Coágulo mortal

7 1 0
                                    

Lazarus amaldiçoou sua própria sorte, não poderia matar queles homens que lutaram bravamente para defender sua cidade, inimigos em comum do clérigo e que talvez ele próprio não teria conseguido vencer se não fosse a guarda da cidade enfrentando os mesmos inimigos. De qualquer jeito eles eram inocentes e estavam cumprindo com seu dever, Lazarus portava a indumentária do culto da morte e não podia culpá-los por confundirem-no com a horda de mortos vivos que atacaram a cidade.

Lazarus ficou parado onde estava quando os guardas o avistaram, enquanto eles avançavam lentamente em direção dele com espadas erguidas calculando os riscos, o clérigo notou vielas laterais que poderiam servir como rota de fuga, apesar dele não saber onde suas curvas irregulares iriam parar ou mesmo se poderiam ser um beco sem saída. Ele correu em direção a uma dessas passagens e escutou os guardas correndo atrás dele, entretanto de qualquer jeito seria difícil despistar os guardas com seu enorme peso e dificuldade de locomoção. Porém ao fazer a segunda curva pelas vielas ele notou várias tábuas empilhadas atrás de uma casa, golpeando elas na base fez com que todas caíssem no caminho atrás dele, muitas delas atravessadas de forma que impedia a passagem dos guardas que ficaram a praguejar quando o clérigo sumiu atrás de outra curva das vielas.

***

Zaila seguia o mais rápido possível os corpos que eram tragados pelas ruas até o centro da cidade, temendo que tipo de magia profana iria encontrar e se teria forças para vencer sozinha. Absorta em seus pensamentos ela quase esbarrou de cara com um conhecido e irritante dampiro, expressão de descontentamento foi mútua ao se toparem e tanto Zaila quanto Nikolai resmungaram ao mesmo tempo.

- O que você está fazendo aqui?! - indagou Zaila com desgosto.

- Digamos que isso não é algo que dá para ignorar não é mesmo?! - retrucou ele de braços abertos indicando o evento macabro, ele deu uma inspirada funda e indagou - que cheiro estranho é esse em você?

- Não temos tempo a perder discutindo, cada segundo pode custar caro - disse Zaila, pois quase não via mais corpos sendo tragados, e normalmente eles já estavam sendo puxados a uma velocidade mais alta do que ela podia correr - o que quer que esteja acontecendo, está acontecendo agora.

Os dois correram juntos em direção ao centro da cidade onde havia a praça dos mercadores, a apesar de estarem zangados um com o outro, ambos estavam felizes por não terem que enfrentar esse desafio sozinhos, no momento a necessidade de sobrevivência era mais alta que seus orgulhos. Correndo em direção do olho do furacão, Zaila subitamente estacou quando algo no chão prendeu sua atenção.

- O que é isso?! - indagou Nikolai incrédulo - achei que não tínhamos tempo a perder.

- Sei que pode ser muito pedir isso dado problemas recentes - disse Zaila se abaixando para ajuntar algo do chão - mas confie em mim.

Correndo pela alameda que dava para a praça dos mercadores já era possível vislumbrar o vulto de algo grande se erguendo na escuridão. Ao chegarem na orla da praça contemplaram com horror uma terrível forma monstruosa vagamente humanoide se formando conforme os corpos de zumbis e aldeões mortos eram arrastados para o centro e fundidos em uma enorme massa de carne que despertava os cadáveres que eram fudidos a ele, com rostos em esgares de dor e membros sacudindo debilmente, a coisa era meramente um torso formado por essa massa de carne parcialmente fundida com dois membros que lembravam braços enquanto a parte de baixo era sustentado por uma base mais larga de carne onde os corpos ainda se juntavam em uma espécie de coágulo de carne gigantesca atingindo um altura maior que as casas ao redor da praça, lançando uma sombra amedrontadora sobre os bastardos.

Zaila ainda sentia-se muito ferida, sabia que meramente um golpe esmagador daquela aberração de carne morta poderia exterminá-la, entretanto ela ainda possuía uma carta na manga... Ou melhor, um pergaminho. Retirando o pergaminho de magia da sacola de Eward, e depositando no chão as três aranhas que coletou pelo caminho, ela desenrolou o pergaminho e começou a ler as palavras na língua silvestre - Vocês que rastejam pelo mundo muito abaixo dos gigantes que somos para vocês, ergam-se sobre nossas cabeças e tornem-se vocês os titãs sobre o meu comando!

Bastardos SombriosOnde histórias criam vida. Descubra agora