Acerto de contas

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Nikolai destrancava a segunda porta de ferro que dava para a adega subterrânea com as chaves que Alister o entregara com certa relutância e lágrimas silenciosas. A porta se abriu com um rangido, ele olhou para trás e seus companheiros acenaram com a cabeça para que todos os três seguissem em frente de armas em riste, trancando a porta atrás de si.

O cômodo era sombrio com pouca iluminação artificial, os móveis de um quarto espalhados pelo local amplo, uma vez que as estantes de vinho foram removidas, criando este quarto improvisado com grande área aberta. Ao fundo estava uma cama de casal com dossel, onde era possível ver uma bela dama de cabelos loiros com um vestido vermelho e negro dormindo profundamente.

Nikolai fez sinal para que parassem de andar e ele seguisse sozinho furtivamente para tentar surpreender o monstro - Alister, é você meu querido? - indagou a voz melodiosa da mulher ainda de olhos fechados. Nikolai nada respondeu e continuou a andar, subitamente a mulher se levantou de um salto e se pôs de pé na cama - é você meu amor?! - indagou ele novamente com agressividade, exibindo seus olhos vermelhos e presas ameaçadoras através do véu do dossel.

- Preparem-se - alertou Nikolai, Charlotte se pôs em posição de ataque como um animal selvagem, fazendo um barulho perturbador entre um rosnado e um chiado.

Antes que pudessem fazer algo, Charlotte pulou com grande agilidade rasgando o véu da mesma maneira que suas garras rasgaram a carne de Zaila tão profundamente quando cortes de espada. A druida mal teve tempo de exclamar de dor quando a vampira já a agarrava por trás e expunha sua garganta para cravar suas presas.

- Afaste-se criatura vil! Pelo poder investido a mim por Myrkul senhor da morte! - ordenou Lazarus levantando seu símbolo sagrado. Charlotte arregalou os olhos quando o artefato brilhou de forma espectral, fugindo e indo se ocultar atrás de um divã tal qual uma besta acuada.

- Você teme o sol vadia? - provocou Zaila, estancando o sangue com um mão e agitando o seu cajado com a outra - farei você temer a lua também! - e assim uma coluna de luz lunar irrompeu do teto da adega bem acima de Charlotte. Ela urrou de dor de forma gutural quando aquela luz queimou sua pele tal qual o próprio sol.

Nikolai irado pelo ferimento de Zaila, aponta sua lâmina e jura sua maldição sobre a vampira, dando a volta no divã e descendo sua espada sombria como um carrasco para cima dela, a Blackheart foi certeira em seu desejo de provar sangue de vampiro pela primeira vez. Charlotte ferida, em seus instintos de predador pulou encima de Nikolai, agarrando-o, arrastando ele para longe da luz e cravando suas presas no pescoço do dampiro e regenerando parte de suas queimaduras.

- Largue-o meretriz monstruosa! - ordenou Lazarus tentando atacar Charlotte, mas ela usou Nikolai como escudo humano e o clérigo foi obrigado a refrear seu golpe, ele então recuou alguns passos e sussurrando para seu pingente ele conjurou um escudo de energia cintilante para o dampiro, para ajudá-lo contra futuras mordidas.

- Não fomos claros o suficiente?! Largue-o! - gritou Zaila irada, agitando o cajado e movendo a coluna de luz para cima da vampira mais uma vez para torrar-lhe a pele.

- Lidei com seu tipo a vida toda, conheço bem os seus medos - alertou Nikolai, dando ênfase mágica na palavra medo, quando as sombras passaram a envolver ambos os seres vampíricos, porém enquanto Nikolai se exaltava, Charlotte o largava e fugia para um canto, assustada com a imponência do dampiro.

Lazarus tentou um ataque cego quando ela passou correndo por ele, mas seus músculos envelhecidos não foram suficientes para a velocidade sobrenatural dela. Ele então percebeu, ao som dos escárnios das vozes dos mortos, que não era uma batalha para ele lutar de frente. Deixando seu orgulho de lado, ele se pos para trás de seus companheiros e levou a mão até o ferimento de Zaila, curando em luz branca a ferida quase por completo.

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