Tesouro monstruoso

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- Fogos-fátuo são muito eficientes em atrair viajantes desavisados - ponderou Zaila - não é a toa que sua luz parece tão acalentadora, acho que o tal homem o seguiu. Vamos atrás dele e lembrem-se: eles sempre atraem as vítimas para perigos mortais nos pântanos, olhos abertos.

Apesar de Nikolai em sua forma de névoa seguir o fogo fátuo mais de perto, aparentemente o espírito não reconhecia sua presença e continuava a guiar Zaila que caminhava sobre a lâmina d'água, enquanto Lazarus a seguia com muita dificuldade pelos charcos.

Alguns minutos se passaram enquanto seguiam a soturna luz de intenção maligna, Zaila podia muito bem chegar mais rápido sozinha, entretanto sabia que o perigo adiante poderia ser demais para ela sozinha. Logo ela se deu conta um um som muito perigoso: o silêncio.

Não havia mais sons de cigarras ou mesmo do canto de sapos pela região, somente um silêncio sepulcral quebrado apenas pelo chafurdar de Lazarus a cada passada. Mal houve tempo da druida esquadrinhar os arredores a procura de ameaças, quando ao mesmo tempo que a luz do fogo fátuo sumiu em pleno ar, a própria vegetação a sua frente se ergueu em um vulto de três metros de altura levantando água e urrando um som sobrenatural.

A criatura lembrava vagamente um robusto gorila em sua silhueta, porém era completamente formado por raízes, cipós e podridão do lodo - Monte verderrante! - gritou Zaila - em hipótese alguma usem eletricidade contra ele!

Lazarus não sabia que podia sentir dor, mas alguma coisa atravessou seu peito como uma facada. Procurando a fonte da dor, percebeu que o agora visível fogo fátuo o havia atravessado e lhe causado danos. Zaila disse que eles esperavam as vítimas serem mortas pelo perigo ao qual eles atraem, mas possivelmente o estado semi-morto de Lazarus o atraía.

- Você espírito desleal, procura levar pelo mesmo caminho que você seguiu aqueles que ainda não deveriam ter a sua hora - disse o clérigo puxando seu símbolo sagrado e o erguendo em luz pálida - Myrkul repudia você!

A luz do fogo fátuo tremeluziu vacilante e se afugentou tentando se abrigar longe da influência do clérigo. Lazarus vendo que Zaila estava vulnerável frente ao enorme corpanzil da criatura grotesca, apontou seu símbolo para ela e lhe conjurou um escudo cintilante pálido ao seu redor.

Zaila havia sido pega de surpresa, várias magias diferentes lhe vinham a mente e nenhuma era efetiva. Uma flecha ácida a essa distância respingaria sobre ela, constringir uma criatura de vinhas com vinhas? Que piada, convocar relâmpagos seria seu feitiço ofensivo mais poderoso, mas sabia que a criatura se regenerava com eletricidade. Venenos? Insetos? Nada que fosse realmente efetivo, e logo aquela criatura estava se lançando contra a druida.

A névoa se recompôs na forma humanoide do dampiro atrás do monte verderrante com sua espada em posição de ataque. O brilho do rubi da Blackheart indicava que sua maldição havia sido lançada sobre a criatura monstruosa e dois ataques certeiros arrancaram talhos enormes de massa vegetal do corpanzil.

Apesar das vinhas da criatura se contorcerem em espasmos e um urro sem boca ter ecoado dela, isso não impediu o monstro vegetal de atacar Zaila a sua frente. Ignorando Nikolai que lhe causava grandes mazelas como se a necessidade de aplacar sua primitiva fome fosse mais importante do que sua autopreservação.

O primeiro golpe de seu roliço braço parou no escudo etéreo que Lazarus colocou sobre a druida, mas o segundo golpe ainda mais enfurecido o atravessou e antigiu em cheio a hexblood. Zaila sentiu como se um cavalo tivesse pulado encima dela, cuspindo sangue que lhe escorreu pela boca.

Lazarus tentava forçar passos pesados resistidos pela água até a criatura, sem se aproximar efetivamente dela. Com seu símbolo sagrado ainda em mãos, ele o ergueu e em palavras sacras para o Deus da morte, ele conjurou um raio de energia verde doentia que atingiu em cheio a criatura. Seu corpanzil verde começou a ficar amarelado, enfraquecido pela infecção como Lazarus supusera que funcionaria, pois mesmo que não fosse um ser vivo de verdade ainda era orgânico o suficiente para sofrer adoecido.

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