Garota estranha

18 3 0
                                    

O bairro de Ravenhill onde andavam os bastardos era bastante irregular, as estradas tomavam caminhos estranhos se estreitando e alargando em pontos sem sentido. Isso se devia ao crescimento desorganizado daquela parte da cidade, da mesma forma as casas quase se empilhavam uma sobre a outra. A maioria dela tinha dois andares apesar de serem bastante estreitas de forma que somente um ou dois cômodos cabiam em cada andar.

Também haviam bastante comércio por aquela área, nada de guildas ou grandes empreendimentos, mas trabalhos familiares e caseiros como padeiros ou sapateiros. Foi difícil encontrar a casa do dito homem pela descrição do local, "rua dos alfaiates, terceira casa a direita após a bifurcação em Y", entretanto foi justamente pelo fato de ter uma menina no parapeito da janela do segundo piso encarando os transeuntes de maneira macabra é que fizeram relação com o problema sobrenatural do contrato.

A garotinha tinha por volta de sete anos, cabelos cor de palha e olhos azuis, olhos estes adornados por olheiras que se fixaram nos três mercenários que se aproximaram da casa dela. Ao baterem na porta foram recebidos por um homem magro com vestes modestas com marcas do trabalho embaixo do sol em sua pele. Ele os convidou a entrarem, o cômodo de baixo era basicamente a cozinha e uma mesa de jantar rústica. O fogão estava aceso onde era preparado uma cheirosa sopa pela esposa do homem. Ele fez sinal para que se sentassem na mesa e os serviu chá.

- Obrigado por virem enfim - disse o homem com a voz tão vacilante quanto a mão que servia o chá - minha pequena Rose já está assim a dias.

- Pode nos descrever o que vem acontecendo com ela - indagou Zaila, mais uma vez por baixo de sua habitual ilusão.

- Rose sempre foi uma menina curiosa e serelepe, adora brincar até mesmo onde seus colegas tinham medo. Cansei de gritar para que ela saísse de cima de um telhado ou outro - dizia o homem como quem recordava de bons momentos - mas havia um lugar que ela tinha muita vontade de ir, eu a proibi devido ao local ser perigoso, seus colegas tinham medo de ir até lá, mas isso não a impediu. Mais de uma vez eu a peguei saindo daquela casa abandonada e a coloquei de castigo.

- Já até sabemos onde investigar - comentou Nikolai com um leve tom de escárnio.

- Mas de umas semanas para cá ela mudou completamente sua personalidade, ela anda apática e com cara de doente, quando estamos no mesmo espaço que Rose ela apenas fita cada movimento que fazemos como se estudasse cada detalhe. Um pai de um dos amigos dela disse que ela mordeu o braço do garoto por causa de alguma brincadeira que ela perdeu. Um garoto também acabou caindo de um barranco e quebrando um braço, só Rose estava com ele e ela insiste que ele caiu sozinho, mas eu já não sei...

- Podemos primeiro ver a garota, se ela estiver com algum tipo de entidade no corpo talvez eu possa expulsar - comentou o clérigo exibindo seu símbolo sagrado.

O homem assentiu e guiou os três pela escada apertada e ingrime até o andar de cima que dava acesso somente a duas portas, possivelmente o quarto do casal e o da criança. O pai pediu que aguardassem um instante do lado de fora enquanto ele entrava no quarto, um momento após isso os três escutaram ele gritar "Rose?!". Estavam prestes a entrar no quarto quando ele apareceu à porta assustado.

- Ela não está aqui! - disse ele abrindo a outra porta gritando pelo nome da garota somente para voltar para a escada decepcionado - ela sumiu...

- Tem alguma ideia de onde ela possa ter ido? Talvez a casa abandonada que mencionou? - indagou Nikolai enquanto todos desciam.

- Ultimamente não sei mais nada sobre minha filha, não parece ser ela mesma - respondeu o pai aflito - mas duvido que tenha voltado para aquela casa, da última vez que a peguei saindo de lá foi quando a notei estranha pela primeira vez. Ela me disse que nunca mais queria voltar àquele lugar, suas palavras não estavam carregadas de medo, mas de raiva.

Bastardos SombriosOnde histórias criam vida. Descubra agora