Quinze

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Ele

Aproveitando a folga e a ausência das meninas, acordei depois das dez da manhã e nem ouvi o celular tocar às 9h em ponto.

Como não fora atendida, a recepcionista da clínica enviara uma mensagem breve falando que o resultado do exame de sangue que minhas filhas fizeram na quarta-feira havia ficado pronto e que eu deveria buscá-los e já marcar o retorno na pediatra. Agradeci e confirmei que já estava a caminho. Me arrumei com rapidez e saí.

Agora estaciono minha Ducati numa vaga ao lado de uma árvore frutífera, deixando-a na sombra fresca. Como estou perto da entrada da clínica pediátrica dá para enxergar a recepcionista de meia idade teclando agilmente no computador de mesa. Assim que me avista, seus lábios se repuxam nos cantos num sorriso acolhedor. Pelo o que eu me lembre, ela trabalha aqui há anos.

–– Olá, querido –– cumprimenta ela quando piso na recepção.

–– Olá –– digo, observando-a vasculhar uma das longas gavetas.

A recepcionista não demora de encontrar o que procura e me entrega um maço de folhas dobradas ao meio e grampeadas.

–– Pode assinar aqui? –– E me dá uma caneta azul. Assino meu nome onde ela indica. Ela batuca mais um pouco no teclado. –– Temos a terça e a quinta-feira livres na parte da manhã. Que dia você prefere?

–– Quinta –– respondo, entregando-lhe a caneta de volta.

–– Às oito e meia ou dez e meia? –– questiona, voltando os olhos escuros para os meus.

–– Oito e meia.

Ela presta atenção na tela outra vez, clicando no mouse.

–– Marcado.

–– Obrigado. Tenha um bom trabalho.

–– Valeu, doutora –– diz alguém ao mesmo tempo, saindo de uma das salas com decoração infantil. Viro o rosto ao reconhecer a voz. Vivian, a esposa de Dante, com a filha Paloma nos braços, vem em minha direção, abrindo um sorriso gigantesco. –– Sebastian!

Vivian é uma das poucas pessoas que conheço que transmite energia positiva naturalmente. Ela parece irradiar uma vibração especial, iluminando todo o ambiente e contagiando a todos com seu bom-humor frequente.

A pequena Paloma, com um vestido vermelho e chuquinhas no cabelo liso e fino, sacode os bracinhos gorduchos para o alto, tentando descer do colo da mãe, que não cede. Ela faz alguns sons incompreensíveis com a boquinha bem desenhada e continua a tentar descer, mexendo as perninhas roliças.

–– Parece que alguém já quer sair correndo por aí atrás de confusão. –– E indico a pequenina inquieta.

A mulher sorri. Caminhamos lado a lado para fora da clínica.

–– Nem me fale –– diz Vivian, arrumando a filha nos braços. Por causa da luz do sol os olhos coloridos das duas parecem bem mais claros e cintilantes. –– Tenho que ficar o tempo inteiro de olho nessa menina senão é capaz de ela explodir alguma coisa. Provavelmente minha galeria. Como estão suas filhas?

–– De saúde espero que bem. –– E levanto o maço de folhas. –– Fizeram exame de sangue na quarta. Esse final de semana elas ficarão com a mãe e os avós maternos. Só as pego amanhã à noite.

–– Elas são tão lindas –– elogia a designer. –– A dona Helena adora a Gabriela. Ela fala da sua filha com muita afeição, tipo o tempo todo. As duas se divertem bastante na fazenda.

–– A Gabi também a adora. Diz que ela é a rainha das fadas.

Vivian agora ri. Paramos ao lado do EcoSport preto, estacionado perto de uma planta longa e de folhas arroxeadas.

#2 - Logo Após Você PartirOnde histórias criam vida. Descubra agora