Trinta e Dois

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Ele

–– Vovó! –– Rebeca, ainda um tanto sonolenta, pula em minha mãe. Gabi imita a irmã, e a pobre dona Edite vacila, tentando segurar as duas ao mesmo tempo. Da última vez que elas estiveram em seus braços eram muito menores do que agora.

–– Como vocês cresceram, meus amores! –– fala, enchendo-as de beijos no rosto. –– Venham, entrem. Albert! Eles chegaram!

–– Já era hora! –– A voz de meu pai soa ao longe. O perfume delicioso de seu tempero espirala pelo ar, o que só pode indicar que o almoço de hoje será por sua conta.

Tiro nossas coisas do porta-malas com a ajuda de Bela e adentramos o lugar no qual cresci. Suspiro, olhando para a área aberta e rodeada de plantas de todas as formas, muitas delas plantadas por minha irmã, inclusive, e instantaneamente sou arrebatado com um tornado intenso de lembranças doces, tristes, dolorosas e felizes que permeiam meus pensamentos por alguns segundos. Vivi bastante coisa aqui.

–– Quase sou capaz de ouvir o riso da Ivy –– murmuro. No fundo sei que evito vir para a casa de meus pais por causa disso, não é nem pela distância. Odeio chegar aqui e saber que minha irmã não está. Bela afaga meu braço com carinho. Entrelaço seus dedos com os meus e lhe dou um beijo na testa. –– Deixa que eu levo tudo, não quero você pegando peso.

–– Não está pesado –– retruca ela, me impedindo de tirar a mochila enorme de seu ombro. Teimosa. Sei bem o tanto de coisa que minhas meninas enfiaram nas malas. Foi por pouco que não trouxeram as próprias camas. –– Ela gostou mesmo de mim, né? –– questiona baixinho e com insegurança.

Sorrio de leve, escancarando ainda mais a porta da sala.

–– Gostou pra cacete –– confirmo. –– Fica de boa.

–– Vovô! Vovô! Vovô! –– Minhas pequenas gritam, correndo para a cozinha.

Minha mãe vira-se para nós. Seus olhos azuis cintilam.

–– Fica à vontade, Isabela. O antigo quarto do Sebastian já está arrumado para vocês. O banheiro fica na última porta à direita. Mostra tudo para ela, meu amor?

–– Mostro sim, mãe –– digo, pousando a mala nos pés da escadaria. –– Tem cará? O cará de lá é ruinzão. Só não é pior do que a média.

Ela ri, se divertindo. Sabe o tanto que gosto desse pão.

–– Santista é santista em todo o lugar, né? Tem, está guardado no forno. Peguei na padaria especialmente para você. Vou passar um café para vocês enquanto isso. –– E ela toma o rumo da cozinha, apressada. Seu cabelo prateado e fino se esvoaça em suas costas.

–– E quem é essa beldade aqui na sala? –– Ouço meu pai dizer. Quando levanto a cabeça o vejo desviando da esposa e caminhando em nossa direção com Beca e Gabi nos braços. Antes ele dá uma encarada carinhosa para minha mãe.

–– É a Béia, vovô –– Gabriela fala, brincando com seu bigode acinzentado. –– Ela é nossa mãedasta.

–– É! –– Rebeca concorda.

Isabela arqueja com surpresa. Sou o único que a ouço. Olho-a por um instante, notando que ela parece meio emocionada e preenchida de amor. Bom, eu mesmo me sinto assim.

Ele se agacha para colocá-las no chão, e ambas agora disparam feito o Sonic porta afora. Haja energia, cara...

–– Nada de bagunçar as plantas da vovó! –– ordeno.

–– Tá bom, papai! –– Rebeca grita.

–– Mãedrasta, hein? –– Os lábios de meu pai se alargam e ele se aproxima, buscando a mão direita de minha namorada com a sua. –– Muito prazer, querida. Sou Albert. –– E dá um beijo em seu dorso.

#2 - Logo Após Você PartirOnde histórias criam vida. Descubra agora