Vinte e Quatro

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Ele

–– A beleza de vocês é tão grande que ofusca até o brilho da lua! –– digo para minhas filhas quando elas aparecem na sala vindas do quarto vestidas com vestidinhos quase iguais, ambos azuis e com o mesmo modelo, mudando apenas a estampa: um de corações e outro de estrelas. Essa é uma das manias das duas: se espelharem uma na outra na hora de comprar roupas. Eu e Milena até sabemos o gosto delas, e ao que parece Isabela também, já que ela quem deu os vestidos. E, sinceramente, para mim é fofo elas se vestirem de forma parecida quando vão sair mesmo não sendo gêmeas.

É, eu sei. Sou um pai babão mesmo, pode falar.

Os cabelos finos e dourados, e que já cresceram muito nas últimas semanas, se encontram com duas tranças caindo de lado, feitas por minha adorável namorada vinte minutos antes e estão enfeitadas com pontinhos brilhantes.

Isabela, sentada comigo no sofá, me cutuca levemente na barriga com o cotovelo. Seu vestido de hoje é longo, verde escuro e de algodão, larguinho e com amarração na cintura. O cabelo crespo está preso no alto em um coque que ela chama de "abacaxi" e algumas mechas pendem em espirais ao lado das orelhas com brincos de argola. Gostosa.

–– Mandou bem! –– murmura, com um sorriso tão extenso nos lábios com um gloss rosa clarinho que poderia até partir seu belo rosto, o orgulho reluzindo nos olhos castanhos e amendoados, com cílios imensos por conta da maquiagem.

As duas sorriem de uma forma muito acanhada e encantadora por causa do elogio e suas bochechinhas ganham alguns tons rosados. Ai, meu coração.

–– Bigada, papai –– Gabi agradece, levando uma mechinha que escapara da trança para trás da orelha.

–– Obrigada, Bela, nós amamos os vestidos –– Rebeca adiciona, sorrindo de forma tão larga quanto Isabela, que inclina a cabeça ligeiramente para o lado.

–– Vocês estão lindíssimas, parecem até modelos de passarela. Vamos?

–– Vamos! –– gritam as duas, ansiosas para mais uma noite de doces e diversão.

Minha mulher vira-se e me dá um beijo rápido no rosto.

–– Lá pelas onze as trago de volta.

–– Tranquilo –– afirmo, olhando as horas na tela do celular. São 19h10. –– Divirtam-se. –– Encaro as meninas seriamente. –– Nada de exagerar na bebida.

–– Hahaha –– Isabela fala, dando um tapa suave na minha testa. –– Se depender de mim elas vão encher a cara... de suco.

Eu rio. E elas se vão para a "noite das garotas", cheirando a frutas vermelhas e deixando um leve toque de baunilha espiralando pelo ar. Uma mistura diferente que dá certo.

Como eu, Dante, seu irmão e seu primo não somos idiotas, vamos fazer nossa própria noite dos garotos dali pouco tempo. Combinamos de nos encontrar em um playground para todas as idades na cidade vizinha. Bem, eu preferia ir a um bar de strippers, mas não acho que seria uma boa ideia levar Ben, um garoto de nove anos, e Vinícius, um bebê de quase um ano, até lá.

Brincadeira. Estou satisfeito demais com a mulher que tenho, e mesmo que não estivesse jamais a trairia, apenas terminaria, assim como aconteceu com Milena. E fora que Isabela arrancaria minhas bolas se soubesse que fomos num bar de strippers. Vivian e Luíza com certeza a ajudariam.

O celular toca no instante que me ergo do móvel na intenção de tomar um banho e vejo uma foto dos meus velhos estampada na tela. Sento-me de volta. A conversa vai ser longa.

#2 - Logo Após Você PartirOnde histórias criam vida. Descubra agora