#2 - Logo Após Você Partir

Oito

Ela

Isabela guarda o material no armário.

A cabeça gira, lotada de informações coletadas através da leitura. Passara a tarde quase toda de cara no livro sobre doenças raras que comprara pela Internet, estudando sobre fenilcetonúria e seu tratamento, que deve ser mantido por toda a vida. O portador da doença basicamente vive uma dieta com baixo teor de fenilalanina para que assim cresça e se desenvolva normalmente. Então, alimentos ricos em proteína, como carne, peixe, ovos, leite e derivados são absolutamente proibidos nesta dieta.

O que mais a intrigara é que o excesso da fenilalanina no corpo faz mal, assim como a ausência, porque se faltar este aminoácido no organismo, é ainda pior. A criança terá deficiência mental, convulsões e desnutrição. Ou seja, deve-se equilibrar a fenilalanina, porque se tiver em abundância ou faltar este aminoácido, a criança sofre das duas formas.

O que ela conclui é que será melhor pedir para a vice-diretora marcar uma reunião para que ela converse com os pais da menina. Ainda tem algumas dúvidas e não quer cometer erro algum quando fizer a ficha de alimentação. Isso é de suma importância.

Como já passa de cinco e vinte da tarde, ela arruma suas coisas e se encaminha até a direção. Carla, a vice-diretora, anota algumas coisas numa folha de caderno avulsa.

–– Posso falar com você um minutinho antes de ir? –– pergunta a nutricionista.

–– Claro, Isabela –– responde a mulher. –– Sente-se, por favor.

Então ela conta um pouco sobre a doença, ressaltando as coisas mais importantes dela, e pede que Carla entre em contato com os pais da menina, que se chama Alice Rosa, o quanto antes.

–– É pai, na verdade –– diz a vice, observando a ficha de estudante da criança. –– Nenhuma informação sobre a mãe. Vou ligar para ele e marcar uma reunião. Tem algum problema se ele estiver livre apenas no sábado?

–– Nenhum. Eu venho. Muito obrigada.

Ela se despede de Carla e toma o rumo da saída. Às terças e quintas-feiras não estará aqui. Irá para outra escola da cidade, uma que fica próxima da galeria de Vivian. Como Ben sai no mesmo horário, é ela quem o acompanha até a Woman Art. Normalmente tanto Vivian quanto Camila terminam o trabalho antes das seis, então todos vão juntos para casa.

Já nas sextas a nutricionista cumpre a jornada de trabalho em um pequeno jardim de infância, do outro lado do município. Isabela dá um pulo de susto quando uma buzina ressoa pela rua. Ela olha na direção do som e enxerga Sebastian, abrindo a porta do motorista. O sorriso no rosto dele é tão caloroso que ela sente o coração acelerar de anseio. Ah, caramba, como ele consegue fazer isso comigo?, pensa.

–– Ei –– fala ele, vindo ao seu encontro. –– Como está seu pé?

–– Quase não dói mais –– responde ela, franzindo a testa, a confusão retorcendo as sobrancelhas. Ele parece bem. Ótimo, na verdade. –– Como foi o confronto com sua ex?

–– Ainda não foi –– revela Sebastian, caminhando com ela na calçada. Então, ele conta brevemente sobre o que aconteceu durante a tarde, inclusive a conversa com a vizinha. –– A Milena resolveu aparecer quando já estávamos no parquinho. Furiosa por eu ter pegado as duas. Gritou como nunca no celular. –– E ele sorri com a lembrança.

–– Como vai ficar essa situação agora? –– pergunta ela. Sebastian encolhe os ombros largos.

–– Preciso falar com o advogado. Vou fazer isso daqui a pouco. –– Ele abre a porta do banco passageiro. As duas meninas dormem no banco de trás, exaustas por terem brincado a tarde toda. –– Elas apagaram.