Por uma hora

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***Uma hora atrás***

- Você quer que eu faça o que?! - indagou Zaila incrédula.

- Quero que use seus poderes de ilusão para se disfarçar de Rupert e tocar em seu lugar - repetiu Nikolai - meu plano é o seguinte: como sinto que tem o toque ardiloso de um diabo nessa súbita aparição de público, quero trocar Rupert de evento para que ele vá onde não há público e você toque aqui no lugar dele.

- Mas eu não sei tocar alaúde! - praguejou a druida.

- Eu já vi uma flauta nos seus pertences, ninguém vai se importar - comentou Lazarus.

- Obrigada pela ajuda - retrucou ironicamente Zaila - e se eu concordar com esse plano maluco, e o resto?

- Lazarus fica com Rupert para garantir a segurança dele - continuou o dampiro - continue mantendo sua magia de proteção sobre nosso bardo. Eu ficarei aqui e cuidarei de sua segurança caso os cães venham aqui. Agora vamos, pois não temos tempo a perder.

Zaila foi buscar sua flauta a muito contragosto, em seu quarto procurou em sua sacola de couro sem fundo pelo instrumento. Enquanto procurava, os estranhos espíritos em forma de animais negros se manifestaram para observá-la em forma de ratos - Ora pelo amor de Iggwilv! Já não basta toda essa situação desesperadora! Ainda tenho que lidar com seus olhares perturbadores o dia inteiro! Nunca vou conseguir tocar a flauta com vocês me vigiando o tempo inteiro! VÃO EMBORA! - gritou ela quase chorando de raiva. E para sua surpresa, os espíritos simplesmente viraram as costas e se foram.

Zaila estava incrédula, será que finalmente estava livre? Será que era apenas isso o tempo inteiro? A druida quase chorou de alegria, podia finalmente estar sozinha e isso lhe trazia imenso alívio. Se sentia até mesmo ligeiramente mais confiante para seguir o plano de Nikolai, usou sua magia de ilusão para se parecer com Rupert e então desceu para o palco.

Com muito nervosismo ela tocou aquilo que sabia, logo vieram as músicas pedidas e com muito empenho ela tocou do que se lembrava. Tudo que ela queria é que a apresentação acabasse logo, tendo a duração de uma hora, cada instante parecia arrastar no palco. Em determinado momento viu Nikolai passar pelo palco a passos largos e lhe olhar rapidamente com nervosismo. Ela procurou seguir com o plano até o final, mesmo ouvindo os barulhos estranhos vindo dos fundos da taverna. Ela tinha que seguir o plano até o final ou poderia não funcionar.

Com grande alívio ela tocou sua última música e uma salva de palmas encerrou sua apresentação. Zaila desceu do palco e pegou cajado que deixou ao lado para necessidade, porém para seu desgosto viu que pequenos ratos negros de olhos brancos já a fitavam novamente pelos cantos. "Então é isso?" Pensou ela, "se eu me humilhar para vocês, me dão uma hora de liberdade apenas?". Porém ela não tinha tempo para isso, ouviu os gritos de Nikolai vindos de fora e correu para ver uma das piores imagens da sua vida.

***

Lazarus dera sorte, tinha uma apresentação exclusiva do bardo mais famoso do reino. Estava sentado sozinho na enorme taverna "Taça dourada" somente com o taverneiro no balcão e Rupert no palco como companhia. O pacto de Lexaver estava acima da mesa em frente ao clérigo para que ele procurasse por qualquer alteração durante a apresentação.

A reputação forjada de Rupert era verdade, sua voz era melodiosa e seu alaúde era tocado com maestria. Mesmo assim Lazarus ficava preocupado com os arredores e frequentemente se levantava para olhar as janelas e ocasionalmente renovar sua proteção sobre o bardo no palco. Para Lazarus qualquer som ambiente era bem vindo, uma vez que suprimia momentaneamente os sons instigantes dos espíritos que o perseguiam sussurrando e cacarejando em seus ouvidos, o que dirá então de verdadeira boa música.

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