Doze

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Ela

Isabela termina de passar o repelente nas pernas e ergue-se da cama num pulo ágil para ir até o espelho do guarda-roupa de madeira, que ocupa uma porta inteira.

Ficando de costas, ela vira a cabeça, dando uma boa olhada na parte de trás do maiô preto que comprara há meses, mas não teve oportunidade ainda para usar. A peça estava esquecida numa gaveta desde então. O maiô de malha é bem justo no corpo, agarrado a suas curvas como uma segunda pele, além de possuir alças reguláveis e uma sobreposição em saia. Recatado e discreto. Por cima, ela veste uma saída de praia lisa e soltinha, com o comprimento até quase os joelhos, na cor branca e com amarração na cintura.

Isabela estica os lábios num sorriso brincalhão, pensando que ela é, neste momento, a verdadeira imagem da decência. Está louca para ver a reação de Sebastian quando ele vislumbrar o maiô comportado. Isabela sabe que depois de vê-la absolutamente sem nada, ele está ávido para mais exposição da parte dela. E por isso mesmo ela está sentindo prazer antecipado em acabar com seu entusiasmo dali a pouco tempo.

Jogando algumas coisas básicas dentro da bolsa como repelente e protetor solar, Isabela se prepara para sair. Sebastian dissera cinco minutos antes por mensagem que estava esperando as meninas se arrumarem, adicionando que as duas estão eufóricas com o passeio de domingo. Ele vai levar a comida e Isabela as bebidas e uma toalha para piquenique, que tem desde a infância, quando ficava nos finais de semana no litoral com o pai.

Com uma última olhadela no espelho, ela pega a bolsa, o suco e a água no congelador, e tranca a porta da sala e o portão. A chave, que estava em poder de Sebastian desde segunda à noite, fora devolvida por ele através da cesta que o próprio lhe dera na terça. O gesto carinhoso a deixou tão contente que ela quase largou tudo e saiu correndo feito louca para agarrá-lo sem se importar com o joguinho silencioso de provocação que começou a acontecer entre eles do nada.

Conectando a entrada dos fones no celular, Isabela seleciona, no aleatório, uma playlist que ela gosta bastante de duetos famosos. Ela aperta o play e coloca as caixinhas de som nos ouvidos, andando devagar na calçada até a casa dele, a poucas ruas de distância.

A espessa névoa nas montanhas que rodeiam a cidade se dispersa com o sol vespertino, sumindo por entre as altas árvores. O céu, num azul tão profundo quanto os olhos de Sebastian, é maculado por finas nuvens, que se movimentam junto dela, como que a acompanhando. Ou melhor, guiando-a até ele. Batucando os dedos na coxa, Isabela volta a prestar atenção na música, cantarolando baixinho junto com Ed Sheeran e Taylor Swift.

A melodia suave, doce e marcante, ecoando nos fones, a transporta para aquela tarde na praia, dez anos antes, quando o conheceu. Pode parecer estranho, mas ela tem a turva sensação de que naquele momento tinha encontrado uma espécie de porto seguro em Sebastian, uma pessoa que ela havia conhecido horas antes. Ela suspira, nostálgica. Nenhum dos dois, sentados na areia, observando o pôr-do-sol ao longe, que manchava o oceano com tons de laranja, queria que aquela tarde acabasse. A conexão que eles compartilharam naquele dia foi assustadora e surreal, algo que ela jamais havia sentido por alguém.

'Cause all I know is we said hello

And your eyes look like coming home

All I know is a simple name

And everything has changed

All I know is you held the door

You'll be mine and I'll be yours

#2 - Logo Após Você PartirOnde histórias criam vida. Descubra agora