Espíritos na estrada

29 5 4
                                    

A estrada em direção a Ravenhill estava tranquila até então, viajaram um dia e meio sem grandes problemas ou perturbações. Gilbert havia conseguido dois cavalos para Lazarus e Nikolai, e para economizar, Zaila viajou ao lado do mercador na carroça. Ele pediu que ela acompanhasse pois era a que menos o assustava, apesar de que depois de um certo tempo conversando com ela na estrada, a mulher estranha também passou a colocar certo temor em Gilbert.

Naquela manhã passaram por uma grande casa antiga no alto da colina, estava mal cuidada, mas evidentemente habitada. Após ela a floresta passou a ficar mais fechada, as copas das árvores lançavam grandes sombras sobre a estrada, estranhamente começou a ficar mais frio, primeiro Zaila pensou que fosse pelo fato de terem adentrado a mata sombreada, mas o frio se mostrou mais intenso do que a simples ausência de luz solar, quando ao respirar ela lançou uma baforada de fumaça gélida. Sentia seu corpo arrepiar e ao indagar seus companheiros, estes responderam que também sentiram o estranho frio. Algo parecido com uma voz soou ao vento, os cavalos estacaram e ficaram agitados, o som aumentou e a voz ficou evidente, algo estava naquela floresta, o trio sacou suas armas e desceram dos cavalos apavorados, prendendo-os para que não fugissem.

A voz continuou a chamar e logo perceberam que era um nome ao vento, mas só quando em meio as árvores um brilho espectral surgiu, entenderam que a voz feminina gritava "Simas!". Atravessando as árvores com a mão de unhas cumpridas estendidas para eles, as vestes e cabelos esvoaçantes dançavam no ar quando o fantasma vinha em sua direção, sua face era puro ódio e cicatrizes que pareciam lágrimas corriam no rosto da sinistra mulher.

- Oh céus! Afastem esse espectro! - gritou Gilbert, mais desesperado que os cavalos.

- Na verdade é um fantasma - resmungou Lazarus sacando seu símbolo sagrado e enrolando-o no punho - Mas não é como se eu tivesse tempo de lhe explicar a diferença para você agora.

De fato, Nikolai já se prontificara e brandindo sua espada no ar, lançou uma rajada mística contra o fantasma, sendo um golpe energético, sabia que a magia acertaria o corpo efêmero do espírito, o fantasma da mulher recebeu o golpe sendo refreada pela magia, olhou para ser atacante, estendendo a mão para o dampiro e repetindo "Simas!". Lazarus então ergueu sua mão enrolada na corrente de seu símbolo de Myrkul e ordenou:

- Espírito descarnado! Tu que passastes pela mão de Myrkul e retornastes sem permissão! Eu ordeno que deixe este local em nome do senhor da morte! - ao proferir estas palavras, o crânio branco em alto relevo sobre o triângulo negro começou a emitir uma luz branca e espectral, luz esta que torceu a face do fantasma em um esgar de horror e medo. Erguendo suas mãos sob a cabeça ela foi obrigada a se afastar e a ir embora.

- O... Ótimo... Muito bom mesmo, agora vamos embora! - gaguejou Gilbert.

- Ela não foi destruída, apenas afastada - falou Lazarus recolhendo seu símbolo sagrado - devíamos fazer alguma coisa a respeito.

- Sim! Como sair daqui agora mesmo - retrucou Gilbert.

- Pense bem meu velho - interviu Nikolai - este fantasma parece assombrar esta estrada. Mais viajantes desavisados podem acabar sendo mortos por este espírito, além do mais você pode eventualmente ter que voltar por esta estrada, e pode não estar acompanhado de nós para salvar-te novamente.

- Está bem! mas vão até lá e destruam este fantasma logo, e não me deixem sozinho! - resmungou o mercador se dando por vencido.

- Você não pode simplesmente destruir um fantasma, isso você se faz com um espectro que já não tem ligações e perdeu sua identidade - explicou Lazarus - um fantasma está preso a algum objeto ou assunto inacabado, precisamos dar paz ao fantasma para que ele possa ascender.

Bastardos SombriosOnde histórias criam vida. Descubra agora