Trinta e Cinco

32 3 2
                                    

Ele

–– Então foi você que conseguiu identificar a garota? –– questiona alguém. Viro-me, e uma mulher de estatura baixa, com roupas sociais e elegantes, se aproxima, caminhando rápido pelo corredor movimentado de um dos DP's do centro. –– Prazer, Janaína Prado.

–– Fui eu –– confirmo, apertando sua mão estendida. –– Sebastian Kronner.

–– Mesmo que vocês sejam gêmeos, há muitas diferenças de comportamento e algumas de aparência –– fala de repente.

–– Quais? –– questiono, curioso. Obviamente ela está falando de Gregory.

–– Você não fica olhando pra todo rabo de saia que passa –– diz, mas sorri. –– Também é mais retraído. Menos debochado. Mais simpático.

–– Mais engraçado também, pode ter certeza –– adiciono.

Ela ri um pouco, inclinando a cabeça ligeiramente para o lado. Não nego que a mulher é muito linda, mas ela não faz meu tipo. Só se sua pele fosse um pouco mais escura e ela tivesse umas curvas profanas no corpo, além de cabelo crespo.

–– E bem mais bonito –– finaliza.

Sinto meu rosto ficar em chamas. Meu Deus, se Isabela descobre isso, ela arranca meu couro, penso brevemente, já suando frio.

–– Ele tem namorada, toma vergonha nessa cara, mulher. –– Ouço Gregory se aproximar. Santo Greg! Ele para ao lado dela e a encara. –– E como ele pode ser mais bonito do que eu se somos gêmeos, cacete?

Janaína lhe dá uma cotovelada forte nas costelas, mas continua com o sorriso afável no rosto. Ufa, acho que a cantada repentina foi apenas brincadeira. Assim eu espero.

Os encaro por alguns segundos, notando o clima quente que se instalara entre os dois do nada e a linguagem corporal de ambos. Hummm... Greg a mira de cima, com um sorrisinho besta de canto. Janaína cruza os braços, olha para o chão e faz um biquinho, respirando fundo por senti-lo tão perto de si.

–– Já se pegaram –– deduzo, usando um tom baixo.

–– Claro que não –– nega ela.

–– Inúmeras vezes –– confirma ele ao mesmo tempo.

–– Você daria um excelente investigador –– ela fala em tom acusatório, estreitando os olhos em minha direção.

–– Concordo. –– E dou de ombros. Teve um tempo que eu realmente queria ser um investigador como Greg, mas o amor pela papiloscopia foi bem maior.

–– Bora fazer aquele corno confessar alguma coisa logo, pelo amor de Deus –– Greg pede, e em seguida ele se inclina para que a mulher passe. –– Depois de você, delegada.

Arregalo os olhos.

–– Delegada? –– sibilo para meu irmão, que encolhe os ombros largos.

Caralho. Ele está ficando com a delegada. Sacudo a cabeça, incrédulo. Gregory não tem jeito.

Seguimos a mulher até uma das salas de interrogatório. Fico na sala privada com mais dois investigadores e alguns dos outros peritos que também trabalham no caso, e todos temos visão total das câmeras dispostas em cada parede e do traficante através do vidro temperado. Como este é um caso complexo, temos de ter vídeos e provas de tudo.

Do outro lado, Greg, Janaína e mais dois investigadores entram e sentam-se de frente para o criminoso e de costas para nós.

A postura do homem demonstra que ele não está nada arrependido do que fez. Se encontra relaxado, com o queixo pontudo erguido e uma sobrancelha levemente levantada. Parece desafiar os policiais à sua frente apenas mantendo o olhar penetrante.

#2 - Logo Após Você PartirOnde histórias criam vida. Descubra agora