Boneca maldita

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- O comportamento que você mencionou realmente parece atípico de um entidade que planeje tomar um corpo, talvez seja melhor procurarmos mais informações antes de destruir a boneca - comentou por fim Lazarus, seguido de um aceno de cabeça de Zaila e um suspiro de Nikolai.

- Bem, este cômodo bem como o dos fundos e da esquerda parecem pertencer a parte da loja e dos negócios do artesão - disse o dampiro - porém a porta da direita leva a uma sala de estar, após ela também vi um corredor que não vasculhei porque voltei ao ouvir Zaila gritar. Lá parece ter sido a parte de habitação dos antigos donos, podemos continuar a nossa busca.

O corredor que Nikolai mencionou seguia até uma sala de jantar e a uma cozinha. Paralelo ao corredor havia uma escada que levava para o andar de cima. Lazarus fez sinal que ele vasculharia os cômodos de baixo enquanto Nikolai e Zaila subiriam as escadas. Ambos os dois fizeram o que ele disse com muito cuidado, pois a escada além de ranger dobrava suas tábuas a cada passo.

A escadaria dava no meio de um corredor estreito, porém longo no andar de cima. O soalho do andar de cima possuía um visível desnível, de forma que algumas portas pendiam abertas pelo declive ao longo do andar. Zaila fez sinal que exploraria a direção sul do corredor enquanto Nikolai assentiu, ficando com o lado norte. Conforme o dampiro abria porta após porta, encontrava quartos vazios em sua maioria que seguiam um padrão semelhante: uma cama macia e coberta de poeira, um baú vazio aos pés da mesma e uma penteadeira cujo espelho tão coberto de sujeira que seu reflexo não passava de um vulto.

Ao que parecia todos os três cômodos que abrira se traravam de quartos de hóspedes que não estavam em uso quando a casa foi abandonada, pois não haviam pertences pessoais. Entretanto a quarta porta que abrira se tratava de um local mais decorado com brinquedos infantis, roupa de cama posta na mesma, apesar de empoeirada, e para seu receio a dita boneca de porcelana possuída.

Ela estava em pé na penteadeira ao lado de escovas de cabelo velhas terminando de escrever alguma coisa na sujeira do espelho. Ela parou quase que imediatamente quando Nikolai a fitou, um de seus olhos de boneca já quebrado e seu semblante incapaz de expressar algo diferente da pintura feita em seu rosto. Nikolai puxou levemente a espada da bainha, o que fez a boneca dar um passo vacilante para trás.

O dampiro começou a andar para dentro do quarto, circulando a posição da boneca até que percebeu o que ela havia escrito na sujeira do espelho: "ajude-me". Fazendo uma careta ele relutante embainhou a espada, mas não soltou seu cabo - Zaila! - gritou Nikolai, esta veio a passos largos até a porta e quanto estava prestes a perguntar o que foi, a druida fitou a boneca com receio.

Um silêncio se fez enquanto os três se entreolhavam, os olhos de Zaila se demoravam sobre a boneca e em seguida para a palavra escrita no espelho, ela indagou a Nikolai - o que faremos? - antes que ele pudesse responder a boneca se mexeu fazendo uma espécie de mímica com suas pequenas mãos, tentando sinalizar algum tipo de objeto fino e comprido.

Nikolai ponderou por um instante sobre o que ela estava querendo dizer, até que lembrou-se do objeto encontrado por Lazarus. Tirou enfim a mão do cabo da espada para buscar dentro da sacola de couro a agulha de crochê feita de prata que encontraram. A boneca ficou eufórica ao ver o objeto, o que fez ambos os bastardos se entreolharem - entregamos para ela? - indagou a druida.

- Bem, ela escreveu "ajude-me" - disse Nikolai dando de ombros - ela não escreveu "vão embora" ou "assassinato". Acho que isso é um bom sinal.

Nikolai se aproximou apreensivo da boneca de porcelana e lhe ofereceu a agulha, esta a pegou com as duas mãos e fez sinal para que o dampiro esticasse sua mão aberta. Ele suspirou fundo com aquela situação que parecia ser uma péssima ideia e olhou para Zaila - se algo acontecer comigo...

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