Dez

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Ela

–– Bom dia –– Isabela cumprimenta as duas meninas que aparecem na entrada da cozinha vestidas com pijamas parecidos, mas de cores distintas.

Como sempre, Rebeca, a mais velha, segura a mão de Gabriela, a caçula, que, ainda sonolenta, esfrega os olhinhos azuis. É bastante cedo para ela já estar acordada.

–– Bom dia –– responde Rebeca, abrindo um sorriso bastante franco para uma menina tão pequena. –– Cadê o papai? Nós ouvimos a voz dele ainda agora.

–– Ele foi à padaria, aqui em frente. –– Isabela fala, adoçando o café preto na garrafa térmica. –– Vocês gostam de iogurte? –– E ela levanta uma embalagem plástica, com uma paisagem belíssima estampada atrás do nome Alvorada, numa fonte parecida com caligrafia. Quem fizera a imagem fora Vivian, um bom tempo atrás.

Elas concordam com a cabeça. Como os banquinhos da ilha são altos, Isabela, solícita, as ajuda a subir e se acomodar. Em seguida, enche dois copos americanos com o líquido rosado, encorpado e saboroso produzido pela fábrica de Bruno, o cunhado da amiga. Sebastian retorna quase que no mesmo instante, trazendo uma sacola com pães variados. O perfume delicioso de pão recém-saído do forno faz seu estômago se revirar com força descomunal, morto de vontade de ser abastecido. Ela não tinha ideia do quanto está faminta.

Com a mão livre, ele digita algo no celular, os olhos vidrados na tela. O vinco em sua testa só pode significar preocupação. Cerca de vinte minutos antes, quando ele chegara, lançara à Isabela um sorrisinho afetado, dando-lhe um beijo demorado bem no cantinho da boca. O atrevimento dele logo cedo a deixara um tanto espantada. Mirando-o, ela vira que Sebastian estava leve e contente, quase flutuando no ar. Lhe pareceu que ele tivera uma ótima noite de sono. Bom, era uma das coisas que ele mais desejava nas últimas semanas, afinal, Isabela se recordou...

–– Oi –– falou Sebastian, mantendo o olhar reluzente no rosto dela.

–– Oi –– respondera Isabela, sem jeito. A situação constrangedora por qual haviam passado na noite anterior ainda estava vívida em sua cabeça. –– Você parece relaxado.

Sebastian juntou os lábios para não sorrir largamente.

–– Tive uma excelente noite de sono.

–– Aposto que teve –– murmurou ela, se atentando à cafeteira.

–– Errrrr... –– Ele tentou conter a risada com a mão, mas ela viu, com a visão periférica, seus ombros largos se sacudirem. Isabela sorriu, ainda sem virar para ele.

–– Você é impossível, Bash. Ele ergueu as palmas para frente, num gesto desarmado.

–– Eu não falei nada.

–– Ouço seus pensamentos libidinosos daqui, seu patife –– rebateu ela, daquela vez o olhando com uma sobrancelha arqueada.

Sebastian sacudiu a cabeça e deu dois passos amplos, a encurralando de novo contra o armário gelado, colocando os braços ao redor de sua cintura. Ele gostava daquilo, ela notou em pânico, com o coração aos pulos, enquanto fitava seu rosto. Ele gostava de provocá-la porque sabia que ela não deixaria barato, já que ela dissera no domingo que não fugiria se se sentisse ameaçada. Ah, então é esse o seu jogo, Sebastian? Pois agora vou fazer o oposto, Isabela se decidiu, lutando para respirar direito e não entregar o quanto a presença dele a fazia tremer de excitação. Toda vez que ele tentar tirá-la do ar, ela jogará água fria no seu entusiasmo, refletiu. Não deixará, de jeito nenhum, o desejo por Sebastian controlar seu corpo, como quase acabara deixando antes. De jeito nenhum! As coisas vão ser diferentes de agora em diante.

#2 - Logo Após Você PartirOnde histórias criam vida. Descubra agora