Por direito de lei

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- Então quer dizer que você usa o idioma dos dragões para conjurar suas magias arcanas? - indagou Lazarus. A carroça rodava ao som dos cascos de cavalos, naquela manhã haviam ultrapassado a fronteira entre os reinos da Rorbêmia com a Normenânia, da qual Ravenhill era capital.

- Sim, os dragões eram criaturas mágicas poderosas, seu idioma é ideal para magia arcana - respondeu Nikolai de cara fechada.

- E porque as vezes você fala em nosso idioma e as vezes em outra língua para conjurar os poderes de seu deus? - dessa vez quem perguntou foi Zaila.

- Dependendo de quanto poder eu preciso reunir, mas não uso a língua dos anjos a toa.

- Você aprendeu a língua dos anjos em um culto da morte?! - questionou Nikolai.

- Os anjos servem aos deuses, naturalmente Myrkul tem os seus - respondeu Lazarus - além da língua celestial, também estudei a língua infernal no templo, ela tem as mesmas raízes linguísticas,uma vez que os diabos descendem dos anjos. Mas não reconheço a língua que você usa Zaila.

- Silvestre, o idioma dos feéricos e outros seres da natureza - respondeu ela.

- Aprendeste ela em seu círculo druídico? - perguntou o clérigo fascinado.

- Na verdade não, com as bruxas. Elas são seres feéricos, não são humanas - explicou a druida.

- Quando vamos chegar ao próximo povoado?! - indagou Nikolai aborrecido com conversas chatas e viagens monótonas - Já faz mais de uma semana que dormimos ao relento!

- Você dá muito valor ao conforto - retrucou Lazarus.

- É fácil falar assim estando morto, ou então se você cresceu como druida dormindo sobre a grama - respondeu o dampiro rispidamente.

- Você tem uma ideia muito errada dos druidas seu sanguessuga - ralhou Zaila que também andava estressada nos últimos dias.

- Companheiros por favor - implorou Gilbert que conduzia a carroça e estava entre os três - o próximo assentamento fica a menos de uma hora daqui, vamos todos acalmar os ânimos.

Apesar do silêncio se instaurar na comitiva, uma tensão se mantinha no ar após a troca de farpas. Logo após uma curva pode-se vislumbrar o assentamento que Gilbert mencionara. Pelo que ele havia dito, o povoado de Greywood era essencialmente madeireiro e possuía algumas famílias de elfos entre os humanos. Mesmo sendo uma cidade pequena, as pessoas pareciam muito atarefadas, lenhadores andavam de um lado para o outro carregando machados ou toras para lá e para cá, o barulho das serrarias podia ser ouvido ao chegar no povoado e serragem era comum entre a lama das ruas.

Cavalgando pela rua principal, procuravam por estábulos para acomodar os cavalos e a carroça, assim como estalagens para pernoitar, porém um tumulto se instaurava no meio da avenida, barrando a passagem. Pararam a carroça e Nikolai fez sinal para que ficassem para trás enquanto ele averiguava a situação.

- Devolva o maldito colar orelhudo! - gritava uma voz rouca.

- Vá embora meio homem, antes que arrume confusão - retrucou uma voz mansa.

Nikokai montado em seu cavalo, conseguia ver por cima da cabeça dos curiosos, um grupo de elfos portando arcos, facas e foices discutia acaloradamente com uma turma de anões carregando machados, marretas e escudos de madeira. A primeira vista os dois grupos armados poderiam parecer intimidadores, mas julgar que suas armas não passavam de instrumentos de trabalho e suas vestes eram de camponeses, Nikolai percebeu que não se tratava de um conflito armado propriamente dito.

Avançando e afastando as pessoas com seu cavalo, Nikolai chegou até o tumulto - o que está acontecendo aqui?

- Fique fora disso engomadinho! - gritou o líder dos anões - eu vou acabar com a raça deste elfo ladrão!

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