Lazarus, o clérigo da morte

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O clérigo da morte ouviu a voz do Cardeal reverberar zangado pela catedral, tendo tempo apenas de se virar antes de ver seu báculo ser apontado contra ele, sentindo um enorme golpe contra si e uma sensação de vertigem ele caiu para trás. Esperou atingir o piso frio e duro da igreja, mas o que sentiu na verdade foi um um gramado denso e macio, olhando para cima não via o teto da catedral de ossos, mas sim um céu azul e límpido assim como a luz ofuscante do sol de tal forma que ele levou a mão a frente do rosto para proteger os olhos, foi quando se deu conta que sua mão estava normal.

Ele se sentou na grama e percebeu que ambas suas mãos estavam normais, sem marcas de putrefação ou necrose, tocou seu rosto e percebeu também que ele estava intacto, sem o habitual rasgo em sua bochecha que tornava seus dentes visíveis como esqueleto, seu nariz estava no lugar de orifícios cadavéricos e passando a mão pela cabeça sentiu sua cabeleira loira no lugar de ralos fios brancos em uma cabeça enrugada. Enquanto tentava entender o que estava havendo, ouviu-se uma voz gritando "papai!", logo a atenção de Lazarus se perdeu para qualquer outra coisa quando viu seu filho Daniel correndo em seu direção e envolvendo seus pequenos braços em seu pescoço. Logo ouviu-se outro grito agudo de felicidade quando Lazarus esticou seu outro braço para que Lucy também o abraçasse enquanto ele afagava seu cabelos.

- Querido, você está bem? - ouviu-se uma doce voz logo atrás de Lazarus e ele se levantou com Lucy nos braços enquanto Daniel ainda o abraçava pela cintura, ele contemplou Abigail linda como sempre, seu cabelo preso a um coque atrás da cabeça levemente soltos após um dia cansativo de trabalho, mas ela mesmo em sua simplicidade era dona de uma beleza radiante, principalmente quando sorria de volta para seu marido pelo simples fato dele ter sorrido para ela.

- Está, está tudo bem meu amor... - respondeu Lazarus - ah e Lucy, quase ia esquecendo. Fiz isso para você.

Lazarus tirou da bolsa uma boneca de pano costurada por ele mesmo, bastante mal feita, mas o suficiente para sua pequena filha que a abraçou com um largo sorriso. E logo aquela batalha na catedral dos ossos foi se tornando um sonho distante na mente de Lazarus.

***

Zaila tinha sua visão começando a retornar enquanto observava com satisfação os últimos instantes de vida em agonia de Ritter que se contorcia de dor no chão sendo consumido por seu ácido, quando a sua ampla visão dos seus Vigias. Nikolai que se alimentava da garganta dilacerada de outro cultista sentiu um puxão em suas vestes, ao se virar com raiva viu que era Zaila o puxado e andando lentamente para trás enquanto olhava aterrorizada para algum lugar, o dampiro seguiu seus olhos para ver que Lazarus empunhava suas armas vindo na direção deles dois, porém uma coroa de ferro retorcido cravejado de espinho surgiu perfurando a cabeça do clérigo. Sua face era sombria, sangue escorria pelo seu rosto enquanto seu olhos pareciam vazios e sem vida como um zumbi qualquer, sem aquele habitual brilho de inteligência que indicava que Lazarus tinha uma alma.

- Me perdoe por isso Lazarus, mas é melhor neutralizar você do que atacá-lo - disse Zaila entoando palavras silvestres para lançar de sua mão uma névoa amarelada e fétida que preencheu o espaço a sua frente envolvendo Lazarus, o golem de carne e grande parte dos cultistas a frente deles, depois se voltando para Nikolai - não é letal, mas incapacitante.

Tosses intensas se ouviram de dentro da névoa nauseante e até mesmo vômitos, mas para temos da druida, duas silhuetas grandes saíram de dentro da névoa: Lazarus e o golem de carne continuaram sua marcha para atacar a druida e o warlock já que ambos não respiravam não foram afetados pela névoa. O golem agitou seu pesados braços contra ambos os dois atingindo-os e lançando com muita dor ao chão e Zaila não conseguiu manter a concentração em sua magia, fazendo a névoa se dissipar e revelar os cultistas ainda passando mal. Instintivamente Nikolai comandou seu servo a atacar o golem de carne, a versão espectral de Klaus se lançou para o toque da morte tocando a carne artificialmente mantida por alquimia e a apodrecendo-a.

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