Nas sombras da noite

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- Acho que agora as coisas começam a fazer sentido - disse Lazarus para si mesmo, logo que a porta do necrotério se abriu e Nikolai e Zaila adentraram.

- Você tem ideia do que se trata? - indagou o médico legista.

- Não achamos muito mais coisa do que nos foi informado - disse Zaila se aproximando.

- Mas eu sim - respondeu Lazarus, e demonstrou sua descoberta com os cadáveres que não emitiam sombra - eu tenho certeza que as criaturas que enfrentamos são literalmente Sombras, um tipo de morto-vivo.

- Criaturas? - indagou Nikolai receoso pelo clérigo se referir a elas no plural.

- Quando uma sombra mata alguém, em algumas horas a sombra dessa pessoa pode se levantar como uma nova criatura, é possível que possamos estar lidando com várias. Quatro vítimas que geraram sombras além da original.

- E qual a melhor arma contra elas? - indagou Zaila.

- Luz - respondeu o clérigo, Nikolai resmungou ironicamente. Lazarus ao lembrar que os poderes do dampiro se baseavam em sombras completou - são resistentes a maioria das coisas por não serem completamente corpóreos, mas sua Blackheart com certeza irá feri-las.

- Não se preocupe meu bom carola, de sombras eu entendo o suficiente - respondeu Nikolai arrogante.

- Como iremos achá-las e destruí-las? - ponderou a druida.

- Agora que você mencionou as criaturas, alguns outros detalhes fazem mais sentido - comentou o dampiro - testemunhas só relataram ter visto os vultos, era tudo que havia para ver....

- As vítimas também relataram ter visto apenas as sombras do assassino - interrompeu Lazarus apontando para os cadáveres.

- Certo... - disse Nikolai confuso - mas também agora que visitamos os lugares, percebi que se trata de vielas apertadas e escuras. Todas na parte pobre da cidade, mas não aqui na periferia do lado de fora dos muros. Isso porque aqui há apenas casebres, sem construções grandes para as sombras circularem.... Bem, nas sombras.

- Literalmente o bairro Eastside e arredores, acho que essas coisas não devem ir muito longe - concluiu Zaila - se nós mesmos circularmos por aquelas vielas escuras sozinhos ao alcance de um grito uns dos outros, podemos pegá-las.

***

Decidiram fazer a ronda na noite em que seguia o padrão dos ataques das sombras. Nesse meio tempo os Bastardos decidiram que rotas eles fariam no bairro em questão de forma que fosse fácil de chamar uns pelos outros se necessário, e assim o fizeram utilizando a si mesmos como iscas pelas vielas de Eastside.

Lazarus não precisava dormir, mas isso não impedia as horas de serem monótonas, ainda mais quando os espíritos seguiam sussurrando em seus ouvidos. Já Nikolai sentia o cansaço começar a afetá-lo, principalmente pela falta de movimentação nas ruas noturnas. De qualquer forma não sentia sono, pois sua mente continuava a divagar sobre os perigos de sua própria sombra, e essa história de sombras vivas que se libertam de seus donos não serviu para acalmar seu espírito.

Zaila por sua vez sentia sono lhe afligir com mais força, apesar de tudo usava um familiar corvo para monitorar as vielas do alto olhando através dos olhos dele. Do alto ela via seu próprio corpo sentada no chão com os misteriosos vigias continuando a fitá-la. Porém subitamente ela viu outro movimento não humano, algo quase serpenteante e veloz, algo que ia na direção de Lazarus. O corvo pousou na quina do telhado e começou a grasnar e a bater asas para chamar a atenção do clérigo que viu o vulto sobrenatural se aproximando dele, erguendo seu escudo e maça para o combate.

- Venha criatura morta-viva, Myrkul não lhe deu permissão para andar sobre a terra - ameaçou Lazarus, a sombra não parecia entender suas palavras, porém investiu com suas mãos incorpóreas. O clérigo ergueu seu escudo mas a anatomia dos braços da sombra se dobrou fazendo-o agarrar seu pescoço com um toque sufocante que drenou parte de sua força vital.

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