Desventurados

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Estavam na estrada tinha mais dois dias desde o acontecimento com o fantasma, Nikolai andava a cavalo ao lado direito da carroça. Percebera que Zaila estava pensativa e silenciosa desde a manhã - O que lhe atormenta tanto a mente Zaila? - indagou ele.

- Ada - respondeu ela - nós decidimos vingar sua morte porque compadecemos de sua dor, consideramos Simas tal como os monstros que nos criaram através da dor e do sofrimento, e não hesitamos em matá-lo, ouso dizer que cada um de nós viu ali a oportunidade de fazer por Ada aquilo que queremos com o meu conciliábulo, seu pai e o culto de Lazarus. Mas no final isto não resolveu nada, apenas causou mais mortes e nenhum descanso para o espírito dela, será que é o mesmo que nossas vinganças pessoais nos trarão?

- Não - negou Nikolai mais para si mesmo do que para Zaila - é diferente, a visão de seu assassino continuava a assombrá-la. Não teremos esse problema.

- Escute - falou Zaila bruscamente, porém baixo - tem algo na mata.

Lazarus também ouvira e se aproximara da carroça com seu cavalo, havia movimento nos arbustos tanto à esquerda da estrada quando a direita. Zaila percebeu que aparentemente ainda não perceberam que foram notados, ela viu que estavam em menor número, Gilbert ao seu lado estava nervoso com a movimentação discreta de seus mercenários, mas ele quase exclamou de susto quanto Zaila levou a mão até a boca e removeu de forma fácil e indolor, um de seus próprios dentes e o largou no chão da carroça, em seguida ela deu sua palavra de comando e a madeira de seu cajado se retesou e endureceu.

Nikolai colocou a mão no cabo de sua espada ainda na bainha, e com palavras dracônicas, a gema de sua lâmina cintilou e o corpo do dampiro começou a se congelar, gerando uma leve névoa frígida e uma camada de gelo sobre sua pele. Subitamente, uma flecha surgiu por entre as árvores na direção de Nikolai, lhe acertando e estilhaçando gelo, mas sem feri-lo. Gilbert se preparava para incitar os cavalos a correrem, mas na última hora precisou forçá-los a parar, pois um maciço tronco foi derrubado no meio da rua por salteadores mais a frente.

Lazarus desceu do cavalo, equipando-se com sua maça e escudo, ele também tocou seu símbolo sagrado pendendo em seu pescoço e com uma prece de proteção, um escudo de energia espectral o envolveu e se tornou invisível. Zaila viu os bandidos surgirem da mata para a estrada, alguns portando cimitarras vieram na direção deles, enquanto outros com bestas ficaram na retaguarda. Eles vestiam roupas pretas e verdes, com peitorais de couro e rostos ocultos por máscaras. Ela apontou seu cajado para o bandido mais próximo e lançou uma palavra de maldição, em seguida um golpe de seu cajado no peito do homem, que além do próprio golpe amplificado pela magia, causou uma mancha necrosada devido a maldição lançada. O salteador tentou revidar contra Zaila, mas a Hexblood desviou da cimitarra de seu adversário.

Nikolai empunhou sua espada com as duas mãos, e com um golpe certeiro e um grito de dor, um dos salteadores caiu inerte ao chão. Outro dos ladrões desferiu um golpe contra Lazarus, atingindo seu escudo invisível, fazendo-o cintilar com o golpe. Outra flecha passou zunindo por Nikolai e foi acertar a carroça, porém o dampiro não escapou da cimitarra de outro salteador que o cercava, destruindo o resto de sua proteção de gelo que estilhaçou, ferindo o atacante, mas também trespassando sua carne.

Lazarus revidou, impregnando sua massa com energia necrótica ao entoar palavras na língua celestial. Investira bastante poder neste golpe, porém ele era lento devido a sua musculatura pútrida, mas outro de seus flashes involuntários surgiu em sua mente, era um cenário de guerra e a sua frente havia um inimigo de outro reino portando um estandarte desconhecido, o cheiro da mata fora substituído pelo odor ferroso do sangue misturado a lama sob seus pés. Em sua memória ele girou magistralmente sua arma, acertando em cheio o peito do inimigo que estava a sua frente. Séculos a frente, o presente golpe de Lazarus foi movido pela memória muscular da cena que seus olhos contemplaram longe dali, o bandido que até então temia enfrentar o morto-vivo pela sua aparência cadavérica, viu suas feições mudarem, seus olhos se arregalarem e ficarem brancos, então ele teve certeza que a morte viera buscá-lo pessoalmente, acertando em cheio um dos ladrões como um sifão de vida, que deixou nada mais do que uma carcaça necrosada ao seus pés.

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