Aberração costeira

23 4 1
                                    

Os Bastardos andavam pelo pier do cais de Ravenhill em um dia bastante nublado onde uma fina garoa fazia cócegas ao cair sobre o rosto. O cheiro forte de peixe invadia os narizes enquanto o berrar das gaivotas ocupavam os ouvidos. Pescadores e outros operarios trabalhavam sem parar em seus navios, fazendo suas manutenções e vendendo o pescado para os comerciantes. Porém era de se notar que o cais estava lotado com barcos pesqueiros, um fato um tanto incomum para um lugar tão movimentado.

Havia um grupo de marinheiros em uma roda próximo a um dos navios pesqueiros, quase todos enfaixados em algum lugar do corpo, alguns já estavam "melhores", com apenas as cicatrizes expostas. Cicatrizes essas horrendas que deformavam a carne e pareciam ter sido feitas por facas, apesar de estarem sempre agrupadas em cinco como uma grotesca mão.

Zaila estava sob sua própria ilusão que a fazia parecer uma humana comum de forma a evitar olhares indiscretos por sua aparência peculiar. Ela também confeccionada um cajado novo após seu antigo ser sido partido pela bocarra do cão do inferno. Sem muito contato com grandes centros urbanos, ela apenas seguia seus companheiros que se dirigiam para um estaleiro que fazia concertos em navios, onde seguiram para um escritório nos fundos do mesmo.

Bateram na porta e uma voz rouca de dentro sala os mandou entrar, o escritório era pequeno e afetado pela maresia, haviam várias quinquilharias de pesca e objetos náuticos jogados pela sala. Atrás da mesa um homem corpulento de cabelos e suíças grisalhas alisava o bigode com o polegar e indicador ao perguntar - pois não, em que posso ajudá-los?

- Somos a guilda de mercenários Bastardos Sombrios - começou Nikolai com um papel em mãos - foi fixado em nosso quadro de avisos esse contrato assinado pelo contramestre Keller...

- Sou eu mesmo - interrompeu o homem fazendo sinal para se aproximarem - perdão não tenho cadeiras para todos. Enfim, ouvi falar sobre vocês e imaginei que poderiam me ajudar com um problema.

- Seu cartaz falava sobre uma criatura que ataca os barcos pesqueiros - comentou Lazarus.

- Sim, sim. Os pescadores estão apavorados - respondeu o contramestre - descrevem como uma coisa humanoide cheia de escamas, a aberração mais horrenda que já viram na vida. Todos os barcos se recusam a voltar ao mar enquanto essa coisa estiver por aí.

- Sabe mais coisa sobre esse monstro? E os ataques ocorreram em algum lugar específico da costa? - indagou Zaila.

- Sobre a criatura eu sei apenas os que os pescadores me contaram, quanto aos locais... - Keller procurou por um mapa da costa e com pena e tinta começou a marcar no mar vários X - esses são os locais que me relataram os ataques.

- Você é muito bom e se lembrar de locais em que o único ponto de referência é água - falou Lazarus sarcasticamente.

- Sou marinheiro, trabalho com coordenadas - retrucou o contramestre.

- A área é muito ampla para começarmos uma busca - resmungou Nikolai olhando o mapa atentamente - saberia me dizer que momento do dia os ataques ocorreram?

Keller alisou o bigode mais uma vez enquanto pensava olhando para o mapa, começando a apontar para os marcos e se referir a eles apenas como "de manhã" e "de tarde".

- Mas afinal de que isso importa? - questionou o contramestre enquanto Nikolai coçava o queixo pensativo.

- Vamos começar as buscas pela parte sul da costa - concluiu o dampiro, ao olhar em volta e perceber os olhares confusos em relação a como chegara a essa conclusão, explicou - vejam, os ataques ao sul ocorreram de manhã, quanto mais ao norte mais frequentemente ocorrem a tarde. Isso pode indicar que se a criatura possui uma toca ou ninho, ela demora mais tempo para chegar até a parte norte da costa partindo de seu covil, as ocorrências da criatura que são ao sul são majoritariamente matutinas, isso pode indicar que ele não foi longe durante o dia de caça.

Bastardos SombriosOnde histórias criam vida. Descubra agora