Vinte e Cinco

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Ela

–– Tá toda alegrinha assim porque passou a noite transando, né safada? –– Cristiana sussurra próximo do ouvido da melhor amiga. Os olhos verdes e grandes brilham como pedras preciosas graças ao nascer do sol. O cabelo escuro, agora solto, cai em suas costas feito ondas.

Isabela lhe dá um tapa no braço.

–– Cris!

Cristiana estende o sorriso.

–– Ai, Bela, pelo amor de Deus, não precisa ter vergonha de falar sobre essas coisas comigo –– continua, ainda com o tom de voz bem baixo. Ela observa o ambiente por alguns segundos, vendo Diego sentado de braços cruzados e encostado em um banco da rodoviária, usando fones de ouvido e óculos escuros. Seu cabelo preto feito carvão está todo jogado para trás. Já Ana Júlia e Camila, sentadas no mesmo banco que ele, conversam baixo. –– Você sabe disso.

A outra suspira.

–– Eu sei, mas mesmo assim... –– E também distende os lábios.

Cris acaricia o rosto da amiga com suavidade.

–– É muito bom te ver feliz assim.

–– É muito bom me sentir feliz assim –– fala, soltando uma expiração saudosa. A madrugada anterior foi mesmo espetacular, assim como todas as outras em que esteve com Sebastian.

Houve um momento que, emocionada, ela sentiu o peito arder e os olhos se encherem de água. Sebastian, parcialmente em cima dela, deslizou o nariz de seu pescoço para o cabelo com cachos embaraçados por conta do que fizeram no colchão por horas, e fungou fundo enquanto a mordia bem levemente no lóbulo da orelha, fazendo-a se trepidar e fechar as pálpebras com o prazer.

–– Eu amo seu cabelo –– segredou, enrolando uma mechinha fina no dedo indicador. Em seguida resvalou a boca por sua pele bem devagar, fazendo uma trilha ardente de beijos molhados que foram da nuca até os seios medianos.

–– Só meu cabelo? –– perguntara, hipnotizada pelos olhos azuis, naquele momento prateados, cintilando como estrelas cadentes.

–– Não. Também amo sua pele e seu corpo. –– Ele elevou um pouco a cabeça para olhá-la. –– Amo você inteira. Exatamente do jeito que é.

Foi inevitável. Ouvi-lo dizer isso com tanta cobiça na voz a fez desmoronar. De puro e completo amor. Porque ele a aceita do jeito que ela é. Não que ela duvidasse, mas foi maravilhoso escutar algo assim pela primeira vez. Com certeza jamais esquecerá.

Sempre almejou um dia encontrar alguém que realmente a aceitasse, não que a visse apenas como objeto sexual e descartável, porém, das poucas vezes que tentara, saíra do relacionamento com um buraco no coração e prometeu a si mesma que não iria se doar tanto para alguém se não fosse recíproco. Quebrou a cara várias vezes até entender. Fora o tanto de desaforo e ofensa que já ouviu de desconhecidos ao longo da vida por causa de sua raça. Essas coisas destroçavam seu coração e diminuíam sua autoestima. Contudo, se recordava do pai lhe elogiando e lhe aconselhando a não aceitar nunca que a tratassem com hostilidade, fossem pessoas conhecidas ou desconhecidas. Então ela erguia a cabeça, dava uma resposta atravessada e não se deixava perturbar com as provocações.

–– Ah, Bash... –– murmurara.

–– Espero que esteja chorando de alegria –– disse ele, meio desesperado, limpando uma gota que descera pela têmpora dela por estar deitada de costas.

–– Com certeza é –– afirmara, tentando acalmá-lo. –– É que... eu já ouvi tanta coisa sobre meu corpo e me cabelo, principalmente na adolescência, que... que... agora... –– Ela suspirou e parou.

#2 - Logo Após Você PartirOnde histórias criam vida. Descubra agora