— Eu já me decidi — disse Zaila, todos prestaram atenção quando Zaila concordou com Lazarus sobre tomar a mercadoria de volta.
— Ah tudo bem — disse o mendigo vendo que o semblante daqueles três que já eram estranhos antes, se tornarem soturnos subitamente — eu vou-me indo, vejo que vocês tem muito a fazer.
Dito isso, o velho se levantou e com seus olhos e sorriso maliciosos, tomou seu rumo. Zaila estendeu sua mão e com uma lufada de névoa e penas negras, o corvo conjurado se materializou em sua mão, o animal grasnou e levantou voo, sua senhora fechou os olhos e passou a enxergar pelos do animal. Vendo a acampamento do alto, ela voou mais alto até ficar acima da copa das árvores, planando em círculos procurando por qualquer sinal de uma cachoeira, terminando por encontrar o meandro de um rio que fluía na direção contrária da estrada, no mesmo rumo em que os saqueadores foram vistos fugindo.
— A leste da estrada há um rio — disse Zaila reabrindo os olhos — vamos seguí-lo e encontraremos o que procuramos.
Apagaram o fogo e seguiram as instruções de Zaila, andando mata a dentro. O caminho tivera que ser percorrido a pé, uma vez que os salteadores não deixaram cavalo algum em seu assalto, porém isso não impediu o trio determinado a recuperar o que fora roubado. Encontraram a curva do rio que fluía largo e com pouco barulho, Nikolai e Lazarus logo atrás de Zaila que guiava-os pelos terrenos selvagens das matas escuras, vez ou outra parando para ver aos olhos de seu corvo que sobrevoava o grupo em círculos.
— Pensei que talvez você não viesse — comentou Lazarus a certa altura da caminhada.
— E porque não acompanharia vocês? — respondeu o dampiro confuso.
— Você foi contra retomarmos tudo de volta dos refugiados sem deixar nada para eles, por algum motivo parece ser contra seus princípios, então supus que seguiria para o assentamento encontrar com Gilbert até voltarmos.
— Como você disse lá atrás, é o nosso trabalho, então temos que recuperar a carga — disse Nikolai desconversando.
— Sei.... — resmungou Lazarus cético.
— E também.... Nós temos que permanecer unidos — desabafou Nikolai — nós três só podemos contar com nós mesmos, mesmo não gostando do que vamos fazer eu me sinto na obrigação de ajudá-los, se começarmos a brigar e a discutir entre nós, vamos perder os únicos aliados confiáveis. As vezes podemos não concordar com nossos companheiros, mas precisamos saber o que vale mais a pena, convencer a todos de que você está certo e arriscar um cisma, ou ceder quando é importante para manter o grupo coeso.
— Você fala com propriedade — admitiu Lazarus.
— Eu fui treinado desde jovem como parte da nobreza para ser um líder militar — respondeu ele se empertigando.
— Jura? Pois o que você me descreveu me pareceu mais com amigos do que vassalos — caçoou o clérigo.
— Não diga bobagens — retrucou Nikolai — onde nós três, criaturas sombrias e malditas, vamos achar outros aliados valorosos para atingir nossos objetivos e nos manter seguros?
— Pessoal! — gritou Zaila lá da frente — achei alguma coisa, lá na frente posso ouvir o barulho de uma queda d'água.
Os três sem demora avançaram rio abaixo, logo ouvindo também o rugido da cachoeira ecoando pela mata. Decidiram por se embrenhar mais na mata agora que podiam se guiar pela audição, dando a volta no terreno acidentado e rochoso, descendo com certa dificuldade por muitas pedras soltas, chegaram às margens de um lago. Ocultos pela mata fechada daquele lado, puderam vislumbrar a queda d'água do outro lado do lago, onde era possível perceber um movimento sutil: um sentinela em vestes verdes e negras montava guarda em frente a uma abertura ao lado da cachoeira, oculta parcialmente pelo espirro da água.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Bastardos Sombrios
TerrorEm uma terra sombria povoada por seres malignos, existem humildes povoados que procuram viver em normalidade, para isso, pagam mercenários e caçadores para matar monstros, dessa maneira mantendo os bastiões da sociedade humana a salvo. Dentre nobres...