Três

235 35 7
                                    

Ele

Porque eu não consegui pensar em outra coisa senão em levar Isabela para um canto escuro e enchê-la de beijos em todas as partes de seu corpo, penso brevemente, mas me obrigo a sorrir para o menino, que nos observa com uma sobrancelha arqueada. A desconfiança dardeja de seus olhos escuros no formato de dois mísseis, tendo eu e a nutricionista como alvo fácil.

-- Nos distraímos com a conversa -- respondo. Isabela, contendo uma gargalhada e estampando um sorriso afetado no rosto, se adianta, adentrando o lugar quando Ben escancara o portão. Sigo-a até a porta da sala, inalando seu perfume suave, que me arrebata de jeito tão intenso que me deixa tonto e desnorteado por um momento.

Paro e coço a nuca enquanto miro suas costas eretas, descendo o olhar um pouco, indo na direção de seu traseiro sacolejante por causa do vestido...

Derrotado, fecho os olhos e expiro com força.

Acho que me ferrei bonito.

Depois que ela se encaminha para a cozinha, onde todos os outros estão, e sumindo de nossas vistas, Ben se põe à minha frente, cruzando os braços em seguida. Ele empina o queixo e fixa os olhos nos meus.

-- A Bela é muito legal. Não a magoe.

Surpreso e sem saber o que dizer, pisco algumas vezes.

-- Ahn...

-- Eu estava espionando vocês daqui de dentro -- prossegue num tom baixo, ordenando com a mão para que a cachorrinha saia. Ela abaixa o rabo e corre na direção da lavanderia. Isso que eu chamo de autoridade. -- Vocês parecem ter o mesmo tipo de coisa que minha mãe e o Dante têm. Posso só ter nove anos, mas não sou burro. Sua moto é muito bonita, espero que ninguém nunca a arranhe sem querer. -- Ele me lança um sorriso radiante e me dá passagem. Eu sorrio, achando graça de sua ameaça. -- Seja bem-vindo.

-- Obrigado, eu acho... -- Paro após dar alguns passos. Encrespo o cenho e viro o rosto para olhá-lo. -- Você é sempre tão direto?

-- Sou. Mal de família -- diz simplesmente, voltando a fechar a porta da sala. -- Ducati Monster, né? -- questiona.

-- Realmente vou ficar furioso se você fizer algo contra minha Monster. -- Arrasto as palavras.

O menino tem a cara de pau de sorrir. Pestinha.

-- É só tratar a Bela bem. Ela merece.

-- Sebastian, que bom que você veio! -- Sua mãe, Vivian, aparece no corredor, com a filha nos braços e salvando-me do primogênito, graças a Deus. A garotinha abre um sorriso com quatro dentinhos quando me vê, balançando os bracinhos gorduchos no ar. Brinquei um pouco com ela na festa de casamento. Posso garantir que ela se divertiu horrores enquanto fingia que meu rosto era massa de modelar.

-- Eu agradeço o convite -- digo. Vivian coloca a pequena Paloma no chão, e a menina engatinha rapidamente até meus pés. A nostalgia que acompanha algumas lembranças de minhas filhas na mesma idade me faz sorrir um pouco. Como o tempo passa rápido. Eu adorava quando chegava em casa após o trabalho e era recebido com beijos babados e abraços quentinhos das duas.

Me agacho para brincar com a criança parecida com a mãe, que usa um short azul e uma blusa branca. O cabelo liso e castanho está preso no alto, com duas chuquinhas. Seus dissemelhantes olhinhos me observam atentamente.

-- Eu levo para a cozinha. -- Ben se oferece, resgatando as bebidas de minhas mãos.

-- Qual a idade de suas filhas? -- pergunta a anfitriã, se acomodando em um dos sofás. Sento-me sobre o tapete felpudo. Paloma segura meu antebraço com as mãozinhas e tenta se erguer. Segurando-a pelas costas, ajudo-a a se firmar.

#2 - Logo Após Você PartirOnde histórias criam vida. Descubra agora