto Rebeca quanto Sebastian, que nasceu no litoral do Estado, chamam o pão de "média". Isabela conhece a vida toda como pão francês ou pão de sal e, dias antes, de manhã bem cedinho enquanto as meninas ainda dormiam, ficou um bom tempo olhando confusa para o namorado tentando decifrar que raio de "média" era aquela que ele lhe pedira para trazer da padaria até que Sebastian, aos risos, lhe explicara que se tratava de pão francês.

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