A besta de Blackmore

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 Zaila acordou com a luz do raiar do dia em seus olhos, custara a dormir na noite anterior pensando no que faria daqui para frente, nunca tiveram perspectiva de liberdade, quanto mais do que fazer dela. Pensara muito se deveria seguir Nikolai para onde ele estava indo, mas vendo que não tinha muitas opções, adormeceu com essa certeza.

- Achei que você iria ficar com o primeiro turno, mas você não nos acordou - disse Nikolai ao se levantar e perceber que Lazarus ficara sentado no mesmo lugar a noite inteira.
- Não preciso dormir, meramente ficar em repouso descansa meu corpo.

 Zaila olhou para o sol brilhante acima deles, e encarou Nikolai enquanto ele arrumava seus pertences, que ficava tranquilo sob sua luz - Não sou um vampiro puro - respondeu ele percebendo sua nuca sendo fitada - sou um dampiro, meu pai é vampiro e minha mãe humana, não possuo todos os poderes, mas as fraquezas mais incovenientes também não me assolam - "quase todas" pensou consigo.

 O percurso estrada a fora foi bastante silencioso, nenhum dos três era muito de conversar, somente frases objetivas sobre a viagem e o percurso, sendo respondido por sim ou não, deixavam um silêncio desconfortável no ar. Assim foi o dia inteiro, e ao que parecia, Nikolai se enganara na distância até o vilarejo, ou ao menos viajava mais rápido sozinho, havia dito que chegariam ao anoitecer, mas já estava escuro e nada de população alguma, decidiram acampar mais uma noite na mata, Zaila tratou de colher folhas e frutas que poucos sabiam ser comestíveis, Nikolai saiu para caçar sozinho longe da vista dos companheiros, voltando com um pouco de sangue nos lábios, Lazarus que não precisava comer, armou o acampamento e a fogueira.

 Após mais uma noite desconfortável na mata seguiram viagem, chegando no dito vilarejo no início da manhã. Blackmore era um vilarejo pequeno, pouco mais de trezentos habitantes. O povo parecia bastante apático e abatido, por onde passavam não se ouvia muito mais sons do que as oficinas de ferreiros e marceneiros trabalhando, nem mesmo a taverna onde se dirigiram para se estabelecer parecia muito animada. Nikolai e Lazarus haviam combinado no caminho de dividir um quarto para economizar dinheiro, então o dampiro se dirigiu ao taberneiro para pedir dois quartos. O homem era robusto, calvo e com um bigode vistoso, sua barriga saliente encostava no balcão, estranhamente ele tinha alguns cortes leves no rosto e os nós dos dedos machucados.

- O que você quer? - indagou o homem grosseiramente.

- Ah... Dois quartos - respondeu Nikolai surpreso como um homem com aquela simpatia não tenha falido seu negócio - um uma taça de vinho.

- Não vendo vinho para forasteiros - resmungou ele - vocês vem pra cá, causam confusão e vão embora, para você água ou leite.

- Passo, obrigado - disse ele secamente, a moça que servia as mesas passou por ele e corou ao ver Nikolai, um garota bonita para quem ele sorriu de volta.

- Fique longe da minha filha ouviu bem seu merdinha?! - vociferou o taberneiro puxando a gola de Nikolai, este que estava prestes a responder, quando uma grande comoção se instaurou do lado de fora.

 Todos da taverna foram para fora ver o que estava acontecendo, um amontoado de pessoas estava ao redor de alguma coisa entre dois prédios estreitos, os três empurraram algumas pessoas para ver do que se tratava, chegando a frente da multidão, vislumbraram um cadáver de um homem, completamente estraçalhado com sangue para todo lado, moscas já rodavam o cadáver e o cheiro de morte impregnava o ar, que Nikolai levou a mão para segurar a boca.

- Que foi? É forte demais para você? - desdenhou Zaila.

- Não é isso - disse ele fechando os olhos para se concentrar - é o cheiro de sangue.

 Com a balbúrdia que se fazia naquele lugar, logo chegou um homem mais bem vestido com três ou quatro milicianos vestidos com gambesons e portando lanças - muito bem, abram espaço para o burgomestre Grayson averiguar a situação! - gritou um dos milicianos.

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