Segredos

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Um gongo foi soado por detrás do trono e ecoou soturnamente pela catedral sombria, Lazarus empunhou seu escudo e maça, Zaila sussurrou um encanto que fez a madeira do seu cajado se retorcer e fortalecer, a Blackheart foi sacada de sua bainha cantando e Nikolai se pôs em sua habitual pose de duelista quando os três começaram a andar em círculos avaliando seus oponentes. Lazarus ergueu sua maça e apontou-a para Nikolai, proferindo sussurros de como uma jura de morte e em seguida fez o mesmo para Zaila, cânticos começaram a ser entoados de forma baixa e sombria pelos cultistas para aquele ritual de passagem sombria e sangrento, onde o tapete negro seria tingido de vermelho.

***Três horas atrás***

Nikolai andava a esmo pelas ruas de Ravenhill pensando na proposta de Von Klaus, a noite estava nublada e ameaçava chover a qualquer momento, as patrulhas nas ruas eventualmente abordavam Nikolai devido a hora avançada, outras nem mesmo o paravam devido ao seu porte nobre e roupas finas de modo que tinham receio de abordá-lo, mas no fim das contas nada realmente barrou seu caminho.

Não sabia ele se por acaso ou por memória muscular, Nikolai se deu conta que suas pernas o trouxeram de volta a estalagem "Mancha de vinho", onde por tanto tempo os Bastardos Sombrios ficaram hospedados durante sua estadia em Ravenhill. Ao adentrar o recinto se surpreendeu ao ver a taverna estar revirada e destroçada, poucas garrafas de bebidas sobreviveram por detrás do balcão, e algumas coisas pelo chão faziam Nikolai pensar que o nome do local deveria ser mudado para "Mancha de sangue". Aparentemente a taverna foi terrivelmente prejudicada durante a madrugada dos mortos assim como outros prédios que Nikolai observou pelas ruas, o dampiro chamou por alguém, mas somente o silêncio respondeu.

Vendo-se solitário ele deu a volta no balcão e procurou pelas garrafas de vinho que restaram por alguma safra que o agradasse. Colocou a segunda garrafa que o interessou na mesa, pois sua sombra achou por bem derrubar a primeira, procurou por uma taça embaixo do balcão quando ouviu um barulho nos fundos da taverna, aguardando alguns instantes para entender do que se tratava, o barulho de pesados passos revelaram Lazarus que estava sentado no final da taverna que tinha formato de L, longe da vista do balcão e da porta da frente.

Ambos se encararam por um instante sérios, até que por fim Nikolai indagou - o que você faz por aqui?

- O mesmo que você, acho - respondeu o clérigo - cabeça cheia, procurando um lugar tranquilo...

- Sei - resmungou o dampiro tirando duas taças do balcão e pondo sobre a mesa - e porque no respondeu quando eu chamei?

- Fiquei na dúvida se deveria - disse ele, até porque demorou a distinguir de quem era a voz a distância tendo que ouvir entre as vozes de sua cabeça - e não bebo esqueceu? Meu corpo não processa mais nada.

- Vamos testar se o álcool ainda faz efeito, nem que você vomite depois se ele não escorrer até o final por dentro de você - retrucou Nikolai enchendo as duas taças. Lazarus resmungou, mas tirou sua máscara e puxou seu capuz se sentando ao balcão. Nesse momento ouviram um miado de gato, ao se virarem perceberam que pela porta aberta entraram vários gatos pretos.

- É que eu acho que é? - indagou Lazarus, a resposta do dampiro foi um resmungo positivo, seguido pela transformação de um dos gatos em Zaila.

- Eu realmente queria um local solitário, mas parece que não consigo isso em um ambiente urbano - disse Zaila revirando os olhos.

- Como quer ficar sozinha se carrega esses bichos para onde quer que vá?! - retrucou Nikolai tomando um gole de sua taça. A fala de Nikolai atingiu Zaila como um soco, pois por mais que ela sabia que seus Vigias eram percebidos por todos, o fato de Nikolai se referir a eles diretamente fazia Zaila sentir como se seu segredo estivesse exposto. Ela puxou uma cadeira de uma das mesas para perto do balcão e pediu por um copo.

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