Trinta e Quatro

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Ela

Os dias que se seguem são tranquilos.

Apesar de ser inverno, o sol aparece no litoral, e o vento gelado que vem do oceano, há apenas alguns quarteirões dali, faz a pele marrom de Isabela se arrepiar inteira.

Ela recosta o peitoral na varanda do quarto do namorado, fixando os olhos no horizonte. Mesmo que não dê para ver o mar por causa dos altos prédios residenciais, ela sente o perfume salgado espiralando no ar. Ainda é cedo, não passa das oito, mas as meninas já acordaram faz tempo. Rebeca e Gabriela brincam de casinha na área descoberta, em meio às plantas dos avós, e Sebastian ainda dorme na cama, de lado, com um travesseiro entre as pernas longas.

Depois do encontro com o ex-cunhado dias antes, ela percebeu que Sebastian parece um tanto triste. Ele não contou ainda a ela sobre tudo o que conversara com Benício, apenas dissera que se sentia aliviado por conseguir "encerrar o ciclo". Mesmo curiosa, não insistiu para que ele falasse. Alguma hora, se ele se sentir confortável, sabe que ele vai procurá-la para desabafar.

Ela se afasta da varanda, passa pela porta de correr, o observa dormir por alguns segundos com um sorriso no rosto, e sai do quarto, descendo as escadas. Mal chega ao térreo e ouve os sogros rindo com diversão na sala de estar.

–– Na cabeça xampuuuuu... –– É a voz de Sebastian, meio abafada. Ela franze a testa e olha para a televisão. –– Lave bem o seu...

O namorado, bem mais novo, está no vídeo que passa na TV, segurando Rebeca recém-nascida em um dos braços, e a ensaboando com a mão livre. Estava dando banho na pequena.

–– Sebastian! –– diz outra voz no vídeo, em tom divertido, mas esta é feminina. Provavelmente é Milena, a mãe das meninas.

–– ...Pé! –– finaliza ele, olhando para a câmera com um sorriso maroto de lado. As sobrancelhas sobem e descem várias vezes.

Sua sogra, no sofá com o marido, ri mais alto ainda.

Isabela também não se contém e acaba gargalhando. Já ouvira ele cantarolando essa canção algumas vezes em casa.

–– Olha quem está aqui, Edite! –– fala seu Albert, virando o tronco para a encarar, com um sorriso parecido com os dos filhos estampado no rosto. –– Venha querida, sente-se conosco.

–– Estamos vendo alguns vídeos caseiros –– diz dona Edite, usando óculos de grau e com uma câmera profissional em mãos, mexendo nas configurações e nas lentes. –– Sebastian é impossível assim desde sempre, Bela. Não sei de quem ele puxou esse humor...

–– Ácido? –– questiona o marido, repuxando os cantos dos lábios para cima e olhando para a esposa com carinho. –– Ora, precisa mesmo que eu diga, Edite?

Ela dá um tapinha fraco no braço do marido.

–– Albert!

Isabela se acomoda com os dois no sofá.

–– O humor do Sebastian é uma das coisas que mais gosto nele –– comenta. –– A inteligência e a boca suja também.

–– Não me diga que esse patife anda falando palavrão perto de você e das meninas, Isabela –– dona Edite arregala os olhos claros e cessa os movimentos nas lentes da câmera.

–– De mim sim, das meninas não. Ele ainda tem essa consciência. Sabe que Rebeca provavelmente vai imitar.

Seu Albert cai na gargalhada, colocando a mão sobre a barriga proeminente.

–– Isso veio de mim –– fala com um certo orgulho.

–– Ele e o Gregory comentaram mesmo algum tempo atrás.

#2 - Logo Após Você PartirOnde histórias criam vida. Descubra agora